Apagão privatista

Após temporal, Porto Alegre se vê refém da inércia de empresa vendida por Eduardo Leite

Protestos. Diante do descaso da concessionária, moradores afetados montaram barricadas pelas ruas – Imagem: César Lopes/Prefeitura de Porto Alegre e Redes sociais

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A tempestade que castigou o Rio Grande do Sul na noite da terça-feira 16 deixou um rastro de destruição em 51 municípios gaúchos. Epicentro do recente dilúvio, Porto Alegre sofreu rajadas de vento de até 100 quilômetros por hora, que derrubaram 450 árvores e provocaram a interdição completa de 90 ruas. Em apenas uma hora, caiu um aguaceiro de 70 milímetros, mais da metade da precipitação pluviométrica prevista para todo o mês de janeiro (120 mm). Devido ao apagão de energia, cinco das seis estações de tratamento e bombeamento de água deixaram de funcionar. A estimativa é de que 1,2 milhão de habitantes, cerca de 90% da população porto-alegrense, ficou sem luz e com as torneiras secas. Os hospitais públicos precisaram concentrar os atendimentos aos casos emergenciais. Mais de 60 Unidades de Pronto Atendimento tiveram de suspender as atividades.

Quando a capital gaúcha despertou na manhã seguinte, nenhum semáforo funcionava. O trânsito estava caótico, as vias ficaram intransitáveis, não havia agentes de tráfego suficientes para controlar a situação. Exemplo do despreparo das cidades brasileiras para lidar com eventos climáticos extremos, cada vez mais comuns em decorrência do aquecimento global, Porto Alegre também se viu refém da desastrosa política de entregar para a iniciativa privada serviços essenciais à população. Passadas 48 horas do temporal, 260 mil consumidores continuavam sem luz e sem água. Privatizada pelo governador tucano Eduardo Leite, a CEEE Equatorial, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na cidade, ainda não havia normalizado a situação na segunda-feira 22. Seis dias após o apagão, alguns bairros, a exemplo Coronel Aparício Borges, na Zona Sul, permaneciam totalmente às escuras. Diante do descaso, moradores montaram barricadas com galhos de árvores pelas ruas em protesto.

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2 comentários

Gabriel Almeida 27 de janeiro de 2024 10h13
Pior do que esse privatismo fajuto, é a população que endossa tal ideia absurda. Quando uma casa está desgastada, com defeitos na parte elétrica e tudo mais, ninguém vende por preço de banana. A gente reforma! Cuida de tratar dos problemas! A lógica desse pessoal é a de vender por preço de vento, mesmo se a casa ainda estiver boa! E não se engane ao pensar que se trata de burrice! Esses parlamentares e políticos do executivo recebem contrapartidas por isso. Basta ver quem financiará suas campanhas no futuro. É a prova de que vivemos na ditadura burguesa. Quando eles pagam propina, tá tudo dentro da lei. Quando um jovem o faz para receber uma CNH, é crime.
CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 28 de janeiro de 2024 13h15
O pior é ouvir o nosso Prefeito Municipal jogar para a conta da Equatorial a questão dos geradores. Aliás, isso ele faz muito bem: jogar nas costas dos outros a culpa dos erros de sua gestão. Porém, esses problemas vêm desde o tempo de Fogaça na Prefeitura. Vide as obras da Copa de 2014, que começaram em 2010 e ainda não terminaram. Fui auditor do TCE gaúcho e vi isso de bem perto…

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