Política

‘A régua aplicada no passado tem de ser aplicada no futuro’, diz relator de processo sobre Moro no TCU

Bruno Dantas dá as cartas na apuração sobre a passagem do ex-juiz pela consultoria norte-americana Alvarez & Marsal

‘A régua aplicada no passado tem de ser aplicada no futuro’, diz relator de processo sobre Moro no TCU
‘A régua aplicada no passado tem de ser aplicada no futuro’, diz relator de processo sobre Moro no TCU
Bruno Dantas e Sergio Moro. Fotos: Marcos Oliveira/Agência Senado e HEULER ANDREY/AFP
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O ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União, usou as redes sociais neste sábado 5 para fazer considerações sobre o Direito interpretadas como um recado ao ex-juiz Sergio Moro.

Dantas é o relator de um processo no TCU que investiga a passagem de Moro pela consultoria norte-americana Alvarez & Marsal.

“O Direito é produto da cultura e da história (Recasens Siches). Sua régua, assim como a das garantias fundamentais, não muda de uma hora para a outra. A régua aplicada no passado recente precisa ser aplicada no futuro breve, afinal ubi eadem ratio, ibi eadem legis dispositio“, escreveu Dantas.

A expressão com que Dantas encerra sua mensagem significa, em tradução livre: “Onde existe a mesma razão fundamental se aplica o mesmo dispositivo legal”.


Moro e aliados, como o ex-procurador Deltan Dallagol, dobraram a aposta nas críticas após o subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, do MP junto ao TCU, pedir a Bruno Dantas a “indisponibilidade dos bens” do ex-juiz.

Segundo Furtado, novas informações apontam “risco da inviabilização do ressarcimento e do recolhimento de tributos aos cofres públicos”, ou seja, sonegação de impostos ao Brasil.

Em nota, Moro disse que recebeu a notícia do pedido de Rocha Furtado com “perplexidade”.

“Minha vida pública e privada é marcada pela luta contra a corrupção e pela integridade, nada tenho a esconder. Fica evidenciado o abuso de poder perpetrado por este Procurador do TCU”, alegou o ex-ministro de Jair Bolsonaro.

Horas depois, Dallagnol saiu em defesa do aliado de longa data. Em vídeo publicado nas redes sociais, classificou o pedido de bloqueio como “vergonhoso”, “absurdo” e uma “forçação de barra”.

“O Tribunal de Contas da União nem atua em sonegação fiscal. Quem atua é a Receita Federal. E, mesmo quando a Receita Federal atua, ela não sai bloqueando bens, ela faz uma fiscalização e, se ela chegar a uma conclusão de que existe uma sonegação, e se houver algum risco de não pagamento, aí, sim, ela vai pedir o bloqueio”, alegou o ex-procurador-chefe da Lava Jato.

Na semana passada, Moro declarou que “não enriqueceu” ao trabalhar para a Alvarez & Marsal. Admitiu, porém, ter embolsado o equivalente a cerca de 3,7 milhões de reais, conforme cotação atualizada do dólar.

A empresa obteve no mínimo 42,5 milhões de reais de companhias investigadas pela Lava Jato:

  • 1 milhão por mês da Odebrecht e da Atvos (antiga Odebrecht Agroindustrial);
  •  150 mil da Galvão Engenharia;
  • 115 mil do Estaleiro Enseada (que tem como sócias Odebrecht, OAS e UTC);
  • e 97 mil da OAS.

Em dezembro, Lucas Rocha Furtado manifestou a intenção de compreender os termos da atuação do ex-juiz, sob suspeita de ter recebido para fornecer informações privilegiadas à consultoria. Moro, como magistrado, julgou e condenou executivos da Odebrecht, cliente da Alvarez & Marsal no processo de recuperação judicial. O ex-ministro de Bolsonaro está na mira da Corte por um suposto conflito de interesses.

Moro, contratado pela consultoria em 2020, foi anunciado pela própria empresa como sócio-diretor de Disputas e Investigações. Poucos meses depois, conforme manifestação do escritório ao TCU, ele foi “rebaixado” a “consultor”. Em outubro de 2021, para Moro se dedicar à pré-campanha pelo Podemos à Presidência, o contrato foi rescindido.

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