Política

A Flor do Lodo

Nesta resposta à reportagem “O PT se perde em São Paulo”, de CartaCapital, o secretário de comunicação do PT-SP critica duramente seu companheiro de partido, o deputado estadual João Paulo Rillo

João Paulo Rillo (PT-SP) comemora com Fernando Capez (PSDB-SP) a eleição do líder tucano para a presidência da Alesp
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Por prudência não tenho o hábito de debater assuntos internos do partido pela mídia, mas diante da última matéria da revista Carta Capital, publicada em 9 de maio, e na qualidade de dirigente estadual do PT, não me contive e uso da oportunidade para manifestar indignação sobre o texto do jornalista Fábio Serapião, a quem não conheço e penso ser induzido a erro quando afirmou que “o PT paulista prefere perseguir dissidentes contrários ao Trem da Alegria a se opor ao PSDB”. O texto cita três deputados, mas só trata do Deputado Rillo.

Vale ressaltar que antes, ele já havia em 15 e 20 de abril atacado a direção do PT e a bancada estadual em matérias publicadas no jornal O Estado de São Paulo e CartaCapital, esta última assinada por Renan Truffi.

Há tempos o deputado João Paulo Rillo trabalha na organização de um bloco para a disputa interna no PT, que entendemos, faz parte da dinâmica do processo democrático do Partido dos Trabalhadores.

Na eleição da direção em 2013, Rillo organizou uma chapa, mais motivado por razões pragmáticas que ideológicas, alcançou cerca de 5% dos votos dos filiados, o que lhe assegurou três representantes no Diretório Estadual, sendo que um com assento na comissão executiva. 

No entanto, o que tivemos de lá para cá foi o acirramento da disputa interna, ora velada, sorrateira, ora em público e ultimamente por meio da imprensa.

O deputado tem optado por semear a cizânia nos ambientes por onde passa, no Diretório Estadual e na Bancada dos deputados estaduais. Vejo que, com esta postura, ele lança rede aos descontentes e seduz alguns desinformados, como meio de fortalecer sua posição e angariar adeptos.

Este comportamento do deputado nos remete à flor do lodo, ao reproduzir os mesmos expedientes da grande maioria da mídia brasileira, que tira proveito do momento delicado e de dificuldades a que passam o partido e o governo da Presidenta Dilma, que tem sofrido ataques frenéticos da direita raivosa que desfere artilharia pesada de mentiras, calúnias e difamação.

O Deputado João Paulo Rillo, que propaga sofrer perseguição e se diz preterido, já escalou espaços que poucos tiveram oportunidade, logo no primeiro mandato. O deputado foi Líder da Minoria, Líder da Bancada e almejou ser primeiro secretário da Assembleia Legislativa, ao ter seu desejo frustrado, disparou a difundir inverdades num campo fértil de intrigas, sustentadas pela falta de apuração e de conhecimento por parte dos filiados e simpatizantes e também da população sobre o regimento interno da Assembleia Legislativa, que guia as composições para Mesa Diretora do Poder Legislativo Estadual, assim como as Comissões Permanentes.

A abordagem descontextualizada que o deputado faz é de extrema irresponsabilidade, sugere que a bancada do PT está impedida pela direção do Partido de fazer oposição ao governo Alckmin, por conta da sua participação na Mesa Diretora, o que não procede em absoluto.

O resultado eleitoral deu ao PT, 14 mandatos que legitimam a participação do Partido dos Trabalhadores na direção da Assembleia Legislativa e cabe a Bancada definir seu representante nesta instância política dentro da representação parlamentar.

A Bancada do PT faz oposição aguerrida ao desgoverno do PSDB de São Paulo, de maneira responsável, propositiva, mesmo diante da blindagem da mídia e certa complacência por parte de alguns órgãos de fiscalização, que se omitem ou minimizam fatos como a crise da água, corrupção no Metrô e na CPTM, o caos na segurança pública, o vexame que é a educação na rede pública estadual – isso para citar algumas das mazelas desse governador que bloqueia dezenas de pedidos de CPI’s, que não saíram das gavetas como a do Rodoanel, Calha do Tietê, Detran, Fundação Casa, dentre outras.

Nestes últimos anos, os dirigentes do PT e deputados estaduais percorreram continuamente o Estado, com o compromisso de levar informações, tratar da organização partidária e denunciar os desmandos do PSDB em cada canto do Estado.

Foi por esta trilha que o PT conquistou o comando de 70 prefeituras que abarcam 45% da população paulista.

No período em que o deputado João Paulo Rillo foi líder da Bancada dos deputados estaduais do PT a Executiva estadual se reuniu 18 vezes e ele esteve presente em apenas 5 ocasiões, apesar das convocações e do calendário pré-estabelecido. O Estatuto do Partido dos Trabalhadores assegura ao líder de Bancada voz e voto nas deliberações da Executiva.

Jamais Rillo ouviu da direção reclamação contra a atuação da Bancada e nunca sequer insinuou que os dirigentes impediam os deputados de cumprirem com o seu dever.   

Todo o processo de diálogos e articulação da Bancada do PT sobre a composição da nova Mesa Diretora e candidatura do atual presidente da Assembleia Legislativa foram conduzidos e capitaneados pelo líder petista da ocasião – João Paulo Rillo –, o qual por ironia do destino deu o voto número 48 que definiu a eleição de Fernando Capez. E o fez de forma efusiva.

Mais recentemente, no dia 27 de abril, o deputado foi convidado a fazer uma prestação de contas de seu mandato como líder da bancada e seria também oportunidade para explicar suas declarações sobre a direção do partido e bancada proferidas na imprensa, mais propriamente ao Jornal O Estado de S. Paulo e em CartaCapital.

Ao se deparar com a reflexão sobre as responsabilidades de seus atos o deputado alegou estar arrependido do que falara a imprensa e admitiu que havia carregado nas tintas ao desenhar o quadro de criticas aos seus pares da bancada e dirigentes do partido.

O passo seguinte do deputado foi sacar um gráfico, e se esmerou, comparando sua gestão com as gestões dos três líderes anteriores na tentativa de mostrar melhor desempenho. Como alguns dos ex-líderes estavam presentes, muitas de suas afirmações foram desmentidas, a temperatura se elevou e os debates ficaram acalorados. Eu mesmo disse a ele, que se estava arrependido das entrevistas, que fizesse uma nota pública, pois é fácil detonar companheiros para milhares de leitores pelos jornais e revistas e depois pedir desculpas numa reunião com 60 pessoas.  A tal de Ouvidoria da Alesp tratada por Serapião, foi citada “en passant” por ele no final de seu discurso encerrando a reunião.   E após, 12 dias, lá estava novamente o deputado posando de vítima nas páginas de CartaCapital.

A alegação de suposta perseguição ao deputado João Paulo Rillo chega as raias da mesquinharia e do ridículo, ao choramingar pela sua imagem num calendário produzido pelo Diretório Estadual que é distribuído para os filiados. Ocorre que a edição desse material onde sua foto já consta entre os outros deputados se dá em dezembro e o líder da Bancada é escolhido em março.

A outra queixa do suposto perseguido é que teria sido excluído do programa partidário de rádio e televisão. Mentira! O PT tem direito a 40 inserções de 30 segundos por semestre, e a secretaria estadual de comunicação distribui a produção regionalmente, assim nossas lideranças regionais falam em nome do partido diretamente para suas populações, discorrendo sobre o modo petista de legislar e governar além de outros temas, e isso resultou em maior número de aparições do deputado Rillo na parte do estado em que atua.  As inserções de rádio e televisão foram distribuídas e veiculadas nas emissoras da região de São José do Rio Preto, sendo 20 vistas e ouvidas no mês de janeiro e outras 20 no mês de abril e incluíam o Deputado Rillo e outras lideranças.

Com este critério fizemos a seguinte distribuição das inserções do Programa Partidário para Globo TV TEM, Record e Rede Vida em São José do Rio Preto;

Emídio de Souza (presidente do PT estadual) – 8

Deputado João Paulo Rillo –  6

Prefeito Edmilson –  6

Prefeito Jamil Ono  – 6

Secretaria das Mulheres (Denise Mota) – 4

Prefeito Cido Sério- 3

Deputada Beth Sahão – 3

Geraldo Cruz (atual líder da Bancada) 2

PT Nacional – 2

Total – 40                                                                                                                                  

Por todo o exposto é que lamento e repudio o exercício do oportunismo raso que percorre o caminho do apedrejamento coletivo de apontar o dedo e alimentar o coro da discórdia, adotado frequentemente por este que considero um bom deputado, mas um péssimo companheiro de partido.  

*Aparecido Luiz é secretário estadual de Comunicação do PT-SP.

Leia a reportagem que originou esta resposta

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