Era para ser uma arapuca. Na terça-feira 15, o deputado e ex-ministro Ricardo Salles, relator da CPI do MST, e seus aliados estavam preparados, ou assim pensavam, para emparedar João Pedro Stedile, a mais emblemática liderança dos sem-terra. Por quase sete horas, um ascético Stedile submeteu-se a um interrogatório digno de uma comédia-pastelão.
Na verdade, quase ninguém estava interessado nas respostas. Enquanto bolsonaristas de todas as estirpes insultavam o convidado, Salles aproveitou os holofotes para dar pistas do que pretende escrever no relatório final, obra quase exclusiva de sua imaginação. O ex-ministro acusou o movimento de explorar os assentados e cometer crimes. Tentou arrancar do depoente a origem do financiamento ao grupo e fez perguntas desconexas. Uma delas? Existe na China algo parecido ao MST? Sereno e didático, Stedile respondeu: “Não, eles fizeram a reforma agrária em 1949”. Acostumado a frequentar ambientes mais hostis, o líder sem-terra não se deixou abalar. Às vezes benevolente, às vezes professoral, aproveitou a oportunidade para espalhar lições sobre conflitos agrários, concentração de terra, história e desigualdade. No fim, venceu por nocaute e despejou a última pá de cal em uma CPI que morreu por inanição e ainda não se deu conta.
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