Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Vitórias para o futuro

A escolha de Vinícius Jr. como o oitavo melhor jogador do mundo e o vice-campeonato mundial no vôlei feminino equivalem à Bola de Ouro

Foto: OSCAR DEL POZO / AFP
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A reta final das eleições deste ano, marcadas pelo acirramento da disputa no segundo turno, vai cristalizando o quadro político da nossa sociedade.

Quem domina o poder pratica a política em tempo integral, sabendo que depende disso a sua perpetuação junto aos subalternos. Quanto mais dependente o povo, menor o seu poder, menor a sua participação. Para quem luta pelo mínimo para sobreviver, é natural que a descrença seja absoluta.

E essa situação é, infelizmente, a condição que convém aos detentores do poder. Só dessa forma eles conseguem garantir seus privilégios vergonhosos. Quanto menos consciência, mais fácil garantirem sua supremacia.

Nossa tarefa fundamental, como sociedade, é construir a consciência da população para que todos possam compreender que o poder político está até mesmo no ar que respiramos.

Nosso desafio, agora, é entrar na semana eleitoral com a garra necessária para resistir à barbárie que insistem em nos impingir.

Mas, como ensina o dito popular, “enquanto o pau sobe e desce, descansam-se as costas” e, nesse contexto, o esporte vai cumprindo sua missão de descarregar as tensões. Só que o esporte, obviamente, não está apartado da sociedade e, como ela, carrega muitas tensões.

Os casos de violência entre membros de grupos rivais e de torcedores contra os jogadores que portam as suas mesmas cores extrapolam quaisquer limites.

Na rodada desta semana, voltamos a ver algo que tem se repetido rotineiramente: a invasão de campo. Não é difícil constatar a correlação entre a má qualidade do “espetáculo” em campo e a reação dos torcedores.

A instabilidade emocional dos grupos sociais nos jogos de futebol é proporcional ao desarranjo e à perda de controle dos órgãos responsáveis pela atividade. É reponsabilidade do mandante garantir as condições dos eventos.

O desmantelamento vai ao ponto de um jogador sem a consciência da situação ir comemorar, na frente da torcida adversária, em sua casa, o gol conquistado nos minutos finais de uma partida decisiva para ambos.

Não se trata de culpar o jovem, mas de se ter uma visão ampla do conjunto dos motivos que nos trazem a esse estado de coisas. É hora de “pisar firme com pés de veludo”, para não servir de “bucha” aos dirigentes irresponsáveis.

Felizmente, há também coisas boas que nos ajudam a suportar momentos difíceis, como o vice-campeonato do vôlei feminino, no sábado 15, nos Países Baixos. Embora os integrantes da delegação brasileira tenham se mostrado abatidos com a derrota para a Sérvia, por 3 a 0, eu vibrei muito com a campanha do time comandado por José Roberto Guimarães. Acho que foi um grande sucesso diante das circunstâncias que sempre devem ser observadas.

A trajetória da equipe foi vitoriosa e aponta para um futuro promissor. É importante manter a lucidez do caminho traçado. As imagens do congraçamento das jogadoras são sensacionais.

Numa situação comparável, o malogro da possível contratação de MBappé pelo Real Madrid, não consumada, foi abordada por Florentino Pérez, presidente do time espanhol, com um tom que passa bem longe da derrota.

Ele, ao contrário, aproveitou para elogiar a própria equipe: “O Real Madrid só foca nos jogadores que tem e estamos encantados com eles. Não estamos mal com o número de jovens atletas que possuímos. Temos um futuro muito promissor”, disse. “Rodrygo e Vinícius são dois craques que têm, ainda, toda a vida para prosperar. Vejo os dois como Bolas de Ouro”.

São, sem dúvida alguma, dois jovens craques que encantam pelo alto nível de seu desempenho.

O primeiro, pelo que mostra de excepcional em campo, apesar da aparência simples, despojada e da leveza do seu futebol no meio dos “monstros sagrados” do Real.

O segundo, pela forma exuberante e o desprendimento alcançados. Vinícius Jr. ter sido considerado o oitavo melhor jogador do mundo em 2022 é como o vice do vôlei. No mínimo, comparável à Bola de Ouro de Benzema – isso, obviamente, sem desmerecer em nada aquele que é de fato o maior destaque do futebol mundial.

Lembro aqui, repetindo o que disse PVC, que há 15 anos o Brasil não tem um nome entre os ganhadores da Bola de Ouro. E o que é pior: há 20 anos não vence uma Copa do Mundo. Está na hora. •

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1210 DE CARTACAPITAL, EM 1° DE JUNHO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Vitórias para o futuro”

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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