Política
As pesquisas abalam a estratégia de Doria para 2018?
A julgar pelo que dizem seus aliados, o embate com tucanos e até a queda de popularidade em São Paulo fazem parte do jogo
As rotineiras viagens que faz pelo País estão gerando uma queda na popularidade do prefeito de São Paulo, João Doria, atualmente engajado em uma mal disfarçada candidatura à Presidência da República. No domingo 8, pesquisa Datafolha mostrou que a popularidade do tucano despencou. A gestão é considerada ótima ou boa por 32% da população, uma queda de nove pontos com relação a junho. Agora, a administração é regular para 40% e ruim/péssima para 26%. Em junho, os índices eram de 34% e 22%, respectivamente.
O prefeito reagiu aos números usando seu argumento preferido, o antipetismo. Atribuiu a queda à “herança do PT”. Apesar de 49% dos paulistanos acharem que as viagens de Doria para fora do município trazem mais prejuízos do que benefícios para a cidade, ele diz que vai continuar seu périplo.
A ambição do prefeito tem, de forma crescente, aumentado o desgaste com a velha guarda do PSDB. Em 6 de outubro, Doria se indispôs com Arthur Virgílio, o prefeito tucano de Manaus. Virgílio lançou sua pré-candidatura à presidência da República e afirmou que se dedicaria à campanha apenas ao fins de semana, ao contrário de Doria, que costuma deixar São Paulo em dias úteis.
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“O prefeito Arthur Virgílio é uma pessoa de bem e merece todo o respeito. E tem todo o direito de disputar, no PSDB, o direito de ser o pré-candidato”, afirmou Doria. “Mas, assim como não emito opiniões sobre a gestão dele à frente da Prefeitura de Manaus, entendo que dispenso as suas recomendações em relação à minha gestão à frente da Prefeitura de São Paulo”, afirmou.
Depois de Virgílio, Doria adentrou uma briga pública com o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman. Em vídeo, Goldman foi ao ataque.
Afirmou que Doria é “um dos piores políticos” que São Paulo já teve e que o prefeito se preocupa apenas em lançar sua candidatura. “Ele é político sim, um dos piores políticos que nós já tivemos em São Paulo”, disse na gravação. “Nesses nove meses, o prefeito ainda não nasceu. O prefeito ainda está em gestação. A única coisa que nasceu até agora foi um candidato à Presidência da República”.
Doria rebateu chamando o correligionário de “improdutivo, fracassado”. Disse ainda que ele vivia de pijamas, uma referência a sua idade – 79 anos.
“Sou velho, mas não sou velhaco”, rebateu Goldman. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o ex-governador foi além. Doria, disse ele, “aproveitou que havia uma reação forte antipetista na sociedade e galopou o tempo inteiro nisso, ser o anti-Lula”. Trata-se, diz o tucano, de um engodo eleitoral. “Aos poucos, porém, a população começa a perceber que não há nada além disso”, afirmou.
O embate com tucanos da velha geração é provavelmente bem-vindo por Doria. Reportagem da revista Piauí revelou, na semana passada, que o Movimento Brasil Livre (MBL) tem como plano desidratar o PSDB, retirando do partido quadros mais novos, simpáticos a Doria, e deixando “todo esse povo podre afundando com o PSDB”, uma referência aos aliados de Geraldo Alckmin e Aécio Neves.
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Cabe lembrar que o MBL não é mais um grupo qualquer, mas atua como uma espécie de milícia virtual de Doria. Para o grupo, que foi estratégico na derrubada de Dilma Rousseff, o ideal seria eleger Doria com o apoio do PMDB, do DEM, de ruralistas e evangélicos.
Também a impopularidade em São Paulo pode fazer parte dos planos de Doria. Segundo aliados do prefeito ouvidos pelo jornal O Estado de S.Paulo, o tucano, de olho nas eleições de 2018, precisa ficar conhecido no Brasil e, para isso, “o custo de algum desgaste local era previsto”. A queda na popularidade estaria, assim, “contratada”.
De acordo com esses mesmos aliados estrategistas, os 58% de paulistanos que preferem a permanência de Doria na prefeitura e os 55% que não votariam nele de jeito nenhum para o Planalto não constituem um problema. Seria “natural”, afirmam, que quem acabou de eleger o prefeito não goste da ideia de que ele saia do cargo, “mas vote nele quando a candidatura se concretizar”. Como se vê, não falta confiança. Falta combinar com o eleitor.
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