Política

Bolsonaro associa caso de anestesista preso por estupro a ‘ideologia de universidades’

Giovanni Quintella Bezerra foi flagrado em abuso sexual em plena sala de parto. Presidente questionou ‘o que ele aprendeu na faculdade’

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) criticou o ensino de “ideologia” nas universidades ao se pronunciar sobre o anestesista Giovanni Quintella Bezerra, preso em flagrante por estupro contra uma mulher parturiente dentro do Hospital da Mulher Heloneida Studart, no município de São João de Meriti, no estado do Rio de Janeiro.

Em conversa com apoiadores nesta terça-feira 12, Bolsonaro citou em tom de rechaço os “centros acadêmicos”, organizações que atuam como movimentos sociais estudantis dentro de instituições de ensino superior.

“Qual é a educação desse cara? O quê que ele aprendeu na faculdade? Lógico, aprendeu a ser anestesista lá. Mas o que mais foi ensinado na faculdade para ele? Qual era o centro acadêmico? O que tinha no centro acadêmico? Qual era a ideologia dessas universidades?“, discursou o presidente.

Na sequência, Bolsonaro disse que “são questões que vêm acontecendo ao longo de décadas” e que “não dá para mudar de uma hora para outra”. Além disso, afirmou que “qualquer punição é pouca” ao médico.

Em outro trecho, o chefe do Executivo acusou o médico, ainda, de ter “índole de esquerda”.

“O caso ontem, também, de uma mulher num hospital, tendo uma criança. Vocês viram o médico fazendo barbaridade do lado, né? Agora, nas partes sociais desse médico, tem uma índole de esquerda lá“, afirmou.

Antes de o presidente da República associar a prática do anestesista a suposta “ideologia” na universidade onde ele se firmou, a instituição de ensino já havia repudiado o crime “veementemente” em nota.

O UniFOA – Centro Universitário de Volta Redonda, onde o médico se formou em 2017, disse lamentar “profundamente” a notícia do crime de estupro e afirmou que aguarda a aplicação de “todas as medidas cabíveis pelas autoridades competentes e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro” (veja nota na íntegra ao fim da reportagem).

Procurada para se pronunciar a respeito da declaração de Bolsonaro, a instituição afirmou que não vai se manifestar.

Na segunda-feira 11, o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro anunciou a abertura de um procedimento para suspender as atividades do médico e que pode resultar na cassação do registro profissional. O presidente do órgão, Clovis Munhoz, classificou o ato em nota como “extremamente absurdo” e expressou “enorme revolta”.

Veja nota do UniFOA

“O Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA tem como missão promover a formação humana, científico-tecnológica e profissional, fundamentada na ética e norteada pela responsabilidade social.

O UniFOA, ao longo dos seus 54 anos de existência, vem formando profissionais para que exerçam suas profissões com responsabilidade, ética e respeito. Valores perpetuados e inegociáveis que norteiam as atitudes, comportamentos e resultados nas relações institucionais e humanas.

REPUDIAMOS veementemente a prática exercida por qualquer uma das pessoas que tenham feito ou façam parte do corpo social desta Instituição de Ensino, de qualquer ato que configure crime, a ser devidamente apurado e punido, de acordo com a legislação em vigor.

Lamentamos profundamente a notícia do crime de estupro praticado contra uma grávida, durante a realização de uma cesariana no Hospital em São João de Meriti – RJ. E esperamos que todas as medidas cabíveis sejam tomadas pelas autoridades competentes e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro – CREMERJ”.

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