Bolsonaro vai à Argentina em situação ‘digna’ de Macri

Economia dos dois países recua, presidentes enfrentam protestos de rua e Brasil pode repetir greve geral argentina

(Foto: ABr)

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Jair Bolsonaro estará na Argentina em 6 de junho para reunir-se com Mauricio Macri, retribuição de uma visita recebida em janeiro. Na relação entre os dois países, o costume é o presidente recém empossado ir ao encontro daquele há mais tempo no cargo. Ao viajar só agora a Buenos Aires, o brasileiro está, por coincidência, mais “digno” do hermano.

Ambos enfrentam PIB que encolhe e protestos populares, um quadro pintado tanto lá como aqui com tintas neoliberais.

No primeiro trimestre, a economia brasileira andou 0,2% para trás. Não se via uma queda desde o fim de 2016, ano da degola de Dilma Rousseff. Logo após a vitória de Bolsonaro nas urnas, o “mercado” animava-se. Previa expansão de 2,5% do PIB em 2019. Agora estima coisa na casa do 1%, e até já há cálculos próximos de zero.

Na Argentina, a economia encolheu 2,5% em 2018 e recuará de novo este ano, 1,2%, segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), que dá muitos palpites por lá graças a um socorro de 57 bilhões de dólares. Macri já enfrentou cinco greves gerais. A última delas, em 29 de maio, foi a maior.

Bolsonaro encarou duas manifestações estudantis contra cortes de verba das universidades federais. E corre o risco de uma greve geral na semana seguinte à visita a Buenos Aires. Uma paralisação foi marcada para 14 de junho pelas centrais sindicais, descontentes com medidas impopulares de mais e emprego de menos.


Há chance razoável de o desemprego terminar o ano maior que em 2018, na visão do Bradesco, embora a abertura de vagas com carteira assinada em abril tenha surpreendido, 129 mil, o que levou a um ligeiro recuo da taxa de desemprego, que estava em 12,7% em março e passou a 12,5%.

Aos poucos dissemina-se a percepção de que o Brasil vive uma depressão, sem ter de onde tirar forças para crescer. Até presidente do Banco Central na ditadura, Afonso Celso Pastore, suspeita disso. Paulo Guedes, o ministro da Economia, fala em liberar dinheiro parado em contas do FGTS, para incentivar o consumo, um paliativo usado no governo Michel Temer.

Antes reduto de fãs de Bolsonaro em razão do ultraliberalismo de Guedes, o “mercado” é pura decepção. De 79 investidores graúdos (gestores e executivos de fundos e bancos) ouvidos em maio em uma pesquisa contratada pela XP Investimentos, só 14% acham o governo “bom ou ótimo”, a metade de abril. A opinião de “ruim ou péssimo” foi de 24% para 43%.

Tem crescido o número de brasileiros a culpar Bolsonaro pela situação econômica, conforme se vê em outra pesquisa encomendada pela XP, embora a dupla Lula-Dilma Rousseff ganhe de longe nesse quesito. Em maio, 10% apontavam o dedo para o ex-capitão. Em janeiro, eram só 3%.

Pelo andar da carruagem, Macri vai sofrer na disputa pela reeleição em outubro, graças à economia. E seu colega brasileiro terá dificuldades semelhantes para levar adiante o mandato recém começado.

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