Política

As mentiras espalhadas por Bolsonaro que o próprio governo desmentiu

Do kit gay às rusgas com o primeiro escalão, CartaCapital relembra as declarações controversas do chefe do Executivo

Jair Bolsonaro Foto: Alan Santos/ Presidência da República
Apoie Siga-nos no

Os primeiros meses do governo Bolsonaro renderam uma série de polêmicas e recuos. E mais que isso. Em quase 100 dias de governo, o presidente deu pelo menos 130 declarações passíveis de checagem, das quais mais de 80 eram completamente falsas ou apresentavam algum grau de distorção. É o que mostram os dados da pesquisa do grupo Aos Fatos. Às vésperas do Dia Internacional da Checagem, 2 de abril, relembre algumas das gafes espalhadas pelo mandatário.

“Vejam a experiência da França, cujas fronteiras foram abertas para receber refugiados sem nenhum tipo de seleção ou de filtro.” (19 de março)

A Organização Internacional de Migração aponta que cerca de 11% da população francesa é imigrante, o que corresponde a 7,9 milhões, dos quais 370 mil são refugiados.

Bolsonaro e Trump no Salão Oval da Casa Branca (Foto: Brendan Smialowski / AFP)

“Nos hospedaremos na Blair House. É uma honraria concedida a pouquíssimos Chefes de Estado.” (17 de março)

O Departamento de Estado dos Estados Unidos oferece estadia no palácio Blair House para visitantes de Estado, oficial e oficial de trabalho. Com exceção de José Sarney, todos os governantes brasileiros desde João Goulart se hospedaram no local.

“As Forças Armadas sempre estiveram ao lado da democracia e da liberdade.” (07 de março)

Ao contrário do que diz o presidente, em vários momentos da história as Forças Armadas pregaram discursos e ações antidemocráticas. Um exemplo partiu do governante Castelo Branco, que convocou eleições indiretas, cassou opositores e articulou um golpe militar instituindo a ditadura no país.

“A caderneta [de vacinação] aqui logo na frente diz que é para criança de nove a 16 anos.” (07 de março)

Destinada a pessoas de 10 a 19 anos, a caderneta de saúde, e não de vacinação como foi afirmado por Bolsonaro, apresentada em uma uma live no Facebook, serve para informar os jovens sobre puberdade, higiene bucal, alimentação e prevenção de ISTs e DSTs. Para as crianças de 9 anos ou menos, há outro material, que não contém a seção sobre sexualidade.

“Detalhe: ela [a caderneta] é de 2012, da [autoria] senhora Dilma Rousseff” (07 de março)

O material foi criado em 2009 durante o mandato do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Ricos e pobres, servidores públicos, políticos ou trabalhadores privados, todos seguirão as mesmas regras de idade e tempo de contribuição.” (21 de fevereiro)

A PEC 6/2019, que prevê uma reforma no sistema previdenciário, determina que os aposentados do INSS precisam cumprir, no mínimo, 20 anos de contribuição, enquanto os servidores públicos, 25 anos.

“[Os médicos cubanos participantes do Mais Médicos] não tinham liberdade para ver seus familiares.” (14 de fevereiro)

A lei 12.871, que instituiu o Mais Médicos, previa que o Ministério das Relações Exteriores poderia conceder visto temporário “aos dependentes legais do médico intercambista estrangeiro, incluindo companheiro ou companheira”.

Bolsonaro cumprimenta Bebianno na posse (Foto: Marcos Corrêa/PR)

“Em nenhum momento conversei com ele [Bebianno].” (12 de fevereiro)

Embora tenha dito isso, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebiano, havia conversado com Jair Bolsonaro por meio de áudios no aplicativo WhatsApp sobre as acusações das candidaturas laranjas do PSL, conforme foi revelado pela revista Veja.

“Isso [recebimento de R$ 400 mil por uma candidata laranja do PSL] foi no final de setembro do ano passado, eu estava em casa em convalescença.” (12 de fevereiro)

A deputada federal Maria de Lourdes Paixão teve 274 votos e o terceiro maior benefício de verba do PSL, que foi inclusive maior do que a recebida pelo próprio Bolsonaro. O dinheiro foi enviado ao partido em 3 de outubro, quando o então candidato a presidência pelo partido estava internado no hospital após sofrer o atentado em Juiz de Fora (MG). (12 de fevereiro)

“E muitas vezes [Lula e Dilma] elogiaram o governo do presidente Kim Jong-Un na Coreia do Norte.” (24 de janeiro)

Não há registros que indiquem quaisquer elogios feitos por Lula ou Dilma ao governo de Kim Jong-Un.

“Como resultado [da política de desarmamento], a violência aumentou no Brasil, não caiu.” (24 de janeiro)

Em 2007, um estudo do Ministério da Saúde mostrou que, de 2003 a 2006, depois da sanção do Estatuto do Desarmamento, a cada semestre foi observada uma redução significativa no número de mortos por arma de fogo. Houve uma queda de 4.677 óbitos no período analisado, ou seja, 12%, considerando números absolutos.

“Nós temos […] a oitava economia do mundo.” (23 de janeiro)

Segundo dados do Fundo Monetário Internacional, até o ano passado o Brasil era a oitava maior economia do mundo, porém, neste ano foi ultrapassado pela Itália.

“Somos o País que mais preserva o meio ambiente.” (22 de janeiro)

O Brasil ocupa a 30° posição quando o assunto é preservação ambiental e a 69° em sustentabilidade.

“30% do nosso território são florestas.” (22 de janeiro)

Dados divulgados pelo Serviço Florestal Brasileiro desmentem o presidente e apontam que 61% do território é vegetação nativa.

“… com oito segundos de tempo de televisão [durante a campanha].” (22 de janeiro)

Durante o primeiro turno o então candidato Jair Bolsonaro teve, de fato, oito segundos de propaganda política, porém, no segundo turno teve o mesmo tempo de seu oponente Fernando Haddad (PT): oito segundos.

“Apenas três deputados votaram contra a criação do Ministério da Defesa.” (02 de janeiro)

A declaração é insustentável, uma vez que não há nenhum registro da votação. No site da casa legislativa, os registros de votação começam na 52ª legislatura, posterior a mencionada por Bolsonaro.

“Qual país do mundo que tem [Justiça Trabalhista]? Nenhum.” (02 de janeiro)

A Justiça do Trabalho existe em diversos países do mundo, como Inglaterra, Nova Zelândia, Hong Kong, França, Bélgica, Israel, Chile, México, Suécia, Noruega e Finlândia.

“A molecada de 15 anos, 70% não sabe uma regra de três simples, quem dirá uma composta. Não sabe interpretar texto. ” (02 de janeiro)

A última pesquisa do Pisa (Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes) mostra que 17,18% dos estudantes brasileiros tinham habilidades do nível 2 de Matemática, que corresponde à capacidade de “empregar algoritmos, fórmulas, procedimentos ou convenções básicos para resolver problemas que envolvem números inteiros” e compreende as regras de três.

“Temos 14 milhões de desempregados.” (02 de janeiro)

A pesquisa mais recente do IBGE publicou que, na época, o desemprego atingia 12,19 milhões de pessoas no país.

“Grande parte dos evangélicos são favoráveis à mudança da capital [de Israel].” (02 de janeiro)

Não existe nenhuma pesquisa que confirme a afirmação do presidente.

“Varia de 70 reais a 200 e poucos reais [o Bolsa Família].” (02 de janeiro)

O valor mínimo do Bolsa Família é de 89 reais, podendo chegar ao máximo de 372 reais.

“Não é 1,2 milhão de reais, são 600 mil reais [movimentados por Fabrício Queiroz, segundo o Coaf].” (02 de janeiro)

Segundo os relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Fabrício Queiroz movimentou 1,2 milhão de reais em sua conta bancária entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 — 605 mil reais entraram e 600 mil reais saíram.

“Nesse pente fino que o Coaf passou, pegou 17 funcionários, ou 18, que tinham movimentações atípicas.” (02 de janeiro)

O relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras sobre as transferências de recursos de assessores e ex-assessores de deputados estaduais do Rio de Janeiro identificou, ao todo, 75 servidores e ex-servidores com “movimentação financeira suspeita registrada em contas de suas titularidades”.

Para a diretora executiva e cofundadora do Aos Fatos, Tai Nalon, Bolsonaro construiu sua carreira política em cima de ideias pré-estabelecidas de modo equivocado. “Basicamente, o que temos hoje não é algo inédito, na verdade, o que é inédito é ele ter ganhado um respaldo institucional muito forte”, defendeu.

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo