Política

Atos em apoio à Lava Jato preservam Temer e miram Renan e Maia

Manifestantes foram às ruas protestar contra mudanças no pacote anticorrupção aprovado pela Câmara. Extremistas voltam a pedir intervenção militar

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Em cerca de 200 municípios de ao menos oito estados, manifestantes foram às ruas neste domingo 4 para prestar apoio à Operação Lava Jato. Muitos pediram a saída de Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado, e de Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara.

Embora ambos sejam importantes aliados do governo, Temer não foi alvo direto da maioria dos manifestantes. Convocados pelo movimento Vem Pra Rua, um dos protagonistas dos protestos em defesa do impeachment de Dilma Rousseff, os atos tiveram participação de outras organizações que apoiaram a chegada de Temer ao poder, entre elas o Movimento Brasil Livre.

Mais uma vez, as manifestações contaram com a participação de grupos extremistas que pedem uma intervenção militar no País. No Rio, um grupo inflou um enorme boneco do juiz Sergio Moro fardado, batendo continência e com uma faixa presidencial. Em São Paulo, manifestantes em um carro de som também pediram a volta dos militares. 

Os participantes centraram suas críticas na atuação de Renan e Maia em relação às mudanças feitas pela Câmara no pacote anticorrupção. Inspirado na proposta 10 Medidas Contra a Corrupção, de autoria do Ministério Público Federal, o texto sofreu diversas modificações antes de ser aprovado. Enquanto o País voltava suas atenções ao acidente aéreo da Chapecoense, Maia inverteu a ordem das votações e deixou a análise do pacote para a madrugada da quarta-feira 30.  

Na votação, uma emenda que prevê crime de abuso autoridade para juízes e integrantes do Judiciário foi incluída no texto. Em resposta, os integrantes da força-tarefa da Lava Jato ameaçaram uma renúncia coletiva caso Temer sancione o projeto aprovado pela Câmara. 

Renan foi o principal alvo dos manifestantes neste domingo 4. Autor de um projeto específico sobre abuso de autoridade no Senado para punir juízes e integrantes do Ministério Público, o peemedebista tentou aprovar um requerimento de urgência para votar, ainda na quarta-feira 30, o pacote anticorrupção aprovado pela Câmara, mas a manobra foi derrotada por 44 votos a 14. 

No dia seguinte, o Supremo Tribunal Federal transformou Renan em réu por desvio de dinheiro. Ele é acusado de ter tido despesas pessoais da jornalista Monica Veloso, com quem mantinha relacionamento extraconjugal, pagas pela construtora Mendes Júnior em troca da apresentação de emendas favoráveis à empresa.

Em nota divulgada pela Presidência do Senado, Renan afirma entender “que as manifestações são legítimas e, dentro da ordem, devem ser respeitadas. “Assim como fez em 2013, quando votou as 40 propostas contra a corrupção em menos de 20 dias, entre elas a que agrava o crime de corrupção e o caracteriza como hediondo, o Senado continua permeável e sensível às demandas sociais”, afirmou o peemedebsta.

Numa curta nota oficial, Maia avaliou que as manifestações são legítimas e democráticas. Segundo o presidente da Câmara, manifestações, em caráter pacífico e ordeiro, servem para oxigenar a jovem democracia brasileira e fortalecer o compromisso do Poder Legislativo com o debate democrático e transparente de ideias.

A Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República afirmou, por meio de nota, que “a força e a vitalidade de nossa democracia foram demonstradas mais uma vez”. “Esse comportamento exemplar demonstra o respeito cívico que fortalece ainda mais nossas instituições. É preciso que os Poderes da República estejam sempre atentos às reivindicações da população brasileira.”

As manifestações

Em São Paulo, 15 mil cidadãos foram à Avenida Paulista, segundo estimativa da Polícia Militar. Em discurso, Kim Kataguiri, do MBL, atacou Renan e pediu para o governo “parar de se preocupar com a Lava Jato e cuidar da crise”. Ele não citou o nome de Temer. Também integrante do movimento, Fernando Holiday, eleito vereador neste ano pelo DEM, disse ter vergonha de ser do mesmo partido de Rodrigo Maia.

Havia uma expectativa quanto às possíveis críticas ao governo nos protestos, mas os líderes dos principais movimentos procuraram amortecê-las. Em vídeo gravado antes dos atos, Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua, esclareceu que o Executivo seria poupado. “O Vem Pra Rua não é a favor de Fora Temer. Nós não temos nenhum interesse de tirar o Temer do poder.” Recentemente, Temer pediu ajuda aos movimentos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff para ajudar a convencer a população da necessidade de reformas na Previdência e na legislação trabalhista. 

Ainda assim, alguns portavam cartazes com “Fora, Temer” e criticavam o peemedebista. Em uma faixa, um grupo de manifestantes indagava: “Temer, seu compromisso é com o Brasil ou com os corruptos?”. 

No Rio de Janeiro, milhares se reuniram na manhã deste domingo em Copacabana, na zona sul da cidade. Assim como em São Paulo, Renan e Maia foram os alvos prioritários dos manifestantes.

“O Congresso aproveitou nossa dor para empurrar goela abaixo medidas contra a população”, afirmou Adriana Baltazar, coordenadora do Vem Pra Rua no Rio. Além dos protestos contra o legislativo, multiplicaram-se faixas contra Lula, o PT e a decisão do STF de descriminalizar o aborto até o terceiro mês de gestação. 

Em Brasília, cerca de 4 mil manifestantes, segundo estimativa da PM, reuniram-se em frente ao Congresso Nacional. Um grupo chegou a jogar ratos de borracha e desenhos do roedor no lago em frente ao Parlamento. Em um carro de som, uma das lideranças fez questão de afirmar que o ato não apoiava a bandeira “Fora, Temer”.  

Em Belo Horizonte, os organizadores estimaram um público de 8 mil na Praça da Liberdade. Em Curitiba, onde se concentram as investigações da Lava Jato na primeira instância, a polícia também estimou 8 mil manifestantes. 

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