A deputada federal Bia Kicis (PSL-SP), uma das principais expoentes da tropa de choque bolsonarista no Congresso Nacional, publicou nas redes sociais nesta quinta-feira 22 um registro de seu encontro com Beatrix von Storch, deputada da Alternativa para a Alemanha, partido de extrema-direita conhecido pela sigla AfD.
“Conservadores do mundo se unindo p/ defender valores cristãos e a família”, escreveu Kicis na postagem.
O AfD nasceu, em 2013, tendo na crítica ao Euro uma de suas principais bandeiras. Durante a grave crise migratória de 2015, reforçou-se politicamente e atraiu figuras de extrema-direita. Naquele ano, a Alemanha permitiu a entrada no país de mais de um milhão de migrantes e refugiados vindos de países como Síria, Afeganistão e Iraque. À época, o AfD passou a defender uma agenda anti-imigração e anti-Islã.
Ao longo dos últimos anos, houve uma série de divisões internas e acusações de vínculos com grupos neonazistas. Em 2017, o AfD viveu seu principal momento do ponto de vista eleitoral, obtendo cerca de 13% dos votos e se tornando o maior partido de oposição à chanceler Angela Markel.
Em março deste ano, a imprensa alemã informou que o Departamento de Proteção à Constituição do país inseriu o AfD em uma lista de grupos considerados extremistas ou que oferecem ameaças à democracia. Assim, a sigla poderia ter suas atividades vigiadas pelos serviços de inteligência. Dias depois, entretanto, um tribunal ordenou a suspensão da vigilância até que a Justiça analisasse um pedido apresentado pelo partido.
Em abril, o AfD realizou uma convenção para definir as principais pautas para as eleições gerais de setembro, com uma forte agenda de radicalização contra a União Europeia, a imigração e as medidas de restrição para conter a Covid-19.
Neste ano, os alemães definirão o sucessor de Angela Merkel, no poder há 16 anos. O AfD aparece com cerca de 11% das intenções de voto, abaixo da marca de 2017.
Na convenção do partido, o negacionismo foi peça central, inclusive com o slogan “Alemanha, mas normal”, pressionando pela volta a uma suposta regularidade das condições de vida em meio à pandemia. Um manifesto naquele encontro se referia ao lockdown como “política de medo” e se contrapunha à utilização de máscaras.
“A AfD quer mostrar que essas orgias de proibição, esse aprisionamento, essa loucura de lockdown, que não há necessidade disso”, chegou a declarar Jörg Meuthen, colíder do partido.
Em uma resolução, o partido também disse considerar “necessária a saída da Alemanha da União Europeia e o estabelecimento de um novo grupo econômico e de interesse europeu”.
O partido ainda votou a favor da proibição total da entrada de parentes de refugiados já aceitos na Alemanha. O AfD tende a apresentar dois nomes para o posto de chanceler nas eleições: Alice Weidel e Tino Chrupalla.
Não foram raras, também, as ocasiões em que membros do AfD minimizaram o nazismo. Em 2018, Alexander Gauland, no posto de vice-líder do partido, afirmou que “Hitler e os nacionais-socialistas não foram mais do que excremento de pássaro”. Disse ainda que “os malditos 12 anos do nazismo não podem estragar os mais de mil anos da bem-sucedida história da Alemanha”.
No ano passado, o partido expulsou Christian Lüth, que sugeriu que migrantes deveriam ser mortos “a tiros” ou “por gás”. Antes, ele já havia sido suspenso da legenda por se descrever como um “fascista” e se gabar de sua “ascendência ariana”.
Não à toa, em 2019 a fundação que a administra o memorial do campo de concentração de Buchenwald afirmou que não eram bem-vindos os correligionários do AfD em cerimônias de homenagem às vítimas do nazismo. A medida deveria valer “enquanto não tiverem se distanciado de maneira convincente de suas posições antidemocráticas, contrárias aos direitos humanos e de revisionismo histórico”.
*Com informações da Deutsche Welle
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