O atentado contra a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, deve servir de alerta a toda a América Latina sobre o risco que representa a extrema-direita. A análise é de Celso Amorim, que chefiou o Ministério das Relações Exteriores nos governos de Lula (PT).
Nesta sexta-feira 2, a Polícia Federal da Argentina encontrou 100 balas de calibre nove milímetros na casa do brasileiro Fernando Montiel, preso após tentar atirar contra a líder peronista, em Buenos Aires.
Aliado de Cristina e do presidente Alberto Fernández, Amorim disse a CartaCapital que a extrema-direita “não mede meios” e se sente cada vez mais incentivada a recorrer a atos violentos contra adversários políticos.
“A extrema-direita sempre foi violenta, mas agora ela é endossada até por pessoas em posição de autoridade, pessoas com muita influência”, avalia o ex-chanceler. “Acho que isso legitima atos. Dizem que não sabem se ele [Montiel] estava com alguém ou isolado, mas sempre é com alguém. Mesmo que ele esteja isolado, ele representa ali um sentimento expresso e legitimado por outras pessoas.”
Ele mencionou importantes vitórias de candidatos progressistas na América Latina, como Gabriel Boric, no Chile, e Gustavo Petro, na Colômbia, dois países que se voltaram para a esquerda após o fracasso da agenda neoliberal. Diante disso, segundo Amorim, o risco é de que a direita, na impossibilidade de chegar ao poder pelo voto, utilize-se de “meios extremos”. O ex-ministro enxerga também na Argentina um movimento de legitimação da violência, inclusive contra Cristina.
“É um alerta a toda América Latina”, resumiu. “Aqui no Brasil, houve ataque à caravana do Lula, ameaças de morte ao Lula. Como as pessoas fazem ameaça de morte a um ex-presidente impunemente e apenas pagam uma multa? É um sintoma muito ruim, além de ser um fato ruim em si. É um sintoma de uma doença social que se exprime no crescimento dessa extrema-direita.”
Questionado sobre o impacto que a tentativa de assassinato de Cristina deveria ter sobre o modo como Lula promove sua campanha eleitoral, Celso Amorim afirmou não se ocupar de aspectos específicos da estratégia do ex-presidente.
“Agora, se me perguntar se é um alerta de que a extrema-direita está disposta a tudo, é. Mais do que alerta, é um fato, que tem de ser objeto de repúdio e de repulsa de todos os democratas, não só dos progressistas.
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