Política

Atos da Campanha Fora Bolsonaro neste sábado prometem maior presença da direita

Coordenação da mobilização passou a contar com articuladores de segmentos fora da esquerda

O presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Marcos Corrêa/PR
Apoie Siga-nos no

Há um elemento novo na organização dos protestos marcados para este 2 de outubro, pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro: a participação do fórum Direitos Já, associado a lideranças da direita.

O líder do grupo, o sociólogo Fernando Guimarães, que já integrou o PSDB e agora está no PSB, reuniu-se virtualmente com os articuladores da Campanha Fora Bolsonaro na segunda-feira 27, depois de tentativas de diálogo ao longo do mês de setembro.

O Direitos Já é um movimento criado em 2019 ligado a lideranças de 19 partidos, sendo que nove deles apoiam explicitamente a abertura do processo de impeachment de Bolsonaro. Segundo Guimarães, há expectativa pela presença de figuras fora da esquerda nos atos do dia 2 em São Paulo. Estão cotados o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), o presidente do diretório paulista do PSL, Júnior Bozzella, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-MA), o deputado José Nelto (Podemos-GO) e, possivelmente, até o presidente do Novo, João Amoêdo.

Outras figuras podem manifestar apoio aos atos por vídeo. Guimarães afirma que dialogou com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o senador José Aníbal (PSDB-SP), o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM) e o deputado Fábio Trad (PSD-GO).

Membros de pelo menos 21 partidos já confirmaram presença em São Paulo. Segundo Guimarães, militares da reserva e empresários também devem se somar às manifestações.

O Direitos Já adotou a posição de se mobilizar para atos contra Bolsonaro após os eventos do 7 de Setembro, quando o presidente da República proferiu uma série de discursos antidemocráticos em Brasília e São Paulo.

A ideia inicial foi, segundo Guimarães, viabilizar a data de 3 de outubro para um protesto conjunto entre lideranças de direita e a Campanha Fora Bolsonaro. A esquerda, porém, definiu a data de 2 de outubro, um sábado, dia da semana em que ocorreram quatro dos cinco atos sob protagonismo do campo progressista em 2021.

O movimento de Guimarães, então, recuou do dia 3 e articulou uma reunião presencial para 17 de setembro na sede da Força Sindical, com a participação da Campanha Fora Bolsonaro e de representantes partidários. Nesse encontro, o Direitos Já sinalizou que quer mobilizar um ato para novembro, mas que apoiaria as manifestações de outubro.

O sociólogo diz que outra reunião ocorreu em 23 de setembro, entre o Direitos Já e os nove partidos a favor do impeachment. Na ocasião, as legendas teriam reforçado o convite para que o movimento se unisse à construção dos atos de 2 de outubro. Foi a partir da reunião que a organização teria ingressado de fato na coordenação dos protestos, com a missão de alcançar setores mais conservadores. Nas palavras de Guimarães: “Ampliar o que faltava”.

O Direitos Já chegou a convidar o Movimento Brasil Livre para participar da última reunião, em 27 de setembro. O coordenador do MBL, Renan Santos, teria feito uma breve aparição no meio da reunião e exaltado a iniciativa. O coletivo, no entanto, não está convocando seus militantes para o dia 2. Procurado por CartaCapital, Renan Santos não respondeu.

Guimarães incentiva o uso das cores verde e amarela nos atos do dia 2, como forma de resgatar, para o campo democrático, os símbolos nacionais tão presentes nas propagandas bolsonaristas. Ele propôs ainda que o ato seja encerrado com o hino nacional.

“Cada um que for às ruas deve ir com a cor e a bandeira que se sentir mais à vontade. Mas aqueles que quiserem ir com a bandeira do Brasil e as cores verde e amarela, que tenham orgulho de fazê-lo”, diz o sociólogo.

Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares, afirmou que certamente o hino nacional será cantado, mas que não há deliberação sobre priorizar o uso das cores verde e amarela entre os organizadores.

Bonfim avalia como importante a entrada do Direitos Já. Porém, ainda não é totalmente consensual a estratégia de alcançar setores que, por exemplo, apoiaram o golpe contra Dilma Rousseff (PT), a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e as políticas econômicas do governo Bolsonaro.

“A gente pode construir um ato da esquerda do campo democrático com setores de direita, mas isso não significa que está eliminada a nossa diferença”, diz Bonfim.

No campo progressista, a novidade foi o anúncio de que Ciro Gomes (PDT) fará sua 1ª aparição em um ato da Campanha Fora Bolsonaro. Ele passará pelo Rio de Janeiro durante a manhã e seguirá para São Paulo à tarde. Seu principal adversário na esquerda, Lula, não deve comparecer. O PT deve ser representado no palanque por sua presidenta, Gleisi Hoffmann, e Fernando Haddad, que se encaminha para a disputa pelo governo de São Paulo.

A Avenida Paulista deve ter dez carros, entre a Rua da Consolação e o cruzamento com a Avenida Pamplona. O palanque principal será na altura da Rua Professor Otávio Mendes.

Darlan Montenegro, cientista político e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, considera que sozinha a esquerda não será capaz de dar andamento ao impeachment, nem mesmo deter Bolsonaro.

O pesquisador afirma que Bolsonaro tem intenções golpistas e que ainda não se pode descartar a possibilidade de que ele crie forças para uma investida autoritária.

“Não haverá impeachment se não se produzir um consenso muito amplo na sociedade. Isso envolve setores que apoiaram Bolsonaro”, avaliou o especialista, durante entrevista ao programa Direto da Redação, de CartaCapital no YouTube.

“Não foram as forças populares que seguraram o Bolsonaro até aqui”, prosseguiu o professor. “Pelo contrário: foram segmentos do campo conservador. Quem segurou os arroubos sistemáticos de Bolsonaro foi o Supremo Tribunal Federal, com apoio da Rede Globo, que são partícipes do golpe contra Dilma, da prisão do Lula, mas não têm interesse em que o Bolsonaro permaneça.”

Segundo a Campanha Fora Bolsonaro, 305 cidades confirmaram realização de atos contra Bolsonaro. Há previsão de que mobilizações ocorram em pelo menos 18 países.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo