Política

Bolsonaro na mira: Bebianno vai de “laranjeiro” a homem-bomba?

Atingido ao taxiar para voos mais altos, o secretário-geral da Presidência tem motivos e meios para se vingar

O ódio é estupido. O ódio é doidão. O ódio é excitadamente “feliz”. O ódio é fascista. O ódio pode votar em Jair Bolsonaro.
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Gustavo Bebianno, secretário-geral da Presidência de Jair Bolsonaro, está no bico do corvo após várias reportagens da Folha terem revelado um laranjal eleitoral do PSL, o partido bolsonarista que ele comandou na campanha de 2018. Seu chefe mandou a Polícia Federal (PF) investigar o caso e avisa que o demitirá se ele tiver culpa. Um dos filhos do chefe chama-o de mentiroso publicamente.

Sob o risco de ser o primeiro degolado do governo (exoneração deve sair nesta segunda), Bebianno pode se tornar um homem-bomba. Ambicioso, participante de uma conspirata contra o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para assumir a rédea da relação do governo com o Congresso, tem motivo para querer se vingar da família no poder, caso perca o cargo. E tem meios para atacar o clã.

O motivo para revanche seria uma degola, e da maneira como ela se desenha: com a PF no encalço, e o rótulo de mentiroso e patrono de laranjas na testa, tudo após ter se esforçado para levar o ex-capitão ao poder. O meio seria, por exemplo, um amigo dele, o empresário Paulo Marinho.

Marinho vai virar senador, caso o enrolado Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente, tombe diante das investigações do Ministério Público existentes contra ele. Personagem igualmente complicado, Marinho é suplente de Flávio no Senado. Foi enfiado na chapa por Bebianno, e goela abaixo da família Bolsonaro, como registrava o noticiário da época.

Em Brasília, correm rumores de que Flávio e seus irmãos acreditam que Bebianno e Marinho estimularam as desconfianças da imprensa quanto ao nebuloso Fabricio Queiroz, amigo do clã Bolsonaro, e das transações imobiliárias do primogênito do presidente.

Bebianno é advogado, tem amigos no meio jurídico, caso da juíza Marianna Fux, filha do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux. Marinho é um endinheirado bem relacionado no Rio. Não seria difícil para a dupla providenciar informações, para passar à mídia, sobre os rolos de Flávio.

Com prática

Bebianno talvez possa explicar também que tipo de compromisso foi firmado por Flávio em troca de doações do setor de praticagem, atividade que é uma espécie de guia para navio “estacionar” em portos.

Moacyr Antonio Moreira Bezerra, da Federação dos Práticos, deu 55 mil reais. Gustavo Henrique Alves Martins, do Conapra, Evandro Simas Abi Saab, da Praticagem da Barra, e Dhyogo Henryque Scholz dos Santos, da Baía do Marajó Serviços de Praticagem, deram 10 mil cada.

Será que Flávio prometeu mexer uns pauzinhos em Brasília em defesa da praticagem? Os práticos são questionados na Justiça por donos de cargas cansados do que acham preços abusivos. O processo está no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A desgraça atinge Bebianno justamente quando ele tentava ampliar seus poderes no Palácio do Planalto.

Conspiração

Como CartaCapital noticiou, o vice-presidente, Hamilton Mourão, conspira contra os ministros Lorenzoni e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores. Seu gabinete está aberto a quem queira reclamar da dupla: empresário, diplomatas.

Um funcionário do Planalto que, por dever de ofício, frequenta a Casa Civil, contou coisa parecida a CartaCapital. Ele não tem dúvida da existência de um complô de Mourão e Bebianno contra Lorenzoni, a juntar ainda o chefe do Jurídico do Planalto, Jorge Antonio de Oliveira Francisco.

Leia também: Mourão: um vice intrigante

 “Os três querem derrubar o Onyx, já vejo ações concretas nesse sentido. Acham que ele não dá conta do trabalho”, diz.

Em entrevista ao Globo de 6 de fevereiro, Bebianno mostrou sua ambição, com jeitão de falsa modéstia. “Estou descobrindo, talvez, um talento que não soubesse que tinha. Tenho colaborado e acho que posso continuar sim com essa interlocução entre o Palácio e o Congresso.”

 Em Brasília, há quem diga que Bebianno preparava-se para comandar outro avanço do PSL, desta vez a partir da eleição municipal de 2020, algo para se desenhar politicamente já, no Congresso.

 “Uma coisa que se fala pouco é que a criação do fundo partidário deu muita força aos presidentes de partidos, que estavam perdendo poder”, afirma o deputado Aliel Machado, do PSB do Paraná.

 Bebianno comandou o fundo partidário destinado ao PSL, fonte de grana a candidatos – e a laranjas – do partido bolsonarista em 2018. Foi presidente provisório da sigla, hoje de volta às mãos de seu fundador, Luciano Bivar, deputado federal por Pernambuco. Um sujeito que deve estar rindo à toa, em segredo, com a situação de Bebianno.

Críticos cítricos

A alcunha de “partido dos laranjas” tem incomodado a turma do PSL no Congresso.

Na quarta-feira 13, as palavras laranja e laranjal foram citadas 46 vezes na sessão plenária da Câmara, em bate-boca de gente do PSL com adversários do PSOL e do PT. No dia seguinte, outras 38 vezes, nas mesmas circunstâncias.

“Foi falado aqui pelos partidos de esquerda que o PSL é um partido de laranja. Seja quem for, ministro, secretário, deputado, se for laranja podre, vai pagar. Ao contrário do PT, nós não passamos a mão na cabeça de bandido”, disse o deputado novato Alexandre Frota, ator pornô.

 Será que Bebianno cairá do pé feita laranja estragada? E sairá atirando depois disso?

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