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Zebras de início de ano

É historicamente comum que, na pré-temporada, times menores se saiam bem e coloquem os grandes em situação complicada

Zebras de início de ano
Zebras de início de ano
Créditos: EBC
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Ninguém precisa arrancar os cabelos com os resultados deste começo de temporada. Nem mesmo o Corinthians, que foi parar na zona de rebaixamento depois de uma atordoante derrota para o Novo Horizontino, por 3 a 1, no domingo 4.

Times com menores investimentos têm melhores condições de se preparar na abertura do ano, justamente porque, em geral, não estão envolvidos em tantas disputas simultâneas. Sempre acontece de um ou outro aprontar e surpreender. Isso não é novidade.

No rol de surpresas pré-carnaval sobrou para todo mundo, até para o Palmeiras, o bambambã da atualidade.

No mesmo domingo 4, em um Mineirão com são-paulinos de um lado da arquibancada e palmeirenses do outro, o time de Abel Ferreira não conseguiu fazer com que nenhuma das bolas chutadas para o gol nos 90 minutos da partida entrasse e, nos pênaltis, perdeu a Supercopa Rei 2024 para o São Paulo.

Nesta profusão de campeonatos, copas e torneios, da chamada pré-temporada só restou mesmo o nome.

Além das competições em território brasileiro, vai rolando o pré-olímpico, que também nos provocou um susto.

Na segunda-feira 5, a equipe brasileira foi derrotada pelo Paraguai em Caracas, na Venezuela, e provocou, no mínimo, apreensão quanto à classificação para os Jogos Olímpicos.

Em meio às consequências disso tudo, surgiu um fato curioso e interessante, provocado pela demissão do técnico do Corinthians, Mano Menezes, que já disse que não abre mão de nem uma fatia da multa rescisória.

Mas, bem, o que é curioso é que o ­Corinthians tentou contratar, para o seu lugar, Márcio Zanardi, do São Bernardo. E o plano deu errado.

É que o regulamento do Campeonato Paulista impede que um treinador comande duas equipes na mesma edição do estadual, e Zanardi esteve à frente do São Bernardo nos cinco jogos do torneio.

No fim, acertou-se a contratação do português António Oliveira, ex-atleta do Benfica, que chegou ao futebol brasileiro em 2020.

O episódio de Zanardi me trouxe à memória um fato ocorrido quando voltei ao XV de Jaú, fazendo parte do time que o Galo da Comarca resolveu preparar para disputar a Série A do Campeonato Paulista depois de conquistar o acesso.

De repente, resolveram interromper a proposta inicial e, com isso, deu-se o desmonte do grupo contratado. Como sempre acontece, sabíamos que, para receber os valores devidos, seria uma luta inglória.

Resolvemos então partir para o meio jurídico e obtivemos uma autorização para receber do São Paulo, que havia contratado, do XV de Jaú, o zagueiro Estevão – que, por sinal, estava fazendo excelente campanha.

Fui ao Morumbi com a autorização e, enquanto aguardava o pagamento, fiquei nas cadeiras do Estádio Cícero Pompeu de Toledo conversando com o amigo Forlan, guerreiro uruguaio, enquanto o time treinava no gramado.

Perguntei ao parceiro, então jogando no tricolor, quem se destacava entre os jovens que haviam subido para o quadro de profissionais.

E assim fiquei sabendo de Silas e Muller que, logo em seguida, passariam a titulares do timaço formado naquele ano.

Isso tudo é para dizer que, em São Paulo, as coisas são levadas mais a sério. Tive problema semelhante em outros lugares e os casos não se resolveram com essa seriedade.

Outro assunto dominante no mundo do futebol nesta semana foi a notícia do início do julgamento de Daniel Alves. É triste pensar como uma pessoa com todas as condições de ter uma vida bem resolvida entra numa situação como essa. Dentre as notícias, chamou também minha atenção uma vinda da Espanha.

Um estudioso analisou a frequência enorme de erros de arbitragem em casos de impedimento em todas as partes do mundo. A conclusão é de que a visão humana, de forma geral, não é capaz de distinguir com precisão a infração pela diferença dos ângulos estabelecidos nas diferentes posições do árbitro e dos jogadores em questão.

E dos momentos extravagantes destaco o ocorrido no jogo entre o Maranhão e o ABC de Natal. Numa jogada muito disputada na pequena área, o goleiro fez grande defesa e caiu com a bola agarrada entre os braços.

O zagueiro, ao querer ser solidário com o companheiro, agachou e, além de um toque no goleiro, deu, num gesto natural, um “tapinha” na bola dentro da área. Esse movimento provocou a reação do juiz: pênalti! Como diria Arnaldo César Coelho, “a regra é clara”. Mas nem sempre é justa. •

Publicado na edição n° 1297 de CartaCapital, em 14 de fevereiro de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Zebras de início de ano’

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