Política
Ao justificar gasto milionário na virada de ano, CGU diz que Bolsonaro ‘despachou’ na praia
Na agenda oficial do presidente, consta apenas um compromisso entre 19 de dezembro e 5 de janeiro


O ministro-chefe da Controladoria Geral da União, Wagner Rosário, disse nesta terça-feira 20 que o presidente Jair Bolsonaro não estava de férias entre 18 de dezembro e 5 de janeiro, quando os gastos presidenciais chegaram a 2,4 milhões de reais. Segundo ele, o chefe do Palácio do Planalto despachou “fora do local costumeiro”.
As informações foram prestadas por Rosário à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados.
“O presidente da República despachou diariamente com todos seus ministros e assessores, também só nesse período, assinou um decreto, sete medidas provisórias e sancionou seis projetos de lei. Então, só por aí a gente entende que o presidente da República não estava de férias, ele estava a trabalho no local fora do local costumeiro, onde ele realiza as suas atividade”, declarou.
Segundo dados obtidos pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO), os gastos de Bolsonaro entre o fim de 2020 e o início de 2021 chegaram a 2,4 milhões de reais.
“No momento em que o País passa – e já passava – por uma quantidade de mortes absurda, o mundo começava a vacinar e o Brasil não, o fim do auxílio emergencial, enfim, um problema social e sanitário agudo, o presidente consegue tirar férias e ainda ter o absurdo de gastar mais de 2,4 milhões de reais nessas férias com dinheiro público”, criticou Vaz em contato com CartaCapital. “É um grande absurdo, é de indignar a sociedade como um todo”.
Bolsonaro passou o fim de ano entre Santa Catarina e o litoral de São Paulo. Na agenda do presidente, o único compromisso oficial entre 19 de dezembro e 5 de janeiro seria um encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, no dia 23 de dezembro, em Brasília.
As despesas questionadas são relativas às idas de Bolsonaro a São Francisco do Sul, no litoral catarinense, entre 19 e 23 de dezembro, e ao Guarujá, em território paulista, entre 28 de dezembro e 4 de janeiro.
Quase três meses depois de apresentados os requerimentos pelo deputado Elias Vaz, vieram as respostas da Secretária-Geral da Presidência e do Gabinete de Segurança Institucional. O ofício n° 152/2021/SG/PR/SG/PR, enviado pela secretaria, revela que as despesas pagas com cartão corporativo nas férias do ex-capitão chegaram a 1.196.158,40 reais.
Nesse montante estão incluídos os gastos com hospedagem do presidente e de sua comitiva, alimentação e combustível.
Já o ofício n° 57/2021/SE/GSI/GSI/PR, do GSI, calcula o custo de 1.053.889,50 reais com manutenção e combustível dos aviões utilizados pela comitiva. A prestação de contas apontou o gasto de 185 mil dólares e a conversão para a moeda brasileira foi feita pelo deputado do PSB. O montante se refere à “locomoção terrestre, aquática e aérea do presidente, sua família, convidados e toda a equipe de profissionais, inclusive da segurança”.
Elias Vaz também pediu ao GSI as informações sobre “o valor total com passagens aéreas e diárias a agentes públicos civis e militares”. Neste caso, o gasto chegou a 202.538,21 reais.
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