Política

Bolsonaro vira réu no STF às vésperas do ‘aniversário’ do golpe de 1964

Entusiasta da ditadura militar, o ex-presidente alega ser alvo de perseguição do ministro do STF Alexandre de Moraes

Bolsonaro vira réu no STF às vésperas do ‘aniversário’ do golpe de 1964
Bolsonaro vira réu no STF às vésperas do ‘aniversário’ do golpe de 1964
O ex-presidente Jair Bolsonaro, em 26 de março de 2025, após se tornar réu no STF. Foto: Evaristo Sá/AFP
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A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal finalizou o julgamento da denúncia contra Jair Bolsonaro (PL) pela tentativa de golpe de Estado em 2022 a cinco dias do “aniversário” de 61 anos do golpe militar de 1964, que depôs o presidente João Goulart e fez o País mergulhar em uma ditadura da qual só sairia 21 anos depois.

Bolsonaro é um entusiasta do regime de exceção e manteve essa postura mesmo depois de chegar à Presidência. Em 2019, por exemplo, afirmou que “não houve ditadura no Brasil”, mas “alguns probleminhas”. Agora, alega ser alvo de perseguição do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Ao votar por acolher a denúncia da Procuradoria-Geral da República, nesta quarta-feira 26, o ministro Flávio Dino citou o filme Ainda Estou Aqui, que retrata o caso do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido no início da década de 1970, sob a ditadura.

“No dia 1º de abril de 1964 também não morreu ninguém. Mas centenas, milhares morreram depois. Golpe de Estado mata. Não importa se isto é no dia, no mês seguinte ou alguns anos depois“, declarou, em comparação com o 8 de Janeiro de 2023. “Golpe de Estado é coisa séria. É falsa a ideia de que uma tentativa de golpe de Estado que não resultou em mortes naquele dia é uma infração de menor potencial ofensivo.”

Em 2014, após dois anos e sete meses de trabalho, a Comissão Nacional da Verdade apontou, em seu relatório final, 434 mortes e desaparecimentos de vítimas da ditadura no País. Entre elas, 210 são desaparecidas.

Além disso, a ditadura fechou três vezes o Congresso Nacional. O Ato Institucional nº 2 deu ao presidente da República o poder de decretar o recesso do Parlamento – naquele período, portanto, o militar na chefia do Executivo tinha a prerrogativa de legislar.

Em 20 de outubro de 1966, o marechal Castelo Branco decretou recesso por um mês, para supostamente conter um “agrupamento de elementos contrarrevolucionários” que teria se formado no Legislativo “com a finalidade de tumultuar a paz pública”.

Em 13 de dezembro de 1968, o marechal Costa e Silva baixou o AI-5 e fechou o Congresso para oficialmente combater “ideologias contrárias às tradições de nosso povo”.

O último a decretar o fechamento do Legislativo foi o general Ernesto Geisel, em 1977, por meio do “pacote de abril”, depois de o Congresso rejeitar uma emenda constitucional. Geisel alegou que o MDB havia estabelecido uma “ditadura da minoria”.

No caso de Bolsonaro, a Procuradoria-Geral da República concluiu que ele planejou e exerceu um domínio direto sobre os atos de uma organização criminosa que buscava executar um golpe de Estado no Brasil em 2022. O STF abrirá uma ação penal, ao fim da qual decidirá se o ex-presidente é culpado ou inocente.

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