Na petição em que pede à Justiça Federal autorização para deflagrar a Operação Águas Claras, que investiga desvio de dinheiro na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), o Ministério Público Federal lista 14 grupos de irregularidades que teriam sido cometidos pelos cartolas da natação brasileira. Uma delas diz respeito à aquisição de passagens aéreas para atletas competirem no Brasil e no exterior. Segundo o MPF, essas compras era fraudadas, e pela própria CBDA.
Conforme mostra a decisão da juíza Raecler Baldresca, da 3ª Vara Federal de São Paulo, o MPF investigou diversas licitações de passagens aéreas feitas pela CBDA e detectou que as disputas eram costumeiramente travadas entre três empresas – Mundi Tour, F2 Viagens e Turismo e Roxy Turismo – “sendo que em todas elas está última foi vencedora”.
Segundo a juíza, a perícia externa do MPF mostrou “fortes indícios” de que as duas primeiras são empresas de fachada, pois não possuem sites e os telefones que constam na internet não pertencem a elas. Em seguida, os peritos fizeram cotações com outras três agências de turismo, inclusive a Roxy, e obtiveram orçamentos mais baratos para viagens exatamente iguais. Este foi o caso, também, do preço ofertado pela Roxy, mais barato que o cobrado da CBDA dois anos antes.
Ainda segundo a descrição da acusação feita pela juíza Baldresca, o MPF obteve emails da CBDA, por meio de interceptação autorizada, que mostram que “os preços dos orçamentos apresentados pela Roxy eram, na maioria das vezes, montados pela própria Confederação, a qual solicitava à agência que colocasse os orçamentos em papel timbrado, os quais eram enviados de volta à CBDA como se tivessem sido elaborados originalmente pela empresa”. Depois, afirma a juíza, a CBDA obtinha orçamentos maiores que o da Roxy para garantir a vitória da empresa.
O dono da Roxy é Michael Bruno Werwie. O MPF pediu à Justiça sua prisão temporária, assim como a de Coaracy Nunes, presidente da CBDA, mas a magistrada recusou, determinando a condução coercitiva do empresário. A sede da Roxy no centro do Rio de Janeiro foi alvo de um mandado de busca e apreensão.
Ainda segundo o MPF, a Roxy fornece passagens para a CBDA há dez anos e, nos últimos cinco, recebeu pagamentos da confederação da ordem de 23 milhões de reais.
No total, entre todas as fraudes suspeitas, o MPF estima que mais de 40 milhões de reais teriam sido desviados da CBDA.
Além de Coaracy Nunes, foram presos o diretor financeiro da confederação, Sérgio Ribeiro Lins de Alvarenga, e o coordenador técnico do polo aquático, Ricardo Cabral. Ricardo de Moura, secretário geral de Natação, está foragido.
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