Política

Após deixar a prisão, Beto Richa tem pouco apoio político

Ex-governador convidou 399 prefeitos para ato de apoio, mas recebeu apenas 25. Ainda assim, candidatura ao Senado está mantida

Beto Richa ficou preso por quatro dias, até Gilmar Mendes determinar soltura
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Na tentativa de mostrar força política, o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB) convidou os 399 prefeitos de todo estado para uma manifestação de apoio na terça-feira 18, em seu comitê de campanha. O que se sabe é que apenas 25 prefeitos atenderam ao chamado do tucano. Na madrugada do sábado 15, Richa deixou o regimento da Polícia Montada, em Curitiba, onde permaneceu preso por quatro dias, e declarou que sua candidatura ao Senado está mantida.

A reunião de ontem foi fechada à imprensa. Richa falou durante 50 minutos e dos 34 deputados estaduais que o apoiavam na Assembleia Legislativa enquanto governador, apenas três compareceram

Delatado pelo empresário, ex-deputado estadual e amigo de longa data, Tony Garcia, Richa foi preso na manhã de terça-feira 11, em seu apartamento, pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Com ele foram detidos sua mulher, Fernanda Richa; o irmão e ex-secretário de Infraestrutura, Pepe Richa; o primo, Luiz Abib Antoun; o ex-chefe de Gabinete, Deonilson Roldo; dois ex-secretários de seu governo e dois empresários. Foram cumpridos 15 mandados de prisão e 26 de busca e apreensão. Todos são alvos da “Operação Rádio Patrulha”.

Segundo o delator, um ex-deputado eleito em 1992 pelo PRN, partido de Collor de Mello à época, amigo de Eduardo Cunha e Paulo César Farias, Richa tinha conhecimento de todas as negociações. Aliás, Garcia contou em uma longa entrevista que foi ele quem indicou Eduardo Cunha à PC Farias para ocupar, em 1991, o cargo de presidente da Telerj.  

Leia também: Preso, Richa pode ser alvo de núcleo duro de seu governo

Pelo acordo firmado com o Ministério Público, entregou documentos, vídeos, áudios e gravações de conversas onde os acusados tramavam o golpe. Em um dos vídeos, o empresário Celso Frare retira de envelopes 200 mil reais em espécie para ser entregue ao ex-governador. Ao MP, Frare revelou que Pepe, irmão de Richa, que não aparece nas imagens, estava presente na sala naquele momento. Para os promotores, Richa era o chefe da “organização criminosa”.

Tratava-se de um programa de recuperação de estradas rurais no Paraná, implementado entre 2012 e 2014, onde três empresários – Celso Frare; Osni Pacheco (já falecido) e Joel Malucelli – abocanharam uma licitação de 72,2 milhões de reais. A proposta consistia em superfaturar os contratos e repassar aos acusados 8% do faturamento bruto como propina. Em seus depoimentos ao Gaeco, tanto Frare como Malucelli admitem que o tema “propina” foi discutido em reunião entre as partes. Foi o que bastou para o juiz da 13ª Vara Criminal de Curitiba, Fernando Fischer, decretar a prisão temporária da trupe.

Na sexta-feira 14, por volta das 17 horas, o magistrado transformou a prisão temporária de 10 dos 15 detidos, inclusive Richa, em prisão preventiva, quando não há prazo para soltura. A defesa recorreu ao Supremo Tribunal Federal e em menos de quatro horas o ministro Gilmar Mendes determinou que Richa e todos os demais fossem soltos – exceto o ex-chefe de Gabinete, Deonilson Roldo, preso na Polícia Federal pelo envolvimento em outra operação, por decisão do juiz Sérgio Moro. Richa e os demais ganharam não só a liberdade, mas um habeas corpus preventivo que impede qualquer ato de prisão posterior.

No despacho, Mendes argumentou que “decisão que decretou a prisão temporária do requerente está em dissonância com a lei e se baseou em fatos bastante antigos, utilizando-se de elementos genéricos e inespecíficos que não demonstraram, in concreto, a necessidade da medida extrema”.

O diretor do Gaeco, promotor Leonir Batisti, reagiu e prometeu recorrer. “Naturalmente não concordamos com a decisão. Especialmente por ter sido proferida por um ministro escolhido em circunstâncias de estratégia altamente duvidosa em termos legais”, afirmou. “A estratégia mencionada pelo procurador foi o pedido feito pela defesa dos acusados diretamente a Gilmar Mendes, sem que a pauta fosse distribuída ou examinada pelo ministro de plantão.

Justificou ainda que o delator procurou o Gaeco em maio último e assinou o acordo de delação premiada em agosto. “Nós reafirmamos a correção, isenção e impessoalidade com que agimos no episódio. Cumprimos o que estabelece a legislação, que é o agir quando se tem conhecimento de um fato e apurá-lo. Foi o que fizemos”, destacou Batisti.

Nesta terça-feira 18, a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, deu entrada no Supremo Tribunal Federal com um Agravo Regimental que interpõe contra a decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes ao determinar a revogação da prisão temporária. No pedido, a Procuradora solicita que Mendes “reconsidere a decisão e determine a remessa do pedido à livre distribuição. (…) Caso assim não entenda, pede que este agravo seja remetido para julgamento do Pleno, com o seu consequente provimento”. O MP do Paraná também impetrou recurso no STF contra a decisão do ministro Gilmar Mendes.

Enquanto isso, Richa tenta sobreviver. A governadora Cida Borghetti (PP), candidata à reeleição, pediu ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná a exclusão de seu nome da coligação. A medida não tem qualquer valor legal, mas trata-se de um gesto político. Desde a prisão do tucano, ela tem afirmado “que cada um deve pagar pelos seus atos”.

Em seu discurso de fim de festa para os poucos prefeitos, deputados e apoiadores, o ex-governador foi lacônico. “Esse momento jamais sairá da minha mente. É nessas horas que a gente conhece quem são os verdadeiros amigos. Infelizmente, alguns se afastaram”, afirmou. Os dias de glória, fausto e poder político, parecem coisas do passado. A campanha ao Senado, assim como sua própria trajetória política, se desmancha. Correm o risco de submergirem no esgoto da história.

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