Política

Após morte de aliado de Trump, empresários bolsonaristas defendem ‘caça às bruxas’ em empresas

Tallis Gomes conclamou empregadores a vasculharem redes sociais para identificar aqueles que teriam ‘comemorado’ o assassinato; Nikolas Ferreira também cobra demissões

Após morte de aliado de Trump, empresários bolsonaristas defendem ‘caça às bruxas’ em empresas
Após morte de aliado de Trump, empresários bolsonaristas defendem ‘caça às bruxas’ em empresas
Charlie Kirk durante comício de campanha de Donald Trump em 2024 –Yasuyoshi Chiba/AFP
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Empresários brasileiros alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), têm fomentado uma espécie de ‘caça às bruxas’ a funcionários que demonstrem simpatia por ideiais de esquerda. O movimento ganha combustível de uma narrativa conspiratória que opõe “o bem contra o mal” e ecoa o clima tenso nos Estados Unidos, amplificado após o assassinato do ativista de ultradireita Charlie Kirk, aliado de Donald Trump.

Kirk foi atingido por um tiro disparado de um telhado próximo, enquanto falava durante um evento universiátio em Utah. O suspeito preso, Tyler Robinson, de 22 anos, teria confessado indiretamente o crime a um amigo da família, e foram encontradas munições gravadas com frases de fóruns gamers, memes da internet e símbolos políticos.

De um lado, críticos destacaram os discursos radicais de Kirk sobre raça, gênero e porte de armas – que, segundo eles, funcionavam como um ensaio para a incitação à violência. De outro, seus simpatizantes conectam o episódio a uma linha de ataques políticos recentes, como a facada contra Bolsonaro em 2018, o atentado contra Trump em 2024 e o assassinato do político colombiano Miguel Uribe no ano passado: todos reunidos num mesmo enredo que aponta para uma suposta perseguição global à direita.

Foi o caso do empresário Tallis Gomes, que conclamou empregadores a vasculharem as redes de seus funcionários para identificar aqueles que teriam “comemorado” a morte de Kirk. “A ideologia dessa turma mata”, afirmou, em um vídeo publicado nas redes sociais.

“Nós, líderes e empregadores, não podemos tratar esse tipo de postura como se fosse normal ou aceitável. O emprego, não é apenas uma forma de trocar dinheiro por horas trabalhadas, é um ato de confiança”, diz em um trecho da publicação. “Nossa arma hoje é o emprego. Se os empreendedores e líderes desse país começarem a olhar para as redes sociais dos seus funcionários e candidatos verão claramente quem escolheu o caminho da luz, e quem se aliou às trevas da inveja, da destruição, da mentira e da morte”, completou.

Em seguida, o empresário acusou a esquerda de promover um “fascismo” destinado a dissolver famílias, enfraquecer a fé e destruir a ordem social. A resposta, segundo ele, deveria ser firme: “Esse tipo de gente não merece emprego.”

Não é a primeira vez que Tallis Gomes investe contra a esquerda brasileira. Em 2024, o empresário renunciou ao comando de uma escola de negócios após afirmar que ‘esquerdistas’ não deveriam ser contratados por supostamente não trabalharem bem.

O discurso encontrou eco em outras vozes do mercado financeiro brasileiro, caso de Eduardo Cavendish, que compartilhou a publicação, com o endosso: “Ótimo vídeo, que mais pessoas tenham a coragem dele”.

Na política, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) foi além: anunciou nas redes que pediria ao prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), a demissão de um produtor do Theatro Municipal que havia republicado um post classificando Kirk como nazista. Segundo Ferreira, o prefeito teria confirmado a notificação à Fundação Theatro Municipal determinando a exoneração imediata do funcionário.

Em nota, a Fundação Teatro Municipal confirmou que pediu o desligamento do colaborador à organização social que administra o espaço e que está tomando as medidas legais cabíveis. A Fundação disse ainda ter sido surpreendida com a ‘infeliz publicação’, que tem teor ‘inapropriado e incompatível com os valores éticos, culturais e institucionais que orientam o trabalho da Fundação Theatro Municipal e seus equipamentos‘.

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