Política

Ataques bolsonaristas preocupam a família de Txai Suruí: ‘Nunca vi algo tão horrível’

Nas redes sociais, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro ofendem e perseguem a jovem, que discursou na COP; partidos e organizações reagem

Foto: Reprodução
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A jovem indígena brasileira Txai Suruí, de 24 anos, que discursou na cerimônia de abertura da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, tem sido vítima de ofensas e ataques nas redes sociais. A perseguição, protagonizada por simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro, foi denunciada pela família da ativista e já provoca reações entre partidos políticos e organizações do movimento socioambiental.

“São várias mensagens com falta de respeito à identidade e à sexualidade. Quiseram atingir a Txai como pessoa, como ser humano. Nunca vi algo tão horrível, a não ser nos livros de história sobre a escravidão”, diz a ambientalista Ivaneide Bandeira, mãe da jovem, ainda emocionada com o que leu e ouviu sobre a filha. Os pais de Txai – ela é filha também do líder indígena Almir Suruí – também são alvos de perseguição política em Rondônia. Entre os diversos ataques, um provocou “vontade de vomitar de tanto racismo, injúria e preconceito” em Ivaneide.

 

Ela se refere ao vídeo postado no YouTube pelos influencers Felipe Lintz e Cléber Teixeira, conhecido como Cléber Jacaré. Entre outras baixarias, os bolsonaristas mostraram fotos de Txai com o namorado, vestindo jeans, para “revelar” que “esta índia não é bem assim uma índia” e que “namora branco e usa roupa de branco”.

Lintz, que exibiu diversas imagens publicadas por Txai em suas redes sociais, também estranhou o fato da jovem “usar smartphone” e “andar de elevador e de avião”. Jacaré, por sua vez, se referiu à ativista como “Txai Surubaí”. A jovem também foi “acusada” de gostar de Michael Jackson. “A coisa deve estar boa nesta aldeia”, fez graça Jacaré. Para Lintz, a COP26 é um evento “totalmente dominado pela esquerda”.

Em nota, a Rede Sustentabilidade, por intermédio de seu Elo Indígena, repudiou os ataques: “Após o discurso que ecoou ao mundo, as palavras de Txai não agradaram o presidente da República nem seus fiéis seguidores. Desde então, a jovem ativista tem sofrido com as inúmeras perseguições e fake news”, diz a nota pública.

De acordo com o partido, não é de agora que indígenas são perseguidos pelo governo Bolsonaro por denunciar sua realidade ao mundo. “É inadmissível que nossos líderes continuem sendo perseguidos por expressar os fatos. Txai é nossa voz frente aos retrocessos dos direitos indígenas e ambientais sofridos nos últimos meses e anos”, diz o documento.

Em um discurso que foi imediatamente replicado em dezenas de idiomas, Txai, única indígena e única brasileira a falar na abertura do evento realizado em Glasgow, levou alguns dos representantes dos 196 países signatários do Acordo de Paris às lágrimas. “A Terra está falando, e ela nos diz que não temos mais tempo. Os rios estão secando, os animais morrendo, as plantas não estão florescendo como antes”, afirmou.

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