Política
Bolsonaro omite relação com o Centrão para acusar Lula de distribuir cargos
Sem revelar a quem, presidente disse que petista teria oferecido Caixa Econômica e um ministério em troca de apoio partidário


O presidente Jair Bolsonaro (PL), em coletiva de imprensa após receber alta do hospital Vila Nova Star nesta quarta-feira 5, afirmou que o ex-presidente Lula (PT) só consegue reunir apoio de outros partidos porque oferece cargos aos líderes políticos.
A prática, segundo disse, não seria feita no seu atual mandato. Recentemente, no entanto, Bolsonaro tem concedido cargos a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, o seu novo partido, e outros aliados, como a nomeação de Ciro Nogueira (PP), também do Centrão, para o seu principal ministério, o da Casa Civil.
“Você sabe como Lula está conseguindo apoio por aí? Negociando. Não vou falar aqui para não polemizar, mas para uma dessas pessoas ofereceu a Caixa Econômica e um ministério, assim ele está fazendo”, acusou Bolsonaro.
“Ele consegue a adesão de alguns partidos em troca de ministérios, de bancos oficiais e de estatais”, acrescentou em seguida, novamente omitindo as recentes mudanças e recriações de ministérios para acomodar indicações partidárias no seu governo.
Na segunda-feira 3, por exemplo, foi notícia a iminente nomeação de José Gomes da Costa para presidir o Banco do Nordeste. O economista é apadrinhado político de Valdemar, que já emplacou outras duas importantes indicações: o diretor de Ações Educacionais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Gharigan Amarante Pinto, e o diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), Fernando de Araújo Leão.
A acusação feita a Lula foi uma resposta de Bolsonaro à pergunta sobre uma possível demissão da ministra Flávia Arruda (PL), atual ocupante da Secretaria de Governo. Ela vem sendo ‘fritada’ por aliados do presidente que almejam ocupar o cargo.
“A indicação da Flávia Arruda foi minha. Por que eu indiquei ela? Não é por ser mulher, por nada. É pela competência, foi relatora do orçamento. Para mim, ninguém chegou [pedindo a demissão]. Ninguém pede a cabeça de ministro como acontecia no passado”, destacou.
“Desconheço onde a Flávia Arruda está errada, ela não será demitida, jamais, pela imprensa”, decretou antes de encerrar o assunto.
As declarações, novamente, contradizem a prática do seu governo. No mesmo Banco do Nordeste que o Centrão pretende lotear mais um aliado, a demissão do antigo presidente, Romildo Rolim, em setembro do ano passado, foi motivada pelos pedidos de Valdemar Costa Neto.
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