Política

“Não vamos eleitoralizar o mensalão”

Ex-presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra promete uma campanha em 2014 focada em “questões importantes para o Brasil” e prevê o fim da polarização entre tucanos e petistas

Para deputado, polarização PSDB-PT engessa o bom debate
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Em 2014, ano de eleição presidencial, a polarização PT-PSDB completará 20 anos. Embora o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva se apresentem como uma terceira via, nada indica, por ora, mudanças no embate nas urnas. Se assim for, a dicotomia petista-tucana terá perdurado mais do que a velha rinha PTB-UDN do século passado.

Ex-presidente nacional do PSDB, o deputado federal Sérgio Guerra culpa o PT por ter alimentado o maniqueísmo partidário, ao se estabelecer, segundo ele, como partido que encarna “a luta do bem contra o mal”. Em entrevista a CartaCapital, Guerra prevê dificuldades para a reeleição de Dilma Rousseff, garante que o PSDB não explorará o caso do “mensalão” nas eleições de 2014 e condena o PT por produzir antes e durante as campanhas eleitorais o que chama de “falsos dossiês”, que levariam a discussão política para “um embate sangrento”.

CartaCapital: Em 2014, assistiremos a uma eleição novamente virulenta, em que os debates programáticos devem perder espaço para ataques entre PT e PSDB relacionados a casos de corrupção?

Sérgio Guerra: O surgimento de candidaturas como a do governador Eduardo Campos e outras são boas para o País e para a democracia porque obriga o debate eleitoral a fugir de uma polarização que sempre foi alimentada pelo PT como a luta do “bem” contra o “mal”. Sendo assim, acredito numa eleição com mais conteúdo no debate. E nesse cenário, nosso candidato Aécio Neves tem tudo para se consolidar e pôr um fim nessas campanhas que produziram uma reserva de mercado de votos para o PT. Será uma eleição múltipla e, portanto, muito difícil para a presidente Dilma Rousseff, que enfrentará Aécio no Sudeste e Eduardo no Nordeste. As consequências do escândalo do mensalão já se deram agora, com o Supremo fazendo cumprir a lei. Não temos que eleitoralizar um assunto que foi e ainda está sendo tratado no âmbito jurídico, que é o seu fórum adequado. O debate da eleição tem que ocorrer em torno das questões importantes para o Brasil. Sem incorrer no jogo petista que sempre buscou fazer da disputa uma falsa divisão do País apresentando ao eleitorado o candidato deles como o mandatário de todas virtudes contra os demais como a tradução do mal.

CC: Nos últimos 19 anos, PT e PSDB foram os únicos partidos a ocupar o poder. Como o senhor avalia essa polarização? Ela faz bem ou mal ao País?

SG: PSDB e PT fizeram muito ao Brasil. O País é outro depois dos dois governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o PT teve o bom senso de manter algumas políticas, nos campos econômico e social, que produziram uma continuidade das gestões do PSDB que deram certo. Mas no campo político e eleitoral, essa polarização PSDB-PT engessa de certa forma o bom debate e não é bom para o Brasil. Mas foi o PT quem alimentou perversamente essa polarização. Lutou com todas as armas para evitar que outras forças políticas participassem do embate eleitoral e, assim, o retirasse do cenário de, mais uma vez repito, do ‘bem contra o mal’. Essa eleição terá um caminho diferente. Tenho esperança de que a disputa de 2014, diante da multiplicidades de candidaturas que se apresentam, romperá com a polarização. E só o Brasil ganhará com isso.

CC: O senhor acha possível que um dia tucanos e petistas consigam dialogar com mais naturalidade, respeitando um ao outro?

SG: Os partidos no Brasil precisam se renovar. Não apenas em seus quadros, mas no seu conteúdo programático e na forma como o defende. Seguramente, em isso ocorrendo, os partidos estarão mais maduros para o debate, sobretudo nos momentos de disputa eleitoral. O PT se transformou numa legenda populista, obstinada pelo poder. E isso dificulta um diálogo construtivo em favor do Brasil. A democracia petista é aquela que lhe convém. Quando se sente ameaçado, o PT é capaz de criminalizar a campanha, de gerar falsos dossiês que levam a discussão política para um sangrento embate onde quem perde é o País. É preciso respeitar os partidos, aliados ou não. E não se valer do poder da caneta que franqueia cargos sem critérios técnicos e libera convenientemente emendas de recursos do orçamento da União produzindo um verdadeiro mensalão indireto. Por esse caminho, o diálogo entre os partidos ficará restrito ao campo que o povo está claramente sinalizando nas ruas que não aceita mais.

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