Banco suíço projeta vitória de Lula e prevê que ele não governará ’em linha populista’

Credit Suisse avalia possível equilíbrio entre responsabilidade fiscal e agenda desenvolvimentista: 'Tarefa não será fácil, mas acreditamos que seja factível'

O ex-presidente Lula no aniversário de 42 anos do PT. Foto: Ricardo Stuckert

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O banco suíço Credit Suisse divulgou um relatório em que faz projeções a partir da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições deste ano. O documento de 43 páginas foi publicado nesta quinta-feira 17.

Na página 39, a empresa diz ter expectativa de “que Lula seja eleito em 2022” e faz uma série de avaliações sobre um eventual terceiro mandato do petista. Para a instituição financeira, “o consenso é de que Lula será pragmático se for eleito, aprovando reformas e avançando no processo de consolidação fiscal como fez em 2003”.

A companhia afirma que Lula “provavelmente não governaria em linhas populistas, como o discurso corrente dos membros do seu partido sugeririam, mas estaria mais alinhado ao governo de Dilma Rousseff em 2010 e 2014”.

O Credit Suisse descreve Lula como “um político experiente e que sabe que, para poder governar o País nos próximos anos, vai precisar manter a sua popularidade alta”. Diante dos indicadores sociais em baixa, o crescimento fraco e a inflação elevada, Lula “precisaria começar a sua administração com alta credibilidade e ação”.

O relatório lembra um texto escrito por Lula em junho de 2002, chamado de “Carta ao Povo Brasileiro”, em que o petista se comprometeu em manter o controle das contas públicas e da inflação. Desta vez, não haverá tal carta, diz o documento, mas as propostas do ex-presidente para partidos de centro e centro-direita “trazem confiança de que ele será pragmático”.

O banco ressalta que Lula e aliados petistas fizeram acenos à esquerda, com a proposta de modificação de reformas do governo de Michel Temer (MDB), como a reforma trabalhista, além de prometer aumento de gastos sociais e estabelecer impostos aos mais ricos. Em seguida, diz que Lula sabe que “a radicalização assustaria uma porcentagem de investidores e da comunidade empresarial, agravando a sua governabilidade”.


“Não vemos um governo Lula como extremamente pró-negócios que realizaria reformas que colocariam a economia em um caminho inequívoco de consolidação fiscal, mas também não o vemos como alguém que acabaria com a responsabilidade fiscal”, diz a companhia europeia.

Segundo a instituição, o equilíbrio entre a agenda de reformas estruturais e a agenda desenvolvimentista deve depender do seu grau de liberdade, a ser determinado pela sua margem de vitória na eleição, por sua base no Congresso e pelos índices dos preços.

O banco considera que Lula deve tranquilizar investidores sobre a capacidade do Brasil de estabilizar a dívida no médio e no longo prazo, mas que o petista terá de reconstruir o quadro fiscal e converter os recorrentes déficits em superávits.

“Até o momento, não temos clareza sobre quais diretrizes e regras serão propostas pela nova administração para recuperar a credibilidade fiscal, tão importante para reduzir os juros e retomar o crescimento sustentável”, avalia o relatório. “A tarefa não será fácil, mas acreditamos que seja factível.”

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