Política

Bolsonaro é a pessoa mais ‘despreparada’ para ocupar função pública, diz ex-comandante da PM

Para o coronel Glauco Carvalho, ‘o bolsonarismo tenta destruir todos os valores da corporação’

Foto: Reprodução
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O coronel da reserva Glauco?feature=oembed" frameborder="0" allowfullscreen> Carvalho, ex-comandante da Polícia Militar de São Paulo, afirmou que o bolsonarismo que tomou conta das polícias no Brasil é, em parte, ‘incompreensível’, já que o presidente Jair Bolsonaro é a pessoa mais ‘despreparada’ para ocupar função pública ou militar. Segundo o coronel, esse pensamento representado pelo mandatário e seus filhos tenta ‘destruir os valores da corporação’ e representa o que há de pior na vida pública do Brasil. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

“Servi dentro do Exército por três anos como oficial de ligação da Polícia Militar de São Paulo. Havia uma grande ojeriza ao capitão Bolsonaro. Não entendo o que aconteceu nesses 25 anos, pois se há uma pessoas despreparada para o exercício da função política e para a função militar, essa pessoa é Jair Bolsonaro. Ele não tem apreço por limitações legais e éticas e tenta a todo custo trazer as Polícias Militares para seu lado”, disse Carvalho.

Para ele, não é apenas o presidente que seria o responsável pelo caos dentro das polícias, mas também seus filhos, que angariaram votos às custas de ações antiéticas.

“O bolsonarismo se alastrou. Tenho amigos que se tornaram defensores do presidente. É preciso entender o que aconteceu. Não basta só criticar as Polícias Militares. Precisamos tirar as PMs desse buraco. E o bolsonarismo usa de todos os instrumentos para instalar o caos. Veja o Eduardo Bolsonaro. Ele usou o fato de PM ter o pior salário do Brasil e o uso de câmeras pelos policiais para que os PMs se insurjam contra o Doria. Ele usa um instrumento que vai mudar a PM em dez anos – o uso de câmeras – para criar clima de insubordinação. O bolsonarismo não tem institucionalidade, ele não tem limites, e tenta destruir todos os valores da instituição. É o que tem de mais indecente na vida pública do País”, acrescenta.

 

Na entrevista, o coronel defendeu ainda uma rigorosa punição aos militares da ativa que se insubordinam e quebram as regras da corporação. O PM se diz amigo de Aleksander Lacerda, afastado do cargo de comandante da polícia após liderar uma convocação para atos golpistas no dia 7 de setembro e chamar o governador João Doria (PSDB) de ‘cepa indiana’.

“Quero salientar que o coronel Aleksander é meu amigo. Foi meu aluno no Curso Superior de Polícia; é um bom oficial. A despeito disso, fico com a lei, com os princípios e os valores da instituição. Ele tem de ser severamente punido sob o ponto de vista administrativo e sob o ponto de vista penal-militar. Se não, vamos instalar a balbúrdia na instituição. O Brasil está de ponta-cabeça. É surreal. E vejo coronéis querendo contemporizar”, afirma. “O procedimento administrativo tem de ser célere. Fosse em outras épocas, ele estaria preso hoje ou amanhã para dar exemplo para a tropa”, acrescenta Carvalho.

Segundo explicou, apenas um afastamento é uma punição tênue, será preciso ações mais duras para mostrar aos militares que ninguém está acima das regras, caso contrário a polícia estará abrindo espaços para a ‘libertinagem’.

“Se ficar só nisso, abrimos a possibilidade de ações de indisciplina se alastrarem por toda instituição. E vou além: a punição dele tem de ser pública. Nessas circunstância, apesar de meu apreço ao Aleksander, a punição tem de ser pública para que, do soldado mais de recruta ao coronel, vejam que a PM não tolera esse tipo de atitude. A democracia não implica em libertinagem, em falar o que você pensa e acha sobre autoridades constituídas ocupando uma das funções mais importantes que a instituição tem: o comando de área de grandes efetivos”, destaca o coronel que diz ainda ter certeza de que o comandante-geral da PM paulista Fernando Alencar tomará as providências para manter a ‘integridade da tropa’.

O PM também se mostrou favorável a criação de um regramento mais rígido para uso de redes sociais por militares e outros agentes públicos, como juízes e auditores e ainda defendeu uma ‘quarentena’ de cinco anos para que as carreiras típicas do estado passem a ocupar cargos políticos.

“É urgente que haja regramento do uso de redes sociais, tanto por policiais civis quanto militares. Não só, mas por juízes, promotores, auditores fiscais e diplomatas. As carreiras típicas de Estado não podem ter liberdade plena de se manifestar, pois elas detêm uma parcela de poder do Estado. Ou tem armas ou instrumentos que podem oprimir o cidadão. Isso tem de ter regramento”, defende.

Carvalho também atribui a Bolsonaro o fato de que servidores públicos estejam ultrapassando os limites historicamente estabelecidos para manifestações e críticas públicas.

“Isso vale para todas as carreiras de Estado. A lei e os regulamentos administrativos de todas as organizações estabelecem os limites. Há limites éticos na diplomacia, na Polícia Civil e, de forma muita mais acentuada, nas instituições militares. Elas estão perdendo a sua natureza mais intrínseca. O limite que o PM pode exercer em matéria político-eleitoral e partidária é zero”, explica.

Carvalho então complementa: “Ele não pode criticar a política do Doria, como a do Lula e da Bolsonaro. Isso também vale para Bolsonaro. Quem é da ativa não deve se manifestar porque eles são autoridades constituídas, legal e democraticamente eleitas. O Brasil perdeu seus limites e valores. O que se aplica ao Lula também se aplica ao Bolsonaro. Tem de haver respeito das instituições a essas autoridades. Eu posso falar porque estou na reserva, mas passei 35 anos sem falar nada. O limite é o limite em que as instituições se balizam. O grande problema que temos é que temos um presidente que, para permanecer no poder, prega a desinstitucionalização das organizações do estado, como as Polícias Militares, as Forças Armadas, o Ministério Público e a Justiça”.

(Com informações da Agência Estado)

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