Política
As denúncias de Kajuru sobre os gastos do cartão corporativo de Bolsonaro
O senador pediu que a PF investigue as despesas do ex-capitão


O senador Jorge Kajuru (PSB) entregou à Polícia Federal, na manhã desta quinta-feira 16, um pedido de abertura de investigação para apurar a existência de suposto esquema de desvio de recursos públicos, a partir cartão corporativo da Presidência da República, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por meio de notas fiscais frias.
O pedido foi feito com base nos documentos obtidos pela agência Fiquem Sabendo, que mostram gastos em motociatas, com hospedagens de luxo e alimentos que fogem do padrão que o ex-capitão costumava divulgar nas redes sociais.
A denúncia feita pelo senador aponta a contratação de um restaurante em Roraima, por 109 mil reais, para o fornecimento de 654 marmitas e 2.964 lanches à Secretaria Especial de Administração da Presidência da República no dia 26 de outubro de 2021, ou seja, 3.618 refeições em um único dia.
Outro caso elencado pelo documento se refere a refeições supostamente fornecidas por uma lanchonete, com valores altos de transações e feitos de forma regular. Ao todo, o estabelecimento foram gastos mais de 620 mil reais nos últimos quatro anos.
“Além das refeições, compras de gêneros alimentícios exorbitantes em supermercados localizados nos municípios das viagens também foram detectadas. É preciso esclarecer que não nos referimos às compras destinadas à manutenção dos Palácios da Alvorada e Planalto, em Brasília, mas sim compras efetuadas em outros Estados durante as viagens”, aponta a representação.
Somente no período de dezembro de 2020 e janeiro de 2021, a presidência gastou 63.403,78 mil reais com gêneros alimentícios adquiridos em supermercados localizados nos municípios do Guarujá/SP e São Francisco do Sul/SC.
O senador ainda coloca suspeitas sobre as diárias em hospedagens pagas a militares que integram as equipes de segurança presidencial.
O GSI pagou mais de 18 mil reais em diárias aos militares que trabalharam na segurança do Presidente da República, seus familiares e Vice-Presidente da República.
“Ao consultar o pagamento das diárias no Portal da Transparência, nota-se que o Presidente viajou com, em média, 50 militares. Ocorre que os documentos trazem números absurdos como a compra de até 3.600 refeições em um único dia, no município de Boa Vista/RR, portanto as contratações de alimentação são muito suspeitas”, cita trecho.
Segundo a representação, existem dúvidas sobre a efetividade de tais compras, sugerindo que os produtos e serviços contratados poderiam não ter sido entregues.
Além disso, o documento ainda aponta a existência de pagamentos feitos em duplicidade pela gestão Bolsonaro, como o caso da empresa contratada para fornecer alimentações dentro do avião presidencial.
O pagamento dos serviços realizados pela empresa, que totalizam mais de 3 milhões de reais, não foram realizados pelo cartão corporativo da presidência, e sim de forma ordinária, com liquidação bancária. No entanto, foram localizadas notas fiscais de fornecimento de refeições dentro do avião presidencial que foram pagas com os cartões corporativos.
A representação ainda destaca que diversos gastos no cartão corporativo foram feitas em cidades diferentes daquela que estava o ex-presidente, no mesmo dia.
Além disso, questiona a quantidade de refeições pagas aos militares que acompanham a comitiva, uma vez que esses agentes já recebem, via GSI, os valores referentes a alimentação das diárias.
“Os gastos com refeições e hospedagens podem ter sido usados criar uma fachada de legalidade aos desvios, ou seja, as notas fiscais contendo quantidades e valores elevados seriam “notas frias”, afirma o documento.
O senador ainda aponta que o tenente-coronel do Exército Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens do ex-capitão, teria sido o operador do esquema, “uma vez que ele era o encarregado pela execução de serviços pessoais da família Bolsonaro”.
Leia o documento na íntegra:
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