Política

A íntegra do depoimento de Lula a Sérgio Moro

Confira os dez vídeos do interrogatório do ex-presidente na Justiça Federal de Curitiba

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou depoimento ao juiz Sérgio Moro na terça-feira 10, no âmbito da Operação Lava Jato. O caso envolve o tríplex do Guarujá (SP), que segundo a acusação do Ministério Público Federal teria sido reservado a Lula como parte de pagamento de propina originária de contratos entre a Petrobras e a empreiteira OAS.

Em suas alegações finais, o ex-presidente chamou a denúncia sobre o triplex de “eminentemente política”, afirmou que o MPF o está acusando com base “em um power point mentiroso” e criticou enfaticamente a mídia. Moro, por sua vez, afirmou que não tem nenhuma rusga pessoal com Lula. “Lhe asseguro que será julgado unicamente com base nas leis e na prova do processo, o senhor pode ficar seguro quanto a isso”.

Confira abaixo todos os vídeos do depoimento:

Início do depoimento

O depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou por volta das 14h15 e antes das perguntas começarem o juiz Sérgio Moro fez questão de negar qualquer desavença com o Lula. “O que determinará o desfecho são as provas que serão colecionadas e a lei. Quem faz a acusação é o Ministério Público.”

Moro mencionou também os boatos de que Lula poderia ser preso. “Isso são boatos e seus advogados já deve, ter alertado de que não há essa possibilidade, mas quero deixá-lo absolutamente tranquilo quanto a isso”, afirmou.

Sobre o triplex, Lula confirmou o que já havia dito em depoimento quando foi conduzido coercitivamente: confirmou que visitou o imóvel com o empreiteiro Léo Pinheiro. “Fui lá, coloquei 500 defeitos e nunca mais voltei”. Segundo Lula, o apartamento não teria utilidade, já que por ser uma figura pública não teria como frequentar a praia. Além disso, disse que o apartamento seria pequeno para sua família, com cinco filhos e oito netos.

Sobre as reformas, Léo Pinheiro, segundo Lula, afirmou que veria o que fazer com os defeitos apontados e faria uma proposta, o que acabou não acontecendo.

Sítio em Atibaia

Neste trecho, Moro questiona Lula sobre as reformas no sitio em Atibaia, no interior de São Paulo, ao que Lula responde que terá prazer em responder quando chegar o momento. O depoimento da quarta-feira 10 diz respeito exclusivamente à acusação de recebido propina da empreiteira OAS por meio da reserva e reforma do tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, litoral de São Paulo e a três contratos firmados entre a OAS e a Petrobras. O advogado Cristiano Zanin, que defende Lula, inclusive, interferiu dizendo que não se tratava de Lula “se reservar ao silêncio”, como colocado pelo juiz, mas sim de uma delimitação do objeto do depoimento.

 O “mês Lula”

Moro afirmou que várias testemunhas apontaram as reformas no apartamento como benefícios para Lula e sua esposa, Marisa Letícia. O ex-presidente respondeu: “Aqui, na sua sala, tiveram 73 testemunhas, grande parte de acusação do Ministério Público. O que aconteceu nos últimos 30 dias vai passar para a história como o mês Lula, porque foi o mês que vocês trabalharam, sobretudo o Ministério Público, para trazer todo mundo para falar uma senha chamada Lula.”

Moro então perguntou se o petista achava que havia uma conspiração contra ele. Lula afirmou que os delatores buscam um “alvará de soltura” quando mencionam seu nome. “Entendo que há pessoas como Léo Pinheiro, que já está há algum tempo tentando fazer delação. Primeiro foi condenado a 23 anos, aí se mostra a vida de nababo dos delatores.”

 Lula confirma encontro com Renato Duque

Neste trecho, o ex-presidente confirma que esteve com Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, atualmente preso em Curitiba. O encontro no aeroporto Congonhas com executivo, diz o petista, ocorreu por intermédio do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

“Eu disse que tinha muito boato de que tava sendo roubado dinheiro, que o Duque tinha conta no exterior. E eu falei para o Vaccari, se tu conhece o Duque eu gostaria de falar com ele. Duque é o seguinte: você tem conta no exterior? Não tenho, acabou. Para mim era o que interessava”, afirmou Lula a Moro.

O ex-presidente se contradisse ao afirmar que Vaccari organizou o encontro por ter uma “relação de amizade” com Duque. Posteriormente, afirmou que sabia apenas que ambos tinham uma relação. Em seu depoimento na semana passada, o ex-diretor da Petrobras disse que Lula tinha “pleno conhecimento” e “comando” sobre o esquema de propinas na Petrobras.

A metáfora da “nota baixa”

No trecho a seguir, Moro questiona Lula se tinha conhecimento do esquema de propina instalado nas obras da Refinaria Abreu e Lima, no Nordeste e sobre os desvios de mais de 6 bilhões de reais da Petrobras. O juiz perguntou ao ex-presidente se ele “não se informava do que ocorria” na estatal. O petista então comparou seu desconhecimento sobre os desvios à ignorância de um pai sobre as notas de seus filhos na escola.

Lula: O senhor acha que as pessoas iam falar de propina? O senhor acha que o seu filho, quando tira nota baixa na escola, chega em casa pulando de alegria para contar? Ele vai tentar esconder até o senhor saber.

Moro: Dos meus filhos eu fico sabendo a nota com o tempo. O senhor não ficou sabendo de nada?

Lula: Agora, porque a escola hoje até comunica quando a molecada falta. No meu tempo, não.

 

Alegações finais

Após um depoimento de quase cinco horas, Lula afirmou, em suas alegações finais, ser vítima da “maior caçada jurídica” que um presidente já sofreu. 

Enquanto recapitulava sua chegada ao poder, Lula foi repreendido por Moro. “Não é para fazer um apanhado do que o senhor fez no governo”. O ex-presidente então respondeu: “Estou sendo julgado pelo que fiz no governo, pela construção de um Power Point mentiroso.”

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