Em 16 de dezembro do ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica realizou um leilão para encontrar empresas dispostas a investir em linhas de transmissão. A maior companhia do setor na América Latina não estava entre as escolhidas para tirar do bolso 3,5 bilhões de reais em cinco anos. Fazia seis meses que a Eletrobras havia sido privatizada, e uma das justificativas usadas pelo governo Jair Bolsonaro para a venda era que, sob comando estatal, a holding perdera capacidade de investimento. Duas semanas após a desestatização, em junho, a Aneel promovera um leilão parecido, e dos 15 bilhões em investimentos, a Eletrobras tinha aportado meros 134 milhões, a fim de pôr de pé, em Rondônia, uma linha de transmissão de 11 quilômetros, pouco menos do que os 13 quilômetros da ponte Rio-Niterói.
Apesar da justificativa da administração Bolsonaro, dinheiro em caixa não é exatamente o problema da empresa. De 2011 a 2022, a Eletrobras acumulou lucros de 14 bilhões de reais. Em 30 de dezembro passado, duas semanas depois de ter ficado de fora do último leilão da Aneel, os acionistas reuniram-se em uma assembleia extraordinária e decidiram distribuir a si próprios 863 milhões em dividendos, seis vezes o valor da obra em Rondônia (o lucro anual foi de 3,6 bilhões). Aproveitaram o embalo e aumentaram o salário de diretores e integrantes do conselho de administração. Os ganhos dos primeiros saltaram de 50 mil para 348 mil por mês. Aqueles dos segundos, convocados esporadicamente, ficou em 26 mil. “O objetivo da Eletrobras agora é, acima de tudo, lucrar e distribuir dividendos. E seus novos controladores não hesitarão em remunerar bem aqueles que se mostrarem alinhados e dispostos a passar por cima de tudo, até mesmo dos compromissos com a população brasileira, para alcançar lucros cada vez maiores”, afirmou na assembleia o representante da associação dos trabalhadores da empresa, a Aeel, uma das acionistas.
Leia essa matéria gratuitamente
Tenha acesso a conteúdos exclusivos, faça parte da newsletter gratuita de CartaCapital, salve suas matérias e artigos favoritos para ler quando quiser e leia esta matéria na integra. Cadastre-se!
Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.
Já é assinante? Faça login