Cerca de 150 pessoas realizaram, nesta sexta-feira 23, a Plenária Nacional do Impeachment, uma reunião virtual para articular um “superpedido” de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. A ideia é que os signatários de todos os pedidos feitos até agora constem em apenas um requerimento.
A composição maior foi de figuras da esquerda, como a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a líder da bancada do PSOL na Câmara, a deputada Talíria Petrone (RJ), mas também participaram os deputados Alexandre Frota (PSDB-SP), Joice Hasselmann (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP), que apoiaram Bolsonaro no passado.
O pedido único de impeachment deve listar todos os crimes já citados pelos requerimentos anteriores, relacionados à condução da pandemia, a declarações sobre a ditadura militar e a participações em atos antidemocráticos. Um grupo de trabalho deve tratar da formulação do texto na semana que vem.
Uma nova reunião também deve tratar de outros dois encaminhamentos: a formulação de um manifesto contra Bolsonaro e a realização de atos, que podem ser virtuais ou presenciais, como em carreatas e panelaços.
Vice-presidente do PT, o deputado José Guimarães (PT-CE) avalia que houve “alta representatividade”, com membros de oito partidos. Um ato contra Bolsonaro deve ser realizado em no máximo 20 dias, disse.
“Vamos começar a organizar o ato nacional na semana que vem, estado por estado”, afirmou Guimarães. Segundo ele, a mobilização ainda não deu sinais de que resulte numa frente ampla posteriormente. “O objetivo é tirar o Bolsonaro. Não vamos confundir as coisas, o que vai acontecer depois é outra história.”
Rogério Correia (PT-MG) destacou que também se debateu o acompanhamento da Comissão Parlamentar de Inquérito que apura a omissão do governo na pandemia, a CPI da Covid.
“Ela será parte fundamental para criar as condições de que se abra o processo de impeachment, mesmo com o andamento da CPI”, disse o deputado, citando entrevista do ex-chefe da Secretaria de Comunicação, Fábio Wajngarten, à revista Veja, em que admitiu cenário preocupante da crise sanitária e culpou o general Eduardo Pazuello. “Há um reconhecimento deles próprios de que a situação gerada levou a mortes.”
Presente na plenária como convidada, Regina Ávila, do Sindicato Nacional dos Docentes, disse ter visto “disposição” entre os participantes dos diferentes campos ideológicos para focar no que os “unifica”.
“A plenária conseguiu reunir setores que, em outros pontos de pauta, teriam seriíssimas divergências, como no projeto de lei de retorno às aulas presenciais, na reforma administrativa e na Lei de Segurança Nacional”, comentou Regina. “A importância agora é de um entendimento de que o impeachment de Bolsonaro é a defesa da vida.”
Vem aí: SUPER PEDIDO DE IMPEACHMENT!
Lembrando que o nosso está entre os 100 pedidos que podem unificar, foi assinado pelos líderes partidários do campo progressista e presidente de partidos e tem foco na pandemia. ✊ pic.twitter.com/POjp1VTeul
— José Guimarães (@guimaraes13PT) April 23, 2021
Movimento tem que ser “supra-ideológico”, diz Joice Hasselmann
A CartaCapital, Joice Hasselmann defendeu uma mobilização que evite demarcações à esquerda ou à direita e que preze por ser “suprapartidária” e “supra-ideológica”. A deputada do PSL diz temer a repetição do “ranço de 2018”, em que “a esquerda foi para um lado, a direita para outro, e ninguém apoiou a pauta de ninguém”.
A formulação do pedido único de impeachment, portanto, terá o desafio de unir as argumentações que contemplem todos os setores ideológicos envolvidos, diz ela. Em relação aos atos conjuntos, ela sugere ações simbólicas como a utilização de bandeiras idênticas em residências, como forma de protesto contra o presidente da República.
“Não pode ser um movimento da esquerda ou da direita decepcionada com Bolsonaro, porque nós acabamos excluindo parte das pessoas”, diz a parlamentar. “Cada um de nós tem que trabalhar com o seu nicho, mas acima de tudo, mostrar que o movimento é nacional, em defesa do Brasil e da democracia. Isso foi muito bem aceito.”
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