Política

‘Ao fim e ao cabo, os militares estão sendo covardes com o País’

O professor Rafael Alcadipani não vê cenário para um golpe à 64. Mas teme que a acefalia das FAs aprofunde ainda mais a erosão democrática

Comandante do Exército, general Edson Pujol. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
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A queda simultânea dos três comandantes das Forças Armadas confirmada nesta terça-feira 30, intensificam a tensão provocada pela saída inesperada do general Fernando Azevedo e Silva, que deixou ontem o Ministério da Defesa.

É primeira vez na história que três comandantes das Forças Armadas pedem renúncia conjunta. A crise é a maior desde a demissão em 1977 do então ministro do Exército Sylvio Frota por Ernesto Geisel, em pleno regime militar.

Entre generais, circula a tese de que a decisão é uma resposta à ingerência crescente de Bolsonaro sobre as tropas. Um militar que troca impressões com colegas fardados disse a CartaCapital ver tentativas de “quebra da organização constitucional do Estado”, o que seria “inadmissível”.

O professor Rafael Alcadipani, especialista em forças policiais e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, não vê (por ora) cenário para um golpe aos moldes de 64. “Quem dá golpe não avisa. E não fica vazando pra imprensa. Essa tese de defesa das Forças Armadas soa muito bonita aos militares…”. Mas teme que a acefalia verde-oliva fortaleça ainda mais o presidente e aprofunde a erosão democrática.

“Eu acho que a democracia brasileira nunca esteve sob tanto perigo. O Congresso, o STF e a sociedade civil não estão se dando conta do perigo que esse representa. E acho que, ao fim e ao cabo, os militares estão sendo covardes com o País”, diz ele.” Flertando com o caos em meio à maior crise sanitária da história. E a impressão fica é que o Bolsonaro pode dar um golpe… Em 2021, o Brasil está se comportando como republiqueta, e os militares estão apoiando isso.”

E completa:  “O militarismo brasileiro é forjado na lógica do caudilhismo latinoamericano. E toda a hora o caudilhismo teima em aparecer. Eles entraram de cabeça nesse projeto [do Bolsonaro] e são sócios desse projeto.”

Às vésperas do 57º aniversário do golpe de 64, comemorado nesta quarta 31, Marinha, Exército e Aeronáutica estarão sem comandantes.

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