Política

Aracaju: ‘Meu adversário é um retrocesso’, diz candidato do PSB

Aos 31 anos, Valadares Filho reúne partidos da base do governo federal na disputa contra João Alves (DEM)

O candidato do PSB à prefeitura de Aracaju, Antonio Carlos Valadares Filho. Foto: Rodrigo Martins
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Em Aracaju

A disputa pela prefeitura de Aracaju (SE) tem um cenário diferente da maioria das outras capitais do Nordeste. Enquanto em Recife, Fortaleza e outras a base aliada do governo Dilma Rousseff dilui-se em candidaturas próprias do PT, PMDB, PCdoB e PSB, na capital sergipana toda ela se concentra no jovem Valadares Filho (PSB), de 31 anos. Ele disputa o cargo contra o ex-prefeito e ex-governador João Alves Filho (DEM), líder nas pesquisas.

CartaCapital conversou com os dois principais candidatos. Aqui você ler a . Abaixo, a conversa com o candidato do PSB:

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O desafio de Valadares Filho (PSB) é  grandioso – possivelmente o maior de sua incipiente trajetória. Com duas passagens pela Câmara dos Deputados, o parlamentar foi escolhido no fim de junho como o representante da aliança dos partidos de esquerda para disputar a prefeitura de Aracaju. Terá como principal adversário um candidato que figura há quatro décadas na política sergipana.

O jovem candidato socialista tem cacife alto. Conta com o apoio do PT do governador Marcelo Déda, do PMDB do vice-governador Jackson Barreto, do PCdoB do prefeito Edvaldo Nogueira e, claro, de sua própria legenda, cujo maior expoente no estado é o pai, Antonio Carlos Valadares, presidente da Comissão de Ética do Senado. Trata-se de um caso bem particular, em que as principais siglas da base de Dilma Rousseff estão unidas na disputa por uma capital, a despeito dos rachas que dissolveram alianças históricas em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.

Apesar do sólido alicerce, a garantir 14 minutos diários no rádio e na tevê (quatro a mais que João Alves), a missão de Valadares Filho é espinhosa. Seu oponente lidera as pesquisas e, se a eleição fosse hoje, sairia vitorioso no primeiro turno. O jovem parlamentar não se abala: “João Alves tem um recall político enorme, mas tenho certeza que minha candidatura vai crescer e vamos ganhar essas eleições”.

CartaCapital: João Alves Filho (DEM) lidera as pesquisas e seria eleito em primeiro turno se a eleição fosse hoje. Mas o senhor tem uma sólida base aliada. Esse é o seu grande trunfo?

Valadares Filho: Sim. Tenho apoio do governador Marcelo Déda (PT), do vice-governador Jackson Barreto (PMDB), do prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB) e tenho o compromisso do ex-presidente Lula de participar da campanha. Se não puder subir no palanque, ao menos gravar o apoio para o programa da tevê ele vai. A Dilma eu não sei, mas o Lula estará conosco.

 

CC: O senhor é um jovem deputado, com 31 anos e apenas duas passagens pela Câmara. Como conseguiu o apoio de todos os partidos do bloco governista em torno da sua candidatura?


VF:
Desde o início os partidos aliados mostraram a disposição de manter a unidade nestas eleições. Durante todo esse processo havia um único discurso: unidade. Independentemente de quem fosse o candidato ou o partido escolhido para liderar a campanha, havia o compromisso de o bloco permanecer unido. E os líderes partidários entenderam que era o momento do PSB, de escolher um candidato jovem, capaz de inovar a administração, de renovar os quadros do bloco. Aliás, quero destacar o gesto de grandeza do deputado Rogério Carvalho, eleito democraticamente em prévia do PT e que abriu mão da candidatura para manter a unidade. Todos os partidos da base de Dilma estão juntos em Aracaju.

 

CC: A prefeitura de Aracaju é administrada pela aliança dos partidos de esquerda desde 2000. O governo do estado está com o PT há seis anos. O que explica esse ressurgimento da direita?

VF: Nós não tínhamos um candidato natural. Demoramos muito tempo para apresentar a minha candidatura. Por isso, considero natural que o João comece a disputa na frente. Ele está na política desde a década de 1970, quando foi nomeado prefeito pela ditadura. Teve três mandatos de governador e foi ministro do Interior de José Sarney. Disputou as quatro últimas eleições para o governo do estado e venceu uma (2002). Tem um enorme recall político. Todos o conhecem. Mas não tenho dúvidas que vamos crescer e ganhar essas eleições.

 

CC: Em 2010, o governador Déda se reelegeu com o voto das cidades do interior. Na capital, perdeu para João Alves. Isso não é um sinal de que a população de Aracaju está insatisfeita?


VF:
João Alves ganhou de Déda na capital por uma diferença de cinco mil votos, é praticante um empate técnico. E em todas as outras eleições que João Alves disputou tem sofrido derrotas em Aracaju, e por uma diferença significativa.

 

CC: Na sua avaliação, isso não reflete uma rejeição às administrações do prefeito Nogueira ou do governador Déda?


VF:
O governo tem problemas pontuais, é natural que eles existam. Mas é inegável que Aracaju, nos últimos dez anos, cresceu. Aracaju está mais moderna, desenvolvida. Está mais limpa, bonita. Tem investimentos nos bairros. Temos problemas pontuais na saúde, no transporte, no trânsito, na mobilidade urbana. Sabemos os gargalos que temos de enfrentar.

 

CC: Por que o senhor quer ser prefeito de Aracaju?


VF:
Para melhorar ainda mais a qualidade de vida da população. Administrar a cidade de uma forma moderna, com uma gestão inovadora, como o nosso partido tem feito em outras capitais. Quero representar uma geração que trouxe uma nova forma de administrar Aracaju. Fazer investimento em tecnologia, numa gestão pública modernizada e com respeito ao meio ambiente. Esse serão os principais eixos da nossa administração.

 

CC: Quais são os principais desafios da capital?


VF:
A saúde é um dos maiores. Trata-se de um problema nacional, mas que podemos dar contribuições. Um dos principais gargalos é a demora para marcar consultas e exames clínicos. Hoje, os exames são terceirizados. Os laboratórios particulares estão sobrecarregados com a demanda do Sistema Único de Saúde e os resultados demoram muito para serem apresentados. Muitos pacientes desistem no meio do caminho ou, quando o exame fica pronto, talvez a intervenção médica já não seja mais tão eficaz.

 

CC: O que fazer para resolver esse problema?


VF: Podemos construir um laboratório próprio da prefeitura, investir em tecnologia. Nada impede de fechar parcerias com o setor privado, mas os exames não podem mais demorar de 20 a 30 dias para ficar prontos. E não me refiro a exames complexos. Demora todo esse tempo mesmo para chegar o resultado de um simples exame de sangue, fezes ou urina. Não dá. Também sofremos com a falta de médicos e profissionais da saúde. Precisamos abrir concursos públicos para contratar mais gente e tornar a carreira pública atrativa, porque muito médico ou enfermeiro prefere trabalhar na iniciativa privada, que oferece melhores salários e possibilidade de crescimento.

 

CC: Há poucos profissionais da saúde concursados?

VF: Sim. Temos de valorizar o serviço público, para que os profissionais da área optem por fazer concurso público. Também temos problemas de logística na distribuição de medicamentos. Às vezes, falta um remédio em um hospital, mas tem no almoxarifado ou está sobrando em outra unidade de saúde. Pretendemos criar um sistema único e informatizado, de forma a gerenciar melhor os estoques. Além disso, vamos construir ou ampliar unidades de saúde em bairros que estão desassistidos ou com sobrecarga de atendimento. O conjunto Agusto Franco, por exemplo, tem 80 mil habitantes e um único posto de saúde.

 

CC: Quais são os projetos para a mobilidade urbana?


VF:
Vamos trazer o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e modernizar o transporte público de Aracaju. Essa obra custará cerca de 200 milhões de reais. Será feita em parceria com o governo federal e por meio de financiamento do BNDES. Queremos atrair a classe média, fazer com que mais pessoas optem pelo transporte coletivo, em vez de usar o carro para ir para qualquer lugar. O trânsito de Aracaju está ficando cada vez mais lento. Para ir do bairro do Atalaia, onde estamos agora, até o centro da cidade no horário de pico, vamos demorar no mínimo 30 minutos de carro. Quando eu era estudante, fazia esse percurso em 10 minutos. Ou seja, nos últimos 15 anos, com tanto carro nas ruas, os trajetos estão demorando duas ou três vezes mais.

 

CC: O que mais será feito para melhorar o trânsito da capital?

VF: Além de investir no transporte de massa, vamos investir em infraestrutura, ampliação da malha viária. Elevados, pontes, viadutos, tudo em parceria com o governo federal pelo PAC da Mobilidade Urbana. Pretendemos criar ainda, dentro da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), um órgão específico de engenharia de trânsito, para detectar os gargalos do trânsito para identificar pontos críticos, gargalos, e propor obras ou intervenções para fazer fluir melhor o trânsito. Um órgão de engenharia semelhante à CET de São Paulo.

 

CC: O senhor fala em grandes obras públicas, mas esse é o principal mote da campanha de seu adversário, João Alves.


VF:
Tem obras que são necessárias, indispensáveis. Mas o foco é no transporte público. Não vamos fazer obras por fazer. Faremos as que forem necessárias, mas sempre pensando na mobilidade.

 

CC: Quais são os principais problemas da educação?


VF:
Hoje, cerca de 89% das crianças de zero a três anos estão com déficit de creches. Vamos construir ao menos 5 creches e reduzir esse déficit pela metade. Temos 29 mil analfabetos com mais de 15 anos em Aracaju. Vamos criar projetos de alfabetização e oferecer a esses mesmos alunos cursos profissionalizantes, como construção civil, pintor, cabeleireiro, manicure. Até porque esses cursos são muito bem sucedidos em Aracaju: 80% dos estudantes já saem empregados. Outra questão importante é a recuperação das escolas municipais. A prefeitura já iniciou a reforma de várias delas, mas precisamos ampliar isso. Poucas escolas particulares têm estrutura tão boa quanto às municipais que já foram recuperadas. Também precisamos melhorar a relação com os professores, não só valorizar carreira, melhorar os salários, mas abrir o diálogo constante deles.

 

CC: Aracaju não tem tantas favelas como outras capitais do Nordeste, mas o que será feito para reduzir o déficit de moradia?

VF: Hoje, o déficit é estimado em 18 mil casas. Pelo programa Minha Casa, Minha Vida, desenvolvido em parceria com o governo federal, vamos construir 6 mil unidades habitacionais para famílias com renda de zero a três salários mínimos. Fora os investimentos para reassentar famílias que moram em áreas de risco, encosta de morros e palafitas.

 

CC: O senhor fala muito em parcerias com o governo federal, mas a prefeitura tem recursos para bancar todos esses projetos?

VF: Temos um orçamento de 1,2 bilhão de reais por ano e uma capacidade de endividamento de 1 bilhão de reais, por meio do BNDES, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento. A folha de pagamento do funcionalismo representa 45% do orçamento, vamos herdar uma prefeitura saneada. Note a diferença: Em 2006, o nosso orçamento era de 650 milhões de reais. Em seis anos, dobramos. Temos recursos para investir. Serão 250 milhões de reais do próprio Tesouro municipal, 350 milhões em convênios com o governo federal e outros 740 milhões em empréstimos. Poderíamos financiar até 1 bilhão de reais, mas queremos deixar uma prefeitura saneada, assim como a que o prefeito Edvaldo Nogueira está deixando.

 

CC: Na sua avaliação, Aracaju está no rumo certo?


VF:
Nos últimos 12 anos, Aracaju se transformou numa cidade que cada vez gera mais emprego, atrai mais turistas, investe nos bairros da zona norte, da periferia. Uma cidade que teve uma preocupação maior de cuidar das pessoas, com forte investimento social. O que está em jogo é a continuidade do que está dando certo, melhorar o que precisa e inovar na gestão. A eleição de João Alves representa um rompimento desses avanços. Um retrocesso. Ele tem dito que vai paralisar obras da atual gestão, que é contra a licitação das empresas de ônibus, que não concorda com a aprovação do Plano Diretor da cidade.

 

CC: Mas, nas últimas pesquisas, ele aparece com mais de 60% das intenções de voto válidas. É possível virar o jogo?

VF: A disputa será dura, muito difícil, mas vamos vencer. O povo de Aracaju é inteligente, saberá diferenciar. Nomeado pela ditadura, João Alves administrou Aracaju privilegiando a especulação imobiliária. Naquele momento, isso até trouxe algum benefício para Aracaju. Novas avenidas, novos prédios. Mas a situação hoje é outra. Um prefeito não pode se preocupar só com obras, tem de cuidar das pessoas, fazer investimentos sociais, se modernizar. E isso ele não demonstra estar disposto a fazer.

Em Aracaju

A disputa pela prefeitura de Aracaju (SE) tem um cenário diferente da maioria das outras capitais do Nordeste. Enquanto em Recife, Fortaleza e outras a base aliada do governo Dilma Rousseff dilui-se em candidaturas próprias do PT, PMDB, PCdoB e PSB, na capital sergipana toda ela se concentra no jovem Valadares Filho (PSB), de 31 anos. Ele disputa o cargo contra o ex-prefeito e ex-governador João Alves Filho (DEM), líder nas pesquisas.

CartaCapital conversou com os dois principais candidatos. Aqui você ler a . Abaixo, a conversa com o candidato do PSB:

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O desafio de Valadares Filho (PSB) é  grandioso – possivelmente o maior de sua incipiente trajetória. Com duas passagens pela Câmara dos Deputados, o parlamentar foi escolhido no fim de junho como o representante da aliança dos partidos de esquerda para disputar a prefeitura de Aracaju. Terá como principal adversário um candidato que figura há quatro décadas na política sergipana.

O jovem candidato socialista tem cacife alto. Conta com o apoio do PT do governador Marcelo Déda, do PMDB do vice-governador Jackson Barreto, do PCdoB do prefeito Edvaldo Nogueira e, claro, de sua própria legenda, cujo maior expoente no estado é o pai, Antonio Carlos Valadares, presidente da Comissão de Ética do Senado. Trata-se de um caso bem particular, em que as principais siglas da base de Dilma Rousseff estão unidas na disputa por uma capital, a despeito dos rachas que dissolveram alianças históricas em Recife, Fortaleza e Belo Horizonte.

Apesar do sólido alicerce, a garantir 14 minutos diários no rádio e na tevê (quatro a mais que João Alves), a missão de Valadares Filho é espinhosa. Seu oponente lidera as pesquisas e, se a eleição fosse hoje, sairia vitorioso no primeiro turno. O jovem parlamentar não se abala: “João Alves tem um recall político enorme, mas tenho certeza que minha candidatura vai crescer e vamos ganhar essas eleições”.

CartaCapital: João Alves Filho (DEM) lidera as pesquisas e seria eleito em primeiro turno se a eleição fosse hoje. Mas o senhor tem uma sólida base aliada. Esse é o seu grande trunfo?

Valadares Filho: Sim. Tenho apoio do governador Marcelo Déda (PT), do vice-governador Jackson Barreto (PMDB), do prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB) e tenho o compromisso do ex-presidente Lula de participar da campanha. Se não puder subir no palanque, ao menos gravar o apoio para o programa da tevê ele vai. A Dilma eu não sei, mas o Lula estará conosco.

 

CC: O senhor é um jovem deputado, com 31 anos e apenas duas passagens pela Câmara. Como conseguiu o apoio de todos os partidos do bloco governista em torno da sua candidatura?


VF:
Desde o início os partidos aliados mostraram a disposição de manter a unidade nestas eleições. Durante todo esse processo havia um único discurso: unidade. Independentemente de quem fosse o candidato ou o partido escolhido para liderar a campanha, havia o compromisso de o bloco permanecer unido. E os líderes partidários entenderam que era o momento do PSB, de escolher um candidato jovem, capaz de inovar a administração, de renovar os quadros do bloco. Aliás, quero destacar o gesto de grandeza do deputado Rogério Carvalho, eleito democraticamente em prévia do PT e que abriu mão da candidatura para manter a unidade. Todos os partidos da base de Dilma estão juntos em Aracaju.

 

CC: A prefeitura de Aracaju é administrada pela aliança dos partidos de esquerda desde 2000. O governo do estado está com o PT há seis anos. O que explica esse ressurgimento da direita?

VF: Nós não tínhamos um candidato natural. Demoramos muito tempo para apresentar a minha candidatura. Por isso, considero natural que o João comece a disputa na frente. Ele está na política desde a década de 1970, quando foi nomeado prefeito pela ditadura. Teve três mandatos de governador e foi ministro do Interior de José Sarney. Disputou as quatro últimas eleições para o governo do estado e venceu uma (2002). Tem um enorme recall político. Todos o conhecem. Mas não tenho dúvidas que vamos crescer e ganhar essas eleições.

 

CC: Em 2010, o governador Déda se reelegeu com o voto das cidades do interior. Na capital, perdeu para João Alves. Isso não é um sinal de que a população de Aracaju está insatisfeita?


VF:
João Alves ganhou de Déda na capital por uma diferença de cinco mil votos, é praticante um empate técnico. E em todas as outras eleições que João Alves disputou tem sofrido derrotas em Aracaju, e por uma diferença significativa.

 

CC: Na sua avaliação, isso não reflete uma rejeição às administrações do prefeito Nogueira ou do governador Déda?


VF:
O governo tem problemas pontuais, é natural que eles existam. Mas é inegável que Aracaju, nos últimos dez anos, cresceu. Aracaju está mais moderna, desenvolvida. Está mais limpa, bonita. Tem investimentos nos bairros. Temos problemas pontuais na saúde, no transporte, no trânsito, na mobilidade urbana. Sabemos os gargalos que temos de enfrentar.

 

CC: Por que o senhor quer ser prefeito de Aracaju?


VF:
Para melhorar ainda mais a qualidade de vida da população. Administrar a cidade de uma forma moderna, com uma gestão inovadora, como o nosso partido tem feito em outras capitais. Quero representar uma geração que trouxe uma nova forma de administrar Aracaju. Fazer investimento em tecnologia, numa gestão pública modernizada e com respeito ao meio ambiente. Esse serão os principais eixos da nossa administração.

 

CC: Quais são os principais desafios da capital?


VF:
A saúde é um dos maiores. Trata-se de um problema nacional, mas que podemos dar contribuições. Um dos principais gargalos é a demora para marcar consultas e exames clínicos. Hoje, os exames são terceirizados. Os laboratórios particulares estão sobrecarregados com a demanda do Sistema Único de Saúde e os resultados demoram muito para serem apresentados. Muitos pacientes desistem no meio do caminho ou, quando o exame fica pronto, talvez a intervenção médica já não seja mais tão eficaz.

 

CC: O que fazer para resolver esse problema?


VF: Podemos construir um laboratório próprio da prefeitura, investir em tecnologia. Nada impede de fechar parcerias com o setor privado, mas os exames não podem mais demorar de 20 a 30 dias para ficar prontos. E não me refiro a exames complexos. Demora todo esse tempo mesmo para chegar o resultado de um simples exame de sangue, fezes ou urina. Não dá. Também sofremos com a falta de médicos e profissionais da saúde. Precisamos abrir concursos públicos para contratar mais gente e tornar a carreira pública atrativa, porque muito médico ou enfermeiro prefere trabalhar na iniciativa privada, que oferece melhores salários e possibilidade de crescimento.

 

CC: Há poucos profissionais da saúde concursados?

VF: Sim. Temos de valorizar o serviço público, para que os profissionais da área optem por fazer concurso público. Também temos problemas de logística na distribuição de medicamentos. Às vezes, falta um remédio em um hospital, mas tem no almoxarifado ou está sobrando em outra unidade de saúde. Pretendemos criar um sistema único e informatizado, de forma a gerenciar melhor os estoques. Além disso, vamos construir ou ampliar unidades de saúde em bairros que estão desassistidos ou com sobrecarga de atendimento. O conjunto Agusto Franco, por exemplo, tem 80 mil habitantes e um único posto de saúde.

 

CC: Quais são os projetos para a mobilidade urbana?


VF:
Vamos trazer o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) e modernizar o transporte público de Aracaju. Essa obra custará cerca de 200 milhões de reais. Será feita em parceria com o governo federal e por meio de financiamento do BNDES. Queremos atrair a classe média, fazer com que mais pessoas optem pelo transporte coletivo, em vez de usar o carro para ir para qualquer lugar. O trânsito de Aracaju está ficando cada vez mais lento. Para ir do bairro do Atalaia, onde estamos agora, até o centro da cidade no horário de pico, vamos demorar no mínimo 30 minutos de carro. Quando eu era estudante, fazia esse percurso em 10 minutos. Ou seja, nos últimos 15 anos, com tanto carro nas ruas, os trajetos estão demorando duas ou três vezes mais.

 

CC: O que mais será feito para melhorar o trânsito da capital?

VF: Além de investir no transporte de massa, vamos investir em infraestrutura, ampliação da malha viária. Elevados, pontes, viadutos, tudo em parceria com o governo federal pelo PAC da Mobilidade Urbana. Pretendemos criar ainda, dentro da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), um órgão específico de engenharia de trânsito, para detectar os gargalos do trânsito para identificar pontos críticos, gargalos, e propor obras ou intervenções para fazer fluir melhor o trânsito. Um órgão de engenharia semelhante à CET de São Paulo.

 

CC: O senhor fala em grandes obras públicas, mas esse é o principal mote da campanha de seu adversário, João Alves.


VF:
Tem obras que são necessárias, indispensáveis. Mas o foco é no transporte público. Não vamos fazer obras por fazer. Faremos as que forem necessárias, mas sempre pensando na mobilidade.

 

CC: Quais são os principais problemas da educação?


VF:
Hoje, cerca de 89% das crianças de zero a três anos estão com déficit de creches. Vamos construir ao menos 5 creches e reduzir esse déficit pela metade. Temos 29 mil analfabetos com mais de 15 anos em Aracaju. Vamos criar projetos de alfabetização e oferecer a esses mesmos alunos cursos profissionalizantes, como construção civil, pintor, cabeleireiro, manicure. Até porque esses cursos são muito bem sucedidos em Aracaju: 80% dos estudantes já saem empregados. Outra questão importante é a recuperação das escolas municipais. A prefeitura já iniciou a reforma de várias delas, mas precisamos ampliar isso. Poucas escolas particulares têm estrutura tão boa quanto às municipais que já foram recuperadas. Também precisamos melhorar a relação com os professores, não só valorizar carreira, melhorar os salários, mas abrir o diálogo constante deles.

 

CC: Aracaju não tem tantas favelas como outras capitais do Nordeste, mas o que será feito para reduzir o déficit de moradia?

VF: Hoje, o déficit é estimado em 18 mil casas. Pelo programa Minha Casa, Minha Vida, desenvolvido em parceria com o governo federal, vamos construir 6 mil unidades habitacionais para famílias com renda de zero a três salários mínimos. Fora os investimentos para reassentar famílias que moram em áreas de risco, encosta de morros e palafitas.

 

CC: O senhor fala muito em parcerias com o governo federal, mas a prefeitura tem recursos para bancar todos esses projetos?

VF: Temos um orçamento de 1,2 bilhão de reais por ano e uma capacidade de endividamento de 1 bilhão de reais, por meio do BNDES, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento. A folha de pagamento do funcionalismo representa 45% do orçamento, vamos herdar uma prefeitura saneada. Note a diferença: Em 2006, o nosso orçamento era de 650 milhões de reais. Em seis anos, dobramos. Temos recursos para investir. Serão 250 milhões de reais do próprio Tesouro municipal, 350 milhões em convênios com o governo federal e outros 740 milhões em empréstimos. Poderíamos financiar até 1 bilhão de reais, mas queremos deixar uma prefeitura saneada, assim como a que o prefeito Edvaldo Nogueira está deixando.

 

CC: Na sua avaliação, Aracaju está no rumo certo?


VF:
Nos últimos 12 anos, Aracaju se transformou numa cidade que cada vez gera mais emprego, atrai mais turistas, investe nos bairros da zona norte, da periferia. Uma cidade que teve uma preocupação maior de cuidar das pessoas, com forte investimento social. O que está em jogo é a continuidade do que está dando certo, melhorar o que precisa e inovar na gestão. A eleição de João Alves representa um rompimento desses avanços. Um retrocesso. Ele tem dito que vai paralisar obras da atual gestão, que é contra a licitação das empresas de ônibus, que não concorda com a aprovação do Plano Diretor da cidade.

 

CC: Mas, nas últimas pesquisas, ele aparece com mais de 60% das intenções de voto válidas. É possível virar o jogo?

VF: A disputa será dura, muito difícil, mas vamos vencer. O povo de Aracaju é inteligente, saberá diferenciar. Nomeado pela ditadura, João Alves administrou Aracaju privilegiando a especulação imobiliária. Naquele momento, isso até trouxe algum benefício para Aracaju. Novas avenidas, novos prédios. Mas a situação hoje é outra. Um prefeito não pode se preocupar só com obras, tem de cuidar das pessoas, fazer investimentos sociais, se modernizar. E isso ele não demonstra estar disposto a fazer.

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