Política
Boulos responde a ‘sumiço’ de Nunes com debate popular nas ruas de São Paulo
O evento marca o início da reta final de campanha, com o psolista – ainda distante de Nunes nas pesquisas – buscando uma virada


Na manhã desta sexta-feira, 18, o candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, fez uma atividade de campanha fora do padrão. Depois de seu adversário, o atual prefeito Ricardo Nunes, do MDB, não comparecer a um debate no dia anterior, na RedeTV, ele decidiu fazer um “debate com o povo” em praça pública, no mesmo horário em que seria realizado outro confronto entre os candidatos, no SBT, ao qual seu opositor também anunciou que faltaria.
Em frente ao Theatro Municipal, na Praça Ramos, a poucos metros do gabinete do prefeito, Boulos instalou uma espécie de estrutura de programa de auditório, com direito a arquibancada em arena e púlpitos para os participantes. De um lado, ele mesmo; do outro, um lugar vazio, para representar Nunes, e no centro do palco, o espaço dedicado aos perguntadores, com a placa “Povo de São Paulo”.
Os interessados em perguntar podiam se inscrever livremente e aguardavam em fila, após um sorteio realizado previamente. Durante aproximadamente uma hora, o candidato ouviu as angústias da população e respondeu questionamentos sobre saúde, mobilidade, educação, emprego e segurança pública. Houve quem ocupou o espaço apenas para desabafar, reclamando da zeladoria da cidade, da sensação de insegurança e das longas filas de espera para exames de alta complexidade nas unidades de saúde pública.
Algumas pessoas chegaram cedo para conseguir um bom lugar, como foi o caso do jovem Danilo Santana, que qualificou a iniciativa como “inovadora”. Ele disse ser surpreendente um candidato se dispor a conversar com a população assim, na rua, e gostaria que, se eleito, essa fosse uma prática rotineira.
Leon de Paula passava pelo local e parou para assistir ao debate. Para ele, a política tem estado excessivamente focada nas redes sociais, e ele considerou positiva a tentativa de resgatar o contato direto. “O político precisa estar na rua, na praça, em contato com a cidade. Se acreditarmos que tudo se resolve pelo algoritmo, deixamos de lado o fator humano na decisão política.”
Muitas pessoas se queixaram da sensação abandono na zeladoria. Foi o caso da aposentada Ana Maria Bozzo, que destacou o aumento do número de moradores de rua nos últimos anos. “Hoje já são mais de 80 mil, e a Cracolândia está se expandindo”, destacou. O fato de Boulos ter viajado para colher exemplos de políticas públicas aplicadas com êxito em outras metrópoles chamou sua atenção. “Gostei muito da proposta do PoupaTempo da Saúde”.
O evento marca o começo da reta final de campanha e a tentativa de virada de Boulos, que, faltando menos de dez dias para o segundo turno, ainda não se aproximou de seu adversário nas pesquisas de intenção de voto. De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada nesta quinta-feira, 17, o atual prefeito tem 18 pontos de vantagem, com 51%, enquanto o candidato do PSOL se mantém com 33%. Trackings feitos após o apagão, dizem assessores de Boulos, indicam uma diferença menor, de oito pontos.
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