Milhares de apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) foram às ruas de cidades de ao menos 25 estados e no Distrito Federal para defender a gestão do presidente neste domingo 26. Os atos foram estimulados pelo ex-capitão e por aliados em um momento no qual o governo federal enfrenta dificuldades para emplacar sua agenda no Congresso e tiveram um tom de enfrentamento ao Legislativo e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro apostou em uma arriscada estratégia ao buscar apoio popular para colocar o governo em uma melhor posição de barganha com o Congresso. A mobilização alimentada pelo presidente, contudo, ficou longe, por exemplo, de atrair os números de participação nos atos pelo impeachment de Dilma Rousseff, que chegaram a alcançar 3,6 milhões de pessoas em 2016. Eles também não lotaram os locais de encontro em diversas capitais.
A Polícia Militar não revelou estimativas de público em diversas capitais, mas São Paulo registrou participação expressiva e, em menor grau, Brasília – onde, oficialmente, 20 mil pessoas se reuniram em favor de Bolsonaro. Em Belém, a PM estimou entre 10 mil a 15 mil o número de manifestantes.
Enfrentando uma relação conflituosa com o Congresso, Bolsonaro preferiu não participar dos protestos. Durante um culto religioso no Rio de Janeiro no domingo, o presidente disse que as manifestações eram “espontâneas” e “que o povo estará nas ruas” contra “aqueles que, com suas velhas práticas, não deixam que o povo se liberte”.
Os protestos foram caracterizados por ataques diretos ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com quem Bolsonaro, Sergio Moro e Paulo Guedes têm enfrentado dificuldades para dar andamento em seus projetos. Cartazes em diversas cidades se referiram ao deputado como “idiota”, não brasileiro (ele nasceu no Chile) e até com ameaças de impeachment ou morte. Houve também hostilidades contra o STF e o Congresso.
“Há alguns dias atrás, fui claro ao dizer que quem estivesse pedindo o fechamento do Congresso ou STF hoje estaria na manifestação errada. A população mostrou isso. Sua grande maioria foi às ruas com pautas legítimas e democráticas, mas há quem ainda insista em distorcer os fatos”, disse Bolsonaro em sua conta no Twitter.
Há alguns dias atrás, fui claro ao dizer que quem estivesse pedindo o fechamento do Congresso ou STF hoje estaria na manifestação errada. A população mostrou isso. Sua grande maioria foi às ruas com pautas legítimas e democráticas, mas há quem ainda insista em distorcer os fatos.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 26 May 2019
Para o senador da oposição Randolfe Rodrigues (REDE-AP), o balanço parcial dos atos indica uma participação maior nos protestos de 15 de maio contra os cortes do governo na educação. “Parece-me muito aquém do que foi mobilizado, nem se compara com os protestos do dia 15, estão muito abaixo. Se for comparar com o dia 15, foi um 7 a 1 pro dia 15. Os robôs que o presidente Bolsonaro tem nas redes sociais não foram para as ruas, pelo menos agora de manhã”, disse ao jornal Folha de S.Paulo.
Rodrigues ainda afirmou que o jogo “perigoso” de Bolsonaro “enfraquece mais o apoio no Parlamento”. “E a última retaguarda que ele buscava era apoio popular nas ruas. Pelo menos por enquanto, até essa parte da manhã, a minha previa concepção que está formada é que não conseguiu, não alcançou.”
Mais alvos
Outro alvo central dos atos foi o STF. Em Brasília, manifestantes pediram o fechamento da corte e alguns se fantasiaram de lagosta, em uma referência a uma licitação do Supremo para a compra de alimentos com custo de cerca de 1 milhão de reais. Em Belo Horizonte, faixas com frases como “Brasil acima de tudo, STF abaixo de todos” e “STF, chega de mimimi. Já está decidido: prisão na segunda instância” foram exibidas. Em Curitiba, o STF foi chamado de “o maior inimigo” do Brasil.
O Congresso e o “centrão” também foram alvos de críticas. Em Belo Horizonte, um cartaz insinuava que o Congresso deveria ser bombardeado. Além disso, o MBL (Movimento Brasil Livre), que apoiou Bolsonaro durante as eleições e decidiu não participar dos atos deste domingo, também recebeu uma série de ataques e foi chamado de “bando de traidores” no ato em Brasília.
Os manifestantes defenderam a agenda do governo Bolsonaro, demonstrando apoio à reforma da Previdência e ao pacote anticrime de Moro, além de comprar a briga do ex-capitão com o Congresso.
Bolsonaro, Moro e Guedes receberam diversas homenagens por parte dos manifestantes. Houve também alguns cartazes defendendo intervenção militar, o fechamento do STF e Congresso e até mesmo o retorno da monarquia.
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