Não trocamos ouro pela vida de nossos filhos e nossos netos. O garimpo destrói nossa cultura, nossas florestas, envenena nossos rios, cria conflitos com nossos parentes e acaba com os nossos locais sagrados”, afirmam, em carta datada de 2021, as lideranças dos povos Ye’Kwana, Yanomâmi, Xikrin, Kayapó e Munduruku, que habitam algumas das terras indígenas mencionadas por Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal, no despacho em que ele determina ao governo federal a expulsão dos garimpeiros ilegais que invadiram sete áreas demarcadas. Se o apelo dos indígenas tivesse sido respeitado, talvez o mundo não estaria assistindo estarrecido à tragédia humanitária que se abateu sobre os Yanomâmis.
As etnias Ye’Kwana e Yanomâmi dividem o mesmo território, em Roraima, e se unem aos Kayapós e Mundurukus, no Pará, numa luta antiga contra o avanço da mineração clandestina. O segundo estado, por sinal, abriga a maior concentração de garimpos ilegais em terras indígenas do País, até mais que na TI Yanomâmi. Segundo o MapBiomas, em 2021, a TI Kayapó tinha 11.542 hectares de área degradada pela atividade, seguida pela Munduruku, com 4.743 hectares de destruição. “Vemos a consequência disso na nossa saúde, na nossa cultura, na floresta. O garimpo interfere diretamente em nossa sobrevivência. É triste observar o que que está acontecendo”, lamenta Maial Paiakan, filha de Paulinho Paiakan, um dos grandes líderes da etnia Kayapó, que morreu em 2020 vítima da Covid-19.
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