Política
Bolsonaro insistirá no voto impresso e no discurso golpista, avaliam deputados
Parlamentar propõe punição a quem ataca o sistema eleitoral. ‘Não podemos ficar esperando que os bolsonaristas recuem’, diz
Deputados que votaram contra a PEC do Voto Impresso não acreditam que rejeição da proposta no plenário da Câmara seja suficiente para impedir o discurso do presidente Jair Bolsonaro em defesa do tema.
Para ser aprovada, a Proposta de Emenda à Constituição precisava de 308 votos, mas a base do governo só conseguiu 229. A matéria se tornou peça central nas ameaças e nos ataques do presidente ao sistema eleitoral brasileiro e à realização do pleito de 2022.
“[A derrota] não é suficiente para enterrar o discurso bolsonarista de defesa do voto impresso. Talvez o Bolsonaro reduza os ataques e os comentários, mas não completamente”, diz Arlindo Chinaglia (PT-SP), que fez parte da comissão que analisou o tema antes de ir ao plenário.
“Deveríamos pensar em uma legislação para quem atacar o processo eleitoral sem base ser punido. Não podemos ficar parados esperando que os bolsonaristas recuem”, acrescenta o parlamentar.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), logo após a votação, afirmou que o voto impresso é “assunto encerrado”.
“Vai ao arquivo e, com respeito à Câmara, este assunto está, neste ano e com esse viés de constitucionalidade, encerrado. Não haveria tempo ou espaço para iniciar nova discussão”, pontuou.
Para o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), “sobre o voto impresso, Bolsonaro não tem mais o que falar”, mas pondera que o presidente “vai ficar com a retórica que vai ser roubada a eleição”.
“Como ele sabe que é difícil ganhar a eleição, ele vai manter essa retórica do roubo”, diz. “Ele continuará fazendo discurso para a sua base de extrema-direita, mas também fará política. Nos últimos dias, ele fez um discurso duro de ameaças e depois colocou o Ciro Nogueira. Depois, pôs os tanques na rua, mas no dia anterior entregou uma pauta do Bolsa Família”, completa.
O líder do PT na Câmara, Bohn Gass, avalia que Bolsonaro “precisa alimentar debates na sociedade a partir deste tipo de bobagem”. Para o deputado, o presidente usará do discurso para “desviar atenção do caos e corrupção do seu governo”.
De acordo com Rogério Correia (PT-MG), “a sanha golpista não terminou no dia de ontem”.
“Apesar da derrota, ele teve muito voto. Ali foram utilizados todos os instrumentos. Além da pressão, também o toma lá dá cá que vai explicar votos até de partidos que são de oposição”, afirma.
“O discurso do Bolsonaro é para tentar justificar o golpe e enfraquecer as instituições. Ele não vai parar. Ontem, eles deram sinais de que vão pressionar o Senado para tentar fazer uma PEC semelhante a essa”, revela o deputado.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.