Política
Bolsonaro descumpriu regras dos EUA ao se aglomerar após diagnóstico de Queiroga
No país, é necessário fazer quarentena ‘se você tiver estado em contato próximo de alguém que tenha Covid-19
Pelas regras americanas, o presidente Jair Bolsonaro deveria ter se isolado imediatamente após saber que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estava com Covid-19. À noite, no entanto, quando a delegação brasileira já sabia da situação de Queiroga, o presidente se reuniu com apoiadores na porta do seu hotel.
A quarentena após a exposição é orientada pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) para as pessoas que não estão vacinadas. O presidente declara não ter se vacinado contra Covid.
Bolsonaro permaneceu por mais de 20 minutos, sem máscara, entre manifestantes bolsonaristas. A aglomeração aconteceu quando saiu do hotel onde se hospedou em Nova York rumo ao aeroporto de onde o avião presidencial decolou para Brasília. Queiroga, que inicialmente iria fazer a viagem de volta com Bolsonaro, não desceu com o presidente pois já tinha recebido a confirmação do resultado de seu teste de covid-19 e precisou estender a permanência nos EUA, para fazer isolamento.
O presidente tirou selfies e se aproximou dos manifestantes por mais tempo do que duraram, somados, seu discurso na Assembleia Geral da ONU e sua visita ao memorial em homenagens às vítimas do 11 de setembro.
Segundo o site do CDC, é necessário fazer quarentena nos EUA “se você tiver estado em contato próximo (a menos de 2 metros por um total acumulado de 15 minutos ou mais em um período de 24 horas) com alguém que tenha Covid-19, a menos que você tenha sido totalmente vacinado”.
Nesses casos, o CDC pede quarentena de 14 dias, que pode ser reduzida em dois casos. Com teste negativo de Covid, uma pessoa sem vacina que teve contato com outra contaminada pode encerrar a quarentena no sétimo dia. Sem teste e sem sintomas, a quarentena exigida é de dez dias.
A agência americana desobriga a quarentena para pessoas que estão vacinadas (com esquema vacinal completo). No caso dos vacinados, o órgão diz que a quarentena só é exigida caso a pessoa apresente sintomas. Mesmo assim, o CDC recomenda que os que estiveram próximos a uma pessoa contaminada façam o teste de Covid de 3 a 5 dias após o contato, ainda que sem sintomas, e usem máscara em ambientes fechados por 14 dias após a exposição ou até que o resultado do teste seja negativo.
A epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas e ex-integrante do CDC, explica que é uma violação grave das recomendações do órgão furar o autoisolamento proposto após contágio.
“A partir do momento que sei que está com Covid uma pessoa que eu tive contato, a recomendação é o isolamento. Não seguir essas recomendações não somente coloca em risco a vida de pessoas, mas também o esforço de diminuir a transmissão do vírus. Já existem vários estudos que mostram que política de rastreamento de contato com a quarentena tem um impacto grande na circulação de um vírus”, afirma a epidemiologista. “Ali era uma situação de altíssimo risco porque ele ficou aglomerado, sem distanciamento, por um período longo. Sabemos que existe transmissão de assintomático”, afirma.
Segundo ela, o fato de Bolsonaro já ter tido Covid não é atenuante. A recomendação só é atenuada no caso de pessoas que tiveram Covid nos últimos 90 dias ou das que já estão completamente imunizadas.
O CDC escreve as recomendações, mas cabe ao município ou Estado adotá-las e fiscalizá-las. “A jurisdição do CDC nos EUA é algo muito diferente do que acontece no Brasil. Aqui não é um órgão regulatório. É um órgão que não impõe leis, a menos que em situações bem específicas onde existe uma ordem federal para isolamento, por exemplo para tuberculose”, explica a especialista.
Leia também
Bolsonaro e comitiva devem ficar de quarentena, recomenda Anvisa
Por Getulio XavierApenas em diárias, quarentena de Queiroga em Nova York deve custar mais de 30 mil reais
Por CartaCapitalPrefeito de Nova York ironiza Queiroga após diagnóstico de Covid-19
Por CartaCapitalQueiroga teve oito compromissos oficiais em NY antes de testar positivo para Covid; veja a lista
Por CartaCapitalApoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.
Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.