A hora da verdade

Com o bolsonarismo enraizado, sobretudo na classe média, Lula precisará mais do que nunca convencer os mais pobres a ir às urnas

Imagem: Alan Santos/PR e Ricardo Stuckert

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Serão dramáticas as próximas três semanas de disputa pela Presidência entre Lula e Jair Bolsonaro, os maiores líderes populares do Brasil pós-ditadura, cada um à sua maneira. A votação do capitão no dia 2, de 51 milhões, superou à obtida no primeiro turno da eleição passada, 49 milhões, e fez dele o segundo mais votado da história brasileira, atrás apenas do rival petista, que acaba de conquistar 57 milhões. Um desempenho inacreditável, quando se lembra, por exemplo, dos 687 mil mortos por Covid e dos 33 milhões de famintos. É a prova de que o bolsonarismo é um sucesso político e ideológico, a expressão de um reacionarismo anterior ao presidente e que sobreviverá a ele. A Bolsonaro coube dar rosto a forças que estão aí há tempos. O golpe de 1964 não foi apenas militar, foi civil também, apoiado por setores da mídia, do PIB e da Igreja. “O fascismo, na sua forma mais pura, é o somatório de todas as reações irracionais do caráter do homem médio”, dizia o psicólogo Wilheim Reich, lembrado nos últimos dias por ­Vladimir Safatle, professor de Filosofia da USP, a propósito do resultado das urnas.

Bolsonaro é o líder das classes médias, Lula, o dos pobres. O eleitor do primeiro é ultraengajado, vive em um mundo informacional paralelo de dar inveja ao petista, que esperneava contra o “Partido da Imprensa Golpista”, o PIG. Sente-se nesta eleição mais confiante (24%) do que o lulista (13%), conforme pesquisa do fim de setembro do Ipespe. Sua militância certamente contribuiu para que, na última hora, parte dos eleitores inclinados a sufragar Simone Tebet e Ciro Gomes migrasse para o capitão, uma das explicações para os 43% do presidente contra os 48% de Lula. Era um voto envergonhado em Bolsonaro, escondido na “terceira via”. Ao concorrer à reeleição, ­Donald Trump também teve bem mais votos do que apontavam as pesquisas, embora insuficientes para bater Joe Biden. Não fosse Lula, Bolsonaro teria melhor sorte do que Trump. O petista é o dique de contenção da ultradireita no Brasil.

A taxa de abstenção foi a maior em duas décadas, o que pode ter sido decisivo para prolongar a disputa

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1 comentário

Pedro Roberto Donadio 11 de outubro de 2022 09h17
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