Política

Aras quer papelada da Lava Jato capaz de comprometer família Marinho

Procurador-geral requisitou documentos apreendidos em 2016 no Mossack & Fonseca, ponte com paraíso fiscais

Foto: José Cruz/Agência Brasil Foto: José Cruz/Agência Brasil
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O chefe da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, não quer dividir com o procurador-geral da República, Augusto Aras, o acervo informativo de seis anos do caso. Já tinha dado o recado por canais internos e nesta terça-feira 7 foi em público. “O acesso pela PGR só é legítimo nos termos das leis e decisões judiciais”, disse ao UOL. “A PGR não indicou os procedimentos que justificam o acesso.”

Segundo Aras, despachos de 2015 do então juiz Sérgio Moro autorizaram a força-tarefa a ceder o material a tribunais. Sua requisição a Dallagnol é de 13 de maio deste ano. Entre os conteúdos genéricos requeridos, Aras cita um especificamente: “dados de apreensão da empresa Mossak-Fonseca (sic), com as devidas atualizações, até a data de atendimento da presente requisição”.

Será que o procurador-geral, um fiel de Jair Bolsonaro, padrinho de sua chegada ao cargo, quer acertar de uma tacada Moro e a Rede Globo, ambos tratados hoje pelo presidente como inimigos? Detalhe: a concessão televisiva da Globo vence em outubro de 2022, último ano de mandato do presidente, que já declarou que só irá renová-la de não houver uma vírgula fora do lugar.

O Mossack & Fonseca é escritório especializado em abrir empresas e contas em paraísos fiscais para endinheirados, protagonista em abril de 2016 de um escândalo mundial, os Panamá Papers.
O escritório foi alvo da Polícia Federal (PF) em janeiro daquele ano, por ordem de Moro. Foi achada ali uma papelada indigesta para a família Marinho, a dona da Globo, como se verá adiante.

A Lava Jato descobrira que no prédio do Guarujá do triplex do Lula que não é do Lula havia um apartamento em nome de uma firma offshore registrada nos Estados Unidos pelo Mossack & Fonseca. E passou a suspeitar que o suposto imóvel de Lula teria ter por trás paraíso fiscal, lavagem de dinheiro, essas coisas. Daí a ida da PF ao escritório.

Dois funcionários do escritório foram presos, Ricardo Honorio Neto e Renata Pereira Britto, enquanto seus chefes, a panamenha Maria Mercedez Riano Quijano e o venezuelano Luiz Fernando Hernandez Rivero, fugiram do País. Neto e Renata ficaram pouco na cadeia e foram soltos por Moro, fora do padrão curitibano de trocar cárcere por delação.

Seis meses depois da Operação de janeiro de 2016, um relatório do delegado federal Rodrigo Luis Sanfurgo de Carvalho apontava crimes do Mossack & Fonseca, então já no centro dos Panamá Papers. Moro, Dallagnol e cia. nunca importunaram o escritório. Por quê?

Como CartaCapital contou na época, a batida policial da Lava Jato achara no Mossack & Fonseca documentos sobre uma empresa ligada à família Marinho. Era a Vaincre LLC, de Alexandre Chiapetta de Azevedo, ex-genro de João Roberto Marinho, um dos três filhos de Roberto Marinho.

A Vaincre era sócia da Agropecuária Veine, que por sua vez tinha um imóvel em Paraty (RJ) que seria usado pela família global e era alvo de processo por crime ambiental. A Agropecuária também era dona de um helicóptero que seria usado pelos Marinho.

Na papelada sobre a Vaincre, a Lava Jato encontrou o nome de uma empresa, a Glem Participações, da qual Azevedo era sócio e que tinha contratos com o governo do Rio afiançados pela filha de João Roberto, sua ex-mulher Paula.

Na época da reportagem de CartaCapital, em abril de 2016, as Organizações Globo enviaram um comunicado à revista. A emissora dizia que seus proprietários não eram donos da Agropecutária Veine, não usavam o helicóptero da Veine e que Paula Marinho não era dono direta ou indireta da Glem. Mas confirmava: “o responsável” pela Vaincre LCC é o ex-marido de Paula Marinho”.

Explicado o desinteresse de Moro e Dallagnol pela Mossack & Fonseca? E o interesse de Aras (Bolsonaro)?

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