Política

9 bate-bocas políticos que fizeram Brasília pegar fogo em 2019

No Senado, na Câmara, nas redes sociais e até em programa de TV: relembre os principais embates do ano

O Senado foi o primeiro grande ringue do ano de 2019. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
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O ano de 2019 foi repleto de bate-bocas na política. O Congresso Nacional, palco de maioria dos conflitos, evidenciou que a polarização resultou em trocas de ofensas e destemperamentos, mesmo em momentos decisivos para o país.

CartaCapital listou, a seguir, as nove discussões mais acaloradas que fizeram as autoridades de Estado parecerem vizinhos em brigas de condomínio.

1. Kátia Abreu e Davi Alcolumbre

Em 1º de fevereiro, o Senado pegou fogo com a eleição para a presidência. Em uma sessão tensa, o então candidato, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) fez uma manobra para presidir a sessão. O ato provocou desordem entre os parlamentares.

A confusão começou quando o senador Renan Calheiros (MDB-AL), que era adversário de Alcolumbre e tentava a reeleição, protestou por considerar impróprio que um candidato presidisse a própria sessão de eleição.

“Senador Davi Alcolumbre, desculpa ter chamado de presidente, em que condição Vossa Excelência está presidindo esta sessão e a anterior, que empossou os senadores?”, questionou.

No entanto, Alcolumbre ignorou Calheiros e abriu assembleia para deliberar sobre o modelo de votação, aberta ou fechada. Outros senadores se aborreceram: “Você está usurpando o poder”, berrou Humberto Costa (PT-PE). A senadora Katia Abreu (PDT-TO), então, levantou-se, foi até a Mesa Diretora e gritou com Alcolumbre.

 

“Senhor presidente, se ele pode presidir a sessão, eu também posso. Ele é candidato e não pode presidir essa sessão. Isso é um golpe, o senhor não pode fazer isso, não tem o direito de estar aqui”, exclamou a parlamentar, que repetiu a queixa enquanto Alcolumbre seguia.

Irritada, Kátia arrancou papéis e uma pasta de documentos das mãos de Alcolumbre, dizendo que presidiria a sessão. “Não vai presidir a sessão, não vai, sai daqui”, afirmava, enquanto o senador pedia que ela respeitasse “a condução dos trabalhados do Senado Federal”.

A senadora contrariou Alcolumbre e se retirou da Mesa Diretora, travando a sessão. Em seguida, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) se manifestou no microfone contra o que chamou de descumprimento do regimento. Alcolumbre, por sua vez, pediu “um minuto de sanidade” para Katia, enquanto ela o ameaçava, aos berros, de levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Na mesma sessão, Calheiros chamou integrantes da Mesa Diretora de “canalhas” e, posteriormente, retirou sua candidatura ao cargo de presidente do Senado, em longo discurso na tribuna. A briga durou por toda a reunião. O senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que a sessão parecia briga de “diretório estudantil”.

Confira o bate-boca no vídeo abaixo, a partir de 2:15:00.

2. Tabata Amaral e Ricardo Vélez

A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) caiu nas graças da internet ao questionar o então ministro da Educação, Ricardo Vélez. Durante sessão na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, em 28 de março, Vélez foi criticado por falta de direcionamento no ministério.

O então ministro comparecia à sessão após 13 desligamentos na pasta desde janeiro, em meio a uma disputa entre militares e seguidores de Olavo de Carvalho. Ele já conduzia a pasta fazia cerca de 90 dias.

Tábata questionou o ministro por falta de planejamento estratégico. A ex-bolsista da Fundação Estudar*, criada pelo bilionário Jorge Paulo Lemann, cobrou de Vélez a apresentação de projetos para a educação, com metas, prazos de execução e resultados esperados.

“Já se passaram três meses, ministro. Em três meses, não é possível apresentar um Power Point com dois, três desejos para cada área da educação. Cadê os projetos? Cadê as metas? Quem são os responsáveis? Isso daqui não é planejamento estratégico. Isso é uma lista de desejos”, atacou a parlamentar.

O ministro respondeu, então, que não tinha em mãos os dados quantitativos solicitados. A deputada afirmou, então, que estava “extremamente decepcionada”.

“A sua incapacidade de apresentar uma proposta de saber dados básicos e fundamentais é um desrespeito, não só à educação, não só ao ministério, não só ao parlamento, mas ao Brasil como um todo”, disse.

Em 8 de abril, o presidente Jair Bolsonaro anunciou a demissão de Ricardo Vélez do cargo. Em seu lugar, entrou o atual ministro Abraham Weintraub.

Comissão de Educação com ministro Veléz

Hoje participei de uma reunião com o Ministro Ricardo Veléz na Comissão de Educação. Insistentemente o questionei sobre quais eram os projetos e metas para melhorar a qualidade da educação no Brasil, mas não obtive resposta. Ao mostrar que não tem propostas para a nossa educação, o ministro deixou claro que não está preparado para estar à frente de um posto tão importante. #VamosJuntos #PDTnaCâmara

Posted by Tabata Amaral on Wednesday, March 27, 2019

Erramos: Este conteúdo foi alterado. Na primeira versão, informamos que Tabata é “ex-bolsista da Fundação Lemann”. Na verdade, ela foi bolsista da Fundação Estudar, que também teve Jorge Paulo Lemann como um dos fundadores. A parlamentar solicitou publicação do seguinte esclarecimento: “A deputada foi convidada a participar da rede de líderes Lemann Fellows quando estava no seu segundo ano de faculdade. No entanto, ela não recebeu bolsa ou qualquer recurso da Fundação Lemann, pois já contava com uma bolsa integral da Universidade de Harvard. ‘100% de toda a minha graduação foi financiada por Harvard, tudo, sem exceção. O que faltava eu paguei com um empréstimo e com o meu trabalho’, informa a deputada.”

3. Zeca Dirceu e Paulo Guedes

A reforma da Previdência ainda tramitava na Câmara dos Deputados quando, em 3 de abril, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para defender a proposta. A sessão foi repleta de embates e acabou em tumulto quando o deputado federal Zeca Dirceu (PT-PR) disse que Guedes era rude com a população mais pobre e manso com a elite.

O parlamentar iniciou o discurso com duas perguntas: primeiro, indagou por que Guedes não apresentou a proposta da reforma durante a campanha presidencial de 2018; segundo, quais foram os estudos e projeções produzidas pelo ministério para priorizar a reforma da Previdência em vez da reforma tributária.

Em seguida, afirmou que o ministro era “tchutchuca” de banqueiros.

“Eu tô vendo, ministro, que o senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de necessidades. O senhor é tigrão quando é com os agricultores, com os professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país”, atacou Zeca Dirceu.

O deputado não conseguiu terminar o discurso, pois logo a comissão se tornou um grande alvoroço. Parlamentares governistas acusaram o petista de quebra de decoro e Paulo Guedes protestou: “Eu não vim aqui para ser desrespeitado, você não falte com respeito comigo”.

Veja no vídeo abaixo, a partir de 1:44:00.

4. Paulo Pimenta e deputados

Fazia quase um mês que o ministro da Justiça, Sergio Moro, havia sido bombardeado com o vazamento de mensagens que comprometiam sua isenção quando era juiz da Operação Lava Jato. Em 2 de julho, Moro foi a uma audiência na Câmara dos Deputados para se explicar.

Na ocasião, o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) fez declaração polêmica que ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter. O parlamentar reagia a interpelações de deputados governistas.

“Não respondo para miliciano, não respondo para criminoso, não falo com bandido, primeiro vão nos dizer onde está o Queiroz, que pegava dinheiro de miliciano e colocava na conta da mulher do presidente da República”, atacou o petista. “Bandidos e criminosos são altamente criminosos e devem ficar de boquinha calada, porque o doutor Sergio Moro tem condições de se defender sozinho.”

Antes que o parlamentar terminasse a fala, já se ouviam gritos de demais deputados. O petista prosseguiu: “Miliciano, metralha e mentiroso. Onde é que está o Queiroz? É isso que vocês têm que responder”.

5. Ricardo Salles e Ricardo Galvão

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, bateu boca com o ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, durante programa da emissora GloboNews. O ponto alto da discussão foi quando o pesquisador defendeu a soberania da ciência, e o ministro acusou o discurso de “ideologia disfarçada de ciência”. O físico e engenheiro teve sua exoneração da diretoria do Instituto anunciada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), no dia 2 de agosto.

O ministro fez uma série de acusações aos institutos de pesquisa. “Há um grau de aparelhamento dessas instituições gigantesco”. Galvão interpôs: “Não existe ministro”. Salles retrucou, com ataque ao pesquisador: “Total. A sua postura com o presidente mostrou isso. Claro. A forma como o senhor se referiu ao presidente da República e ao…”. Neste momento, Galvão se dirigiu à apresentadora, Renata Lo Prete, pedindo mediação: “Ah, isso daqui, eu preciso de uma resposta agora. O senhor me desculpe”.

Lo Prete, então, deu a palavra. Galvão argumentou: “O presidente da República, ministro, chamou os dados do Inpe de mentirosos. Então, o senhor me escuta até o final. Ministro, o senhor me escute”, pediu, enquanto Salles tentava interrompê-lo. A apresentadora interveio e Galvão seguiu. “Eu quero dizer claramente a razão que eu fui tão rígido com o presidente”. Salles protestou: “Não, rígido não. Desrespeitoso”.

Galvão foi demitido após o Inpe divulgar dados preliminares que mostraram que mais de 1 mil km² de floresta amazônica foram devastados só na primeira quinzena de julho deste ano. O número representa um aumento de 68% em relação a julho de 2018. O levantamento é do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), plataforma criada em 2004 que produz, diariamente, alertas de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que três hectares. Os alertas são enviados automaticamente ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

https://twitter.com/ReginaldoLopes/status/1160945538180644866

6. Kim Kataguiri a Eduardo Bolsonaro

Os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP) trocaram farpas no Twitter após o Congresso Nacional derrubar o veto do presidente Jair Bolsonaro (PSL) à criminalização da disseminação de notícias falsas contra candidatos em eleições.

Em 28 de agosto, os parlamentares votaram contra a exclusão de um dispositivo que tipifica a conduta e estabelece como crime no Código Eleitoral a instauração de investigação, processo ou inquérito contra candidato que seja inocente. A pena é de dois a oito anos de prisão e multa.

No dia seguinte, Eduardo Bolsonaro atacou Kim Kataguiri em sua rede social.

“Derrubado o veto da lei que pune com 2 a 8 anos de prisão quem divulgar fake news. Parabéns dep. Kim Kataguiri (DEM-SP) por ter viabilizado esse instrumento que vai calar exatamente aqueles que não divulgam fake news. A esquerda comemorou no plenário, será por quê?”, escreveu.

Em reação às reclamações, Kataguiri compartilhou a publicação de Eduardo Bolsonaro e devolveu os ataques.

“Comemorou porque qualquer veto derrubado ela comemora. E você reclama porque não leu o projeto, aliás, nem estava no plenário durante a discussão, como nunca está. Se era contra, por que não participou do debate? Por que não foi virar votos a favor do veto? Férias pré-embaixada?”, ironizou o parlamentar.

Na sequência, disparou mais críticas ao filho do presidente da República.

“Deputados fantasmas, como Eduardo Bolsonaro, que colocam a digital no plenário e vão embora, olham para o painel, seguem a liderança do partido e só sabem o que votaram depois de votar. Prática de deputado mimado e irresponsável. Papai só vetou parte do projeto, mantendo os 2 a 8”, disse.

7. Familiares de militares: “Bolsonaro traidor”

Aos gritos de “Bolsonaro traidor”, um tumulto resultou na suspensão de uma sessão da Comissão Especial da Câmara dos Deputados que analisava a reforma da Previdência dos militares, em 29 de outubro.

Praças, militares da reserva e parentes de militares se manifestaram após a votação do primeiro destaque do texto, que mudaria a tabela de gratificação por habilitação. Na regra anterior, os valores variavam entre 12% e 73%, enquanto, na proposta sugerida, impunha-se um valor único para militares de todos os níveis.

O destaque foi sugerido pelo PSOL e favoreceria os praças e militares da reserva. Porém, a proposta foi rejeitada por 18 votos a 10, com oposição dos próprios parlamentares governistas.

Depois que o destaque foi rejeitado, a confusão começou. Uma eleitora do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que era a favor da igualdade de gratificação para militares acusou o governo de traição.

“Eu fui às ruas, eu coordenei carreata para o senhor, eu gritei Bolsonaro 17 enquanto estavam debaixo dos seus ar-condicionados. E hoje, o senhor trai a tropa dessa maneira. O senhor, que cresceu em cima de nós, em cima dessa desgraça que foi a campanha das Forças Armadas. Agora o senhor nos trai, o senhor faz isso conosco, isso é um absurdo, dando benefício aos generais”, disse.

8. Alexandre Frota e Eduardo Bolsonaro

Os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP) se atacaram durante sessão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura as fake news, em 30 de outubro.

Frota aceitou o convite do requerimento da deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) para prestar depoimento na CPMI. Eduardo, presente na sessão, afirmou que o tucano é um “escárnio” e que expôs informações falsas durante o depoimento.

“Você é só mais um traíra que apunhalou o presidente pelas costas, lamentavelmente. O senhor era menos promíscuo quando fazia filme pornô. Hoje em dia, é essa promiscuidade a nós do Brasil inteiro”, disse.

Em resposta, Frota ironizou: “Mas você assistiu muito né? Eu sei que você gosta”, debochou, provocando risos entre os parlamentares da CPMI. “Nem um pouco”, disse Eduardo. Momentos depois, Eduardo voltou a provocar Frota afirmando que ele pode voltar a ser ator pornô em vez de deputado e, após discurso, retirou-se da Comissão sem ouvir a réplica do tucano.

9. Glauber Braga e Rodrigo Maia

O clima esquentou entre o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), durante sessão no plenário em 27 de novembro. Aos berros, Braga chegou a chamar Maia de “microditador”.

Os parlamentares haviam acabado de aprovar um requerimento de urgência que priorizava votação para o novo marco regulatório do saneamento básico, que abre o capital de empresas estatais para o setor privado.

Para Braga, o projeto vai privatizar a distribuição de água e a coleta de esgoto no país. Durante a sessão, o parlamentar afirmou que pediu a palavra pela liderança do partido antes do encerramento da votação, mas Maia teria manobrado o regimento e impedido a fala do deputado.

“Não venha dar uma de microditador aqui, pensando que a gente vai ficar calado. Criou aqui um encaminhamento que não existia para colocar a defesa prioritariamente para aqueles parlamentares que tinham uma posição a favor da privatização do saneamento, e tirou da discussão enquanto havia um encaminhamento dos parlamentares da oposição”, acusou.

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