Opinião

Vitória da esquerda na Bolívia mostra que o mal tem vida curta

Milton Rondó: Resultado é de todos nós, anticolonialistas

Brasil ignora eleições na Bolívia enquanto líderes latino-americanos celebram vitória de Arce. Foto: RONALDO SCHEMIDT / AFP
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“Me emociono ao ver camisas e bandeiras do Che Guevara”.
Lionel Messi.

“Acima de tudo, procurem sempre sentir profundamente qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário”.
Che Guevara.

No momento em que recebemos a notícia – ainda oficiosa – da possível vitória das forças progressistas na Bolívia, Messi e o Che Guevara não poderiam ser mais atuais.

A Bolívia foi o país ao qual o Che Guevara entregou a própria vida, para a libertação de toda a América Latina.

De fato, em “Che – uma realidade”, edição que teve apoio da Associação Cultural Jose Marti, do RS, lemos a seguinte citação do Che: “Nasci na Argentina; não é segredo para ninguém. Sou cubano e também sou argentino e, se não se ofenderem os ilustríssimos senhores latino-americanos, me sinto tão patriota da América Latina, de qualquer país da América Latina, como qualquer outro e, no momento em que fosse necessário, estaria disposto a entregar minha vida pela libertação de qualquer um dos países latino-americanos, sem pedir nada a ninguém, sem exigir nada e sem explorar ninguém”.

Quantas personalidades e quantas lições de cidadania tem-nos dado a Argentina, pátria também da maior personalidade da atualidade, o Papa Francisco.

Vale notar que foi na Argentina que o presidente da Bolívia, Evo Morales, deposto por um golpe de estado, encontrou asilo e de lá, agora, comemora a vitória de seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS).

Com efeito, a vitória do MAS é de todos nós, anticolonialistas; vitória da união e da conscientização.

Uma vez, conversando com uma líder do MAS, ela me disse: façam como nós, estimulamos na Bolívia a formação de uma rede de rádios comunitárias, para dar voz e vez ao povo sofrido.

Infelizmente, não fizemos isso no Brasil e fomos vencidos pela mentira

Mas, como diria minha avó, a mentira tem perna curta e já vemos a rejeição recorde do pai de todas as mentiras, Jair Bolsonaro, em todo o país.

Fico orgulhoso de ver que a cidade onde moro apresenta a segunda maior rejeição ao genocida, dentre as capitais brasileiras, atrás da sempre gloriosa e aguerrida Salvador, terra de Marighella e da revolta dos malês.

Vamos pelo verso justo, Bolívia! Terra que honra o nome de Bolívar!

Iremos “con-versar”, pátria irmãzinha.

Juntos pela senda justa, na etimologia da palavra.

Estamos mais atrasados aqui no Brasil, mas nossa luta anticolonialista é a mesma e temos todos a história ao nosso lado.

Lembremos que em duas semanas as eleições nos EUA também deverão marcar a vitória do povo negro; dos latinos; das mulheres; da população LGBTQI+ e de todos que acreditam que outra cosmovisão, generosa e não competitividade, seja possível. Ainda há esperança para os humanos e para a política da vida, não a da morte, de Bolsonaro, Mourão, Guedes, Salles, Heleno, Damares, Tereza Cristina e Araujo.

Este último, claramente implicado no golpe de estado na Bolívia, carregará até o fim de seus dias mais essa mancha, hiato desastroso da política externa brasileira.

Com efeito, a vitória das forças democráticas na Bolívia demonstra que o mal pode prevalecer, mas tem vida curta, pois seu motor é a própria antítese da vida: a morte.

Dias contados tem este desgoverno, como tem o atrasado agronegócio brasileiro, cada vez mais rejeitado na Europa e, com a posse de Biden, também nos EUA.

Bem dizia o Che Guevara: “Não há fronteiras nesta luta de morte, nem vamos permanecer indiferentes perante o que aconteça em qualquer parte do mundo. A nossa vitória ou a derrota de qualquer nação do mundo é a derrota de todos”.

A América Latina vai-se firmando como continente democrático, embora o Brasil represente, atualmente, um bolsão de instabilidade e de belicosidade, haja vista os exercícios militares recentemente realizados na Amazônia, contra um hipotético “inimigo vermelho”. Além de inúteis e ridículas, as manobras queimaram mais de seis milhões de reais, no país que voltou ao mapa da fome, com mais de 14 milhões de desempregados.

Mas, ao contrário do que diz a história na versão dos vencedores, este é um povo de luta também.

A propósito, recomendo “Império Caboclo”, de Donaldo Shuller, das editoras Movimento e Universidade Federal de Santa Catarina.

A obra trata da Revolta do Contestado, ocorrida no Oeste de Santa Catarina, de 1912 a 1916, protagonizada por agricultores expulsos de suas terras por transnacional madeireira e coronéis locais.

Entre outras reflexões interessantíssimas, o autor relaciona a política interna da Velha República à externa, ao lembrar: “Em Haia, defendíamos em altos brados o direito das pequenas nações, e o que fizemos com os pequenos proprietários? Me diga o que pensava o Rui sobre os pequenos proprietários, os marginais, os pobres? Aí nasceu a ideia do império…Um império que não tivesse muita lei, um império em que cada um era dono do seu e podia pensar e ser o que quisesse, desde que não mexesse com os outros…Um Império Caboclo”. A reação não tardou: “Contra queixas, contra ideias, fuzis, metralhadoras e canhões”.

Apesar desses, temos novamente o Che Guevara: “Sonhe e serás livre de espírito…lute e serás livre na vida”.

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