Política

Atentados golpistas devem isolar radicais e reformatar bolsonarismo, dizem analistas

Uma pesquisa Datafolha revelou que mais de 90% dos eleitores repudiam os ataques

Foto: Sergio Lima / AFP
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As cenas de destruição do patrimônio nacional e as promessas de punição dividem a direita brasileira. Mas especialistas divergem sobre os riscos de um golpe de estado. Há quem tema ruptura se não houver pulso mais firme do governo federal sobre as forças de segurança. Outros afastam esse risco pela ausência de respaldo internacional, que levaria a prejuízos aos setores produtivos do país.

Os alertas continuam, mas o reforço no policiamento e as prisões de manifestantes terroristas esfriaram o movimento golpista que pretendia levar mais gente pra rua em várias cidades do país na quarta-feira 11. Em Brasília, três pessoas vestidas com a camisa da seleção brasileira compareceram, atendendo à convocação das redes sociais.

O Ministério da Justiça recebeu mais de 60 mil denúncias que visam ajudar a identificar pessoas que depredaram prédios públicos no último dia 8 e diz que também avançaram as investigações sobre financiadores e incentivadores dos atos golpistas.

Empresários de vários ramos, em pelo menos dez estados brasileiros, aparecem como suspeitos, com destaque para São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina. O relator do inquérito, ministro Alexandre de Moraes, disse que, dentro do processo legal e havendo comprovação, todos serão punidos.

Um dos empresários símbolos do bolsonarismo, Luciano Hang divulgou um vídeo em que afirma que agora torce pelo sucesso do governo Lula. “Fico com a consciência tranquila. Nada fiz de errado, senão ter trabalhado em prol de um candidato. Agora, temos um presidente novo. Vamos torcer para que o piloto faça uma ótima viagem. Eu estou dentro do mesmo avião. Que o Brasil possa encontrar a paz, a harmonia, a felicidade. Vamos acabar com o do discurso de ódio, pessoal”, afirmou Hang.

Isolamento dos extremistas

Dois analistas ouvidos pela RFI consideram que a polarização ainda é elevada e não dá mostras de arrefecimento por enquanto. Para o sociólogo e cientista político Paulo Baía, da UFRJ, haverá, no entanto, um isolamento dos mais radicais, especialmente a partir da quebradeira do último domingo e das reações que se sucederam a ela.

“O que se afastará é a vertente radical desse movimento, mas um campo conservador ativo vai encontrar no Congresso Nacional, na figura de Damares Alves, na figura de Hamilton Mourão e de vários outros parlamentares, e sobretudo na figura de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, interlocutores para enfrentar no nível institucional, no nível ideológico e no nível político o governo Lula. Vão reformatar o bolsonarismo, talvez até excluam o nome bolsonarismo. E Jair Bolsonaro, pelo que tenho percebido, será descartado desse processo”, afirmou o Baía.

Uma pesquisa Datafolha revelou que mais de 90% dos eleitores repudiam os ataques ao Congresso, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto. O historiador Paulo Aarão, da Universidade Federal Fluminense diz que seria preciso enquadrar forças de segurança, mas acha que a gestão Lula não tem esse perfil.

“A extrema direita está muito mobilizada e vai continuar pressionando o governo, criando situações de crise. Para lidar com essas ameças, o governo precisa ser muito firme. O problema é que dificilmente isso vai ocorrer. O presidente Lula sempre se comprometeu com políticas conciliatórias, e não parece decidido a romper com essa tradição. O ministro da Defesa é um homem de direita, não se disporá a enquadrar as Forças Armadas em nenhuma hipótese”, avalia Arrão.

Risco de ruptura

“Penso que ainda há e continuará havendo riscos de ruptura institucional. A única boa notícia é que a aventura insurrecional desastrada do último dia 8 isolou a extrema direita do conjunto da direita, que se distanciou claramente da aventura. Entretanto, esta situação é provisória e instável, e só se consolidará se houver uma ação institucional firme do governo e, principalmente, se movimentos sociais se dispuserem a defender a democracia nas ruas”, alerta o historiador da UFF.

Alguns políticos também temem que, se não houver firmeza na relação com as Forças Armadas e punição exemplar aos terroristas, pode haver brechas. Já Paulo Baía acredita que a prisão de algumas pessoas poderá incomodar setores mais poderosos, mas mesmo assim não vê espaço para um golpe de estado, principalmente por causa de sanções econômicas que poderia prejudicar setores produtivos.

“Durante todo esse período, nós tivemos ameaças, tivemos Jair Bolsonaro e várias pessoas querendo dar um golpe. E eles não deram, mas não porque faltou vontade de dar um golpe de estado, mas porque não existem condições objetivas, sobretudo no cenário internacional, que não respaldaria uma ruptura dessas, que prejudicaria as forças produtivas, sobretudo o agronegócio no Brasil.”

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