A aula de Stedile

Em sete horas de depoimento, o líder sem-terra joga a última pá de cal na defunta CPI do MST

O dia da caça. A intenção era constranger Stedile, mas o líder sem-terra, de modo didático e sereno, escapou das armadilhas, deu uma lição de história e deixou Salles, o relator, se enrolar na própria corda. A quinta CPI contra o MST também fracassa – Imagem: Lula Marques/ABR e Myke Sena/Ag. Câmara

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Era para ser uma arapuca. Na terça-feira 15, o deputado e ex-ministro Ricardo Salles, relator da CPI do MST, e seus aliados estavam preparados, ou assim pensavam, para emparedar João Pedro Stedile, a mais emblemática liderança dos sem-terra. Por quase sete horas, um ascético Stedile submeteu-se a um interrogatório digno de uma comédia-pastelão.

Na verdade, quase ninguém estava interessado nas respostas. Enquanto bolsonaristas de todas as estirpes insultavam o convidado, Salles aproveitou os holofotes para dar pistas do que pretende escrever no relatório final, obra quase exclusiva de sua imaginação. O ex-ministro acusou o movimento de explorar os assentados e cometer crimes. Tentou arrancar do depoente a origem do financiamento ao grupo e fez perguntas desconexas. Uma delas? Existe na China algo parecido ao MST? Sereno e didático, Stedile respondeu: “Não, eles fizeram a reforma agrária em 1949”. Acostumado a frequentar ambientes mais hostis, o líder sem-terra não se deixou abalar. Às vezes benevolente, às vezes professoral, aproveitou a oportunidade para espalhar lições sobre conflitos agrários, concentração de terra, história e desigualdade. No fim, venceu por nocaute e despejou a última pá de cal em uma CPI que morreu por inanição e ainda não se deu conta.

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2 comentários

Jovem Sã 21 de agosto de 2023 21h29
Stedille simplismente humilhou os bolsonaristas da CPI do MST. Tenho medo, porém, desse relatório de Salles, já que nesta comissão parece não haver um mínimo de ética ou compromisso com a verdade. Lutar pelo direito à terra não é ser extremista, já que a reforma agrária já aconteceu em outros países desenvolvidos, mas no Brasil a reforma é criminalizada. Aqui, quem luta por terra é convocado para uma CPI e o grande agricultar, que muitas vezes é o verdadeiro invasor de terras, nada no dinheiro, e sem nenhuma preocupação com a justiça.
CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 24 de agosto de 2023 11h35
Nova tentativa de passar a boiada que dá com os burros n’água e leva a vaca pro brejo… Daqui a pouco vão criar CPMI pra criminalizar o comunismo… opa, não vamos dar ideias!

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