Política
Bolsonaro volta a defender o trabalho infantil em suas redes sociais
‘Se eu estivesse defendendo sexualização e uso de drogas, estariam me idolatrando. Essa é a verdade’, disse


Um dia depois de defender o trabalho infantil em sua live semanal no Facebook (“Olha só, trabalhando com 9, 10 anos de idade, na fazenda, não fui prejudicado em nada”, disse, em vídeo), o presidente Jair Bolsonaro voltou ao assunto nesta sexta-feira 5.
Em menos de 24 horas, só que dessa vez pelo Twitter, o presidente tentou se justificar dizendo que está defendendo que as crianças desenvolvam desde cedo a cultura do trabalho. “Se eu estivesse defendendo sexualização e uso de drogas, estariam me idolatrando. Essa é a verdade!”, disse.
– A esquerda está me atacando por defender que nossos filhos sejam educados para desenvolver a cultura do trabalho desde cedo. Se eu estivesse defendendo sexualização e uso de drogas, estariam me idolatrando. Essa é a verdade!
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 5 de julho de 2019
Na quinta-feira, Bolsonaro defendeu o trabalho durante a infância e disse que apenas não atua pela liberação porque seria massacrado.
De acordo com o Observatório da Criança e do Adolescente, da Fundação Abrinq, quase 6,4% das crianças brasileiras entre 5 e 17 anos de idade trabalhavam em 2016. O cenário piora com os dados do IBGE daquele ano, que apontam que, entre as crianças e jovens de 5 a 17 anos que trabalham, cerca de 21% estavam fora da escola.
Além da evasão escolar, as crianças também sofrem com acidentes de trabalho. Cerca de 620 crianças e adolescentes foram vítimas deles em 2016, e, entre 2012 e 2016, 130 morreram por conta de complicações dos incidentes.
Mesmo assim, é possível identificar uma verdade implícita no vídeo: o cenário descrito pelo presidente é extremamente comum. O Censo Agropecuário de 2017 mostra que quase 588 mil crianças trabalhavam no campo, sendo que 90% delas possuíam vínculo familiar com o empregador – ou seja, atuavam juntamente aos pais ou parentes em atividades rurais.
A identificação, no entanto, não pode servir para justificar um problema e “olhar para o passado”, mas sim “olhar para o futuro e lutar para que essa realidade seja superada”, segundo opina Antônio Lima, procurador do Ministério Público do Trabalho.
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