Política

Áudio de Temer e Joesley não foi editado, indica perícia da PF

Segundo diversos relatos da imprensa, Polícia Federal vê interrupções, mas não adulteração. Resultado é baque para Temer

Joesley Batista, da JBS, deixa a superintendência da Polícia Federal em Brasília após prestar depoiimento sobre as operações Bullish e Greenfield, em 22 de junho
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A estratégia do presidente Michel Temer e de sua defesa de contrapor as denúncias de Joesley Batista, dono da JBS, afirmando que o áudio entre os dois, gravado secretamente pelo empresário, foi adulterado, sofreu um duro baque. Conforme múltiplos relatos de diversos veículos de imprensa, a Polícia Federal concluiu em perícia que há mesmo dezenas de interrupções na gravação, mas que ela não sofreu nenhum tipo de edição.

Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, as interrupções são atribuídas pelo Instituto Nacional de Criminalística (INC), responsável pela perícia, ao tipo de aparelho usado por Joesley Batista para gravar Temer.

De acordo com a TV Globo, o laudo foi entregue em mãos ao delegado do caso, que foi ao INC para recebê-lo. O parecer será enviado na segunda-feira 26 ao Supremo Tribunal Federal (STF) e anexado ao inquérito, cujo relatório parcial foi entregue pela Polícia Federal ao STF na segunda-feira 19.

O áudio integra a delação da JBS, que compromete Temer diretamente. De acordo com Joesley Batista, do grupo J&F, controlador da companhia, e Ricardo Saud, ex-executivo da empresa, Temer pediu propina à JBS e manobrou para comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do doleiro Lucio Funaro. 

A integridade da gravação Temer-Joesley provocou uma “batalha de peritos” que colocou em oposição a grande imprensa brasileira, conhecida por seu discurso único em diversas frentes. O pano de fundo eram as relações dos órgãos jornalísticos com o governo Temer.

O Jornal Nacional, da Globo, grupo responsável pela divulgação em primeira mão da existência do grampo, recorreu a especialistas que classificam a gravação como “intacta”, mas o jornal Folha de S. Paulo e a defesa de Temer foram atrás de profissionais cujos laudos detectaram edições no arquivo. 

Folha contratou Ricardo Caires dos Santos, que apontou, segundo reportagem da publicação, 50 edições no áudio entregue às autoridades. No ano passado, o mesmo especialista foi contratado para analisar se havia ou não um fantasma em uma foto da atriz norte-americana Jéssica Alba, informação que O Globo fez questão de lembrar para desmerecer o especialista.

Contratado por Temer, Ricardo Molina construiu sua reputação com laudos realizados para as Organizações Globo. O mais famoso está relacionado ao episódio em que José Serra (PSDB), então candidato à presidência em 2010, foi atingido por uma bolinha de papel em uma agenda de campanha. 

Em defesa de Temer, Molina alegou que o arquivo de áudio entregue por Joesley à Justiça não tem condições técnicas de ser utilizado em um processo e ainda contestou passagens sobre as quais não pesavam qualquer ambiguidade. De acordo com o perito, Joesley não afirmou “todo mês” a Temer, uma referência, segundo o delator, a pagamentos a Eduardo Cunha para se manter calado na prisão, mas “tô no meio”.

Em coletiva, o perito chegou a assumir o papel de advogado de Temer ao chamar a Procuradoria-Geral da República de “ingênua” e “incompetente” por ter aceitado a gravação contra o peemedebista. 

Na sexta-feira 23, o advogado de Temer, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, tentou minimizar a importância da perícia da PF ao G1. “Posso adiantar que laudo não é uma verdade absoluta. Se existe um laudo dizendo que não houve manipulação, existem outros três dizendo que houve. É uma questão de análise e de julgamento final da autoridade responsável. E essa prova está sendo contestada sob outros aspectos, principalmente sobre a licitude”, disse Mariz.

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