Política

Tucanos, “não podemos deixar cair as nossas bandeiras”

Está na hora de o PSDB se lembrar da célebre frase de Franco Montoro, fundador do partido, e voltar às suas raízes na socialdemocracia

O PSDB precisa ir além do antipetismo
Apoie Siga-nos no

O governador André Franco Montoro, fundador do PSDB e seu principal doutrinador, era um grande entusiasta do parlamentarismo, da comunidade latino-americana de nações, do municipalismo, da democracia participativa, da sustentabilidade, dos direitos humanos, do combate aos capitais voláteis e do protagonismo juvenil.

Trazia uma agenda amplamente progressista, sempre à frente do seu tempo e constituinte do DNA tucano. Era muito evidente a sua preocupação quanto ao futuro e por isso dedicava boa parte do seu tempo para estar entre os jovens, para quem repetia exaustivamente: “Não podemos deixar cair as nossas bandeiras”.

Cada vez que ouvíamos essa mensagem sabíamos que estávamos diante de um grande compromisso, o mesmo que temos perante o legado de Mário Covas e seu exemplo de vida pública ou do governo FHC, quando promovemos a maior reforma agrária da história ocidental, a universalização do ensino médio, o Plano Real e o programa Bolsa Escola.

Hoje o PSDB reúne cerca de 1,5 milhão de filiados, mas em função do mecanismo extremamente permissivo no nosso processo de filiação, que pode ocorrer virtualmente com o simples preenchimento de um cadastro, não é possível afirmar que todos possuem de fato o espírito tucano.

Não se exige uma militância mínima, ou a frequência ainda que à distância a um curso de formação, que apresente a nossa história, valores e compromissos. O resultado foi o caminho aberto para a adesão de alguns não mais do que militantes do antipetismo, que não têm a mais vaga ideia do que se propõe a Social Democracia Brasileira. Acabam, no entanto, por criar um campo de conforto para que em outro nível alguns parlamentares ou candidatos que deliberadamente ignoram nosso campo ideológico usem o partido como mera legenda eleitoral a serviço de suas próprias agendas.

Leia também:
Para corrente do PSDB, impeachment de Dilma “não deveria ter ocorrido”

Um doloroso exemplo foi quando a nossa bancada votou majoritariamente a favor da redução da maioridade penal, contrariando nosso compromisso histórico com os direitos humanos. Isso acendeu um sinal de alerta no ninho. Ou repensamos as nossas estruturas de funcionamento ou estaremos cada vez mais próximos de nos tornar irremediavelmente um partido omnibus (“para todos” no latim), termo empregado pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso para partidos, a exemplo do PMDB, dispostos a receber a adesão indistinta de indivíduos, sem estabelecer uma base mínima de compromissos ideológicos.

A crise partidária perpassa a todos os partidos. Ainda assim é providencial o recente processo de autocrítica que o PSDB se propôs a fazer. A primeira delas é reconhecer que o partido carece aprimorar a sua democracia interna. Precisamos avançar na nossa capacidade de dialogar com a sociedade e seus movimentos sociais. Para tanto é necessário fazer das nossas instâncias decisórias espaços capazes de efetivamente representá-la em sua pluralidade, ampliando a presença de mulheres, negros, trabalhadores, jovens e da diversidade.

O que Montoro diria? (Foto: Wikimedia)

Posto isso, vamos à questão central: é um contrassenso inaceitável que um partido parlamentarista assuma posições em questões da maior relevância, como a adesão ao recente processo de impeachment ou o ingresso no governo Michel Temer, a partir de conversas informais, sem reunir o Diretório Nacional, foro adequado para deliberar nossos rumos, nos termos previstos em nosso estatuto.

Essa ausência de ritos fragiliza a nossa estrutura partidária com decisões unilaterais ou resultantes de consensos artificiais, que descredenciam nossos dirigentes e militantes e promovem certos personalismos e vazios de legitimidade que se arrastam como responsáveis por boa parte dos nossos conflitos internos.

O momento é desafiador e por isso oportuno para sacudirmos o partido. Temos na presidência Alberto Goldman, uma das importantes lideranças que integram o Movimento PSDB Esquerda Pra Valer, e que com sua sabedoria e experiência terá a missão de construir os consensos necessários por meio dos instrumentos da democracia partidária até a convenção que se avizinha.

A bancada federal, e as convenções estaduais, deram a senha do desembarque do governo Temer, do qual, aliás, jamais deveríamos ter participado, e que por razões óbvias ignorou praticamente todas as condições programáticas que o PSDB apresentou para oferecer sua contribuição.

O caminho para o PSDB é auspicioso, com a possibilidade de elegermos em um gesto de unidade Geraldo Alckmin para a presidência do partido e na sequência darmos início à construção de um programa de governo para o Brasil capaz de lançar luz para o futuro e produzir uma ampla aliança no campo progressista para enfrentar o populismo e a ameaça autoritária.

Um programa de forte compromisso com a pauta dos direitos humanos, que enfrente com todo o vigor a desigualdade social, que seja ambicioso no desenvolvimento sustentável e comprometido com a necessária reforma política. Essa é agenda necessária para o País. Essas são as nossas bandeiras históricas e esse é o caminho que vai nos conduzir à vitória em 2018. 

* Cientista social e coordenador do Movimento PSDB Esquerda Pra Valer

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo