Diversidade
Brasil bate recorde com 225 candidaturas LGBT+ eleitas nas municipais de 2024
Apesar do avanço de 130%, o total de municípios que elegeram representantes LGBT+ ainda é inferior a 4%


O Brasil registrou recorde de candidaturas LGBT+ eleitas nas eleições municipais de 2024. Segundo um levantamento realizado pelo instituto VoteLGBT, 225 pessoas autoidentificadas conquistaram cargos, incluindo três prefeituras.
O número de candidaturas eleitas representa um aumento de 130% em relação ao levantamento anterior, de 2020. Do total, 26 cargos foram conquistados por pessoas trans, como Amanda Paschoal (SP), a quinta vereadora mais votada na cidade de São Paulo.
No total, 190 municípios em 22 estados elegeram pessoas LGBT+, três delas para os cargos de prefeito nos municípios de Alpinópolis (MG), Santa Bárbara do Tegúrio (MG), ambos homens cis gays, e em Já Bonito (BA), que terá um homem cis assexual.
Embora o Brasil tenha batido recorde na eleição de candidaturas LGBT+, a representação da sigla nos municípios ainda é extremamente baixa em comparação ao valor total. Com 5570 municípios, o total de candidaturas eleitas representa aproximadamente 3,5% do território nacional.
O VoteLGBT+ considera os dados de autoidentificação coletados pelo Tribunal Superior Eleitoral no momento em que os candidatos são inscritos para concorrer às eleições. Esta é a primeira eleição em que a possibilidade de autoidentificação foi viabilizada oficialmente pelo sistema do TSE.
Evorah Cardoso, coordenadora de pesquisa do VoteLGBT, destaca que a inclusão da autoidentificação nas informações coletadas pelo TSE pode representar uma grande mudança na forma como enxergamos o cenário político brasileiro. “Hoje a Justiça Eleitoral passa a coletar oficialmente dados sobre LGBT+, inclusive antes do próprio Censo realizar a inclusão dessas informações. Com isso, estamos descobrindo candidaturas LGBTs que não sabíamos da existência, anteriormente esse levantamento era feito exclusivamente pela sociedade civil e não conseguíamos alcançar a mesma capilaridade do TSE”, afirma.
Evorah destaca a necessidade de analisar as candidaturas eleitas não somente como novas candidaturas, mas também como candidatos com trajetórias políticas que não foram sinalizadas em levantamentos não oficiais. A pesquisadora também reforça o caráter de fluidez da sexualidade e gênero como fatores a serem analisados em futuras eleições.
“Identidade de gênero e sexualidade não são fixas e também envolvem um processo de descoberta e debate social. Podemos fazer um paralelo com a questão racial e nas mudanças de candidaturas que antes se declaravam brancas e hoje sinalizam como pardas. Quanto mais avançarmos nesse debate, quanto menos pessoas estejam sujeitas a violência e exclusão, essa mudança refletirá no aumento da autodeclaração”, conclui.
Ao analisar a divisão das candidaturas eleitas por partidos, o campo progressista concentra a maior parte das cadeiras, com destaque para o PT com o maior número de candidatos eleitos, sendo 61. O partido é seguido pelo PSD e PSOL, com 26 e 18 respectivamente. Partidos considerados de direita também elegeram candidatos pertencentes à sigla, com 46 candidaturas eleitas, o equivalente a 20,4% do total.
Número de candidaturas LGBT+ eleitas por partido nas eleições municipais de 2024. Fonte: VoteLGBT+
A respeito da divisão das candidaturas entre partidos do campo progressista, considerados de centro e de direita, a pesquisadora reforça necessidade de compreender que as eleições municipais têm configurações distintas ao analisar cenários eleitorais em capitais e cidades interioranas. “Uma candidatura LGBT em uma cidade pequena precisa fazer escolhas muitos difíceis. Temos que olhar para o fato de que mesmo os partidos de esquerda em cidades pequenas não necessariamente se comportam como o esperado, existe um descolamento ideológico muito grande entre os ideais partidários e o que pregam os componentes do partido nessas cidades mais afastadas”, reforça. Evorah também destaca a viabilidade política como um fator importante para candidaturas LGBTs fora das capitais, uma vez que historicamente a capilaridade dos partidos de esquerda não compete com a projeção de partidos de centro e direita em locais mais afastados.
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