Política

Bolsonaro exige restrições na divulgação de dados ambientais do Inpe

‘Não posso ser surpreendido por uma informação tão importante como essa daí’, disse o presidente Jair Bolsonaro nesta segunda 22

Foto: Marcos Corrêa/PR
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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) exigiu, nesta segunda-feira 22, tomar conhecimento de dados oficiais sobre o meio ambiente antes que eles sejam divulgados publicamente. A declaração ocorreu três dias após o presidente criticar a divulgação de informações sobre o aumento do desmatamento na Amazônia, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

“Você pode divulgar os dados, mas tem que passar pelas autoridades até para não ser surpreendido. Até por mim, eu não posso ser surpreendido por uma informação tão importante como essa daí. Eu não posso ser pego de calças curtas. As informações têm que chegar a nosso conhecimento de modo que nós possamos tomar decisões precisas em cima dessas informações”, afirmou Bolsonaro.

Na opinião do presidente, a publicação destes dados pode gerar uma propaganda negativa do Brasil no exterior. O temor é de que as informações prejudiquem o acordo entre os blocos Mercosul e União Europeia, parceria que considera o empenho dos países signatários em relação à preservação ambiental. Bolsonaro também manifestou dúvidas sobre a veracidade dos dados fornecidos pelo Instituto.

“Não pode, na ponta da linha, alguém simplesmente resolver divulgar esses dados, porque pode haver algum equívoco. E neste caso, como divulgou, há um enorme estrago para o Brasil. A questão ambiental, o mundo todo leva em conta. Outros países, com os quais estamos negociando a questão do Mercosul, ou até um acordo bilateral, nos dificulta com a divulgação desses dados”, afirmou.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, também comentou o tema em sua rede social, na mesma linha do presidente da República: “Entendo e compartilho a estranheza expressa pelo nosso presidente Bolsonaro quanto à variação percentual nos últimos resultados na série histórica”. Pontes convocou o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, para uma reunião de esclarecimentos sobre a metodologia da aquisição das informações.

Dados preliminares do Inpe mostram que mais de 1 mil km² de floresta amazônica foram devastados só na primeira quinzena de julho deste ano. O número representa um aumento de 68% em relação a julho de 2018. O levantamento é do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), plataforma criada em 2004 que produz, diariamente, alertas de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares. Os alertas são enviados automaticamente ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Procurado, o Inpe afirmou a CartaCapital que o objetivo do sistema Deter é disponibilizar dados em tempo real. Isso quer dizer que submetê-los à consulta do presidente da República antes da divulgação fugiria da praxe do órgão e do propósito da plataforma. Além disso, o Instituto publica relatórios mensais para reunir esses dados. Esses documentos, segundo a instituição, já são submetidos ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTIC) e ao Ibama antes da divulgação.

Em janeiro deste ano, o Inpe já havia publicado uma nota para explicar a proposta do sistema. O texto diz que “a política de transparência dos dados, adotada pelo Inpe desde 2004, permite o acesso completo a todos os dados gerados pelos sistemas de monitoramento, possibilitando avaliações independentes pela comunidade usuária, incluindo o governo em suas várias instâncias, a academia e a sociedade como um todo”.

Em protesto contra as críticas do presidente, o Conselho da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgou um manifesto, no domingo 21, em que afirma: “Em ciência, os dados podem ser questionados, porém sempre com argumentos científicos sólidos, e não por motivações de caráter ideológico, político ou de qualquer outra natureza”.

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