Riad Younes

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Médico, diretor do Centro de Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e professor da Faculdade de Medicina da USP.

Opinião

Vitamina D e câncer: surge uma prevenção ao alcance do bolso

Há evidências de que a vitamina D pode levar à inativação de alguns genes que estimulam o crescimento e a multiplicação das células tumorais

(Foto: Pixabay)
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Mais de 600 mil novos casos de câncer são diagnosticados anualmente. No mesmo período, mais de 230 mil brasileiros perdem a vida por estes tumores malignos. O custo de cuidar de doentes portadores de câncer é muito elevado, e vem aumentando. Para prevenir mortes por câncer, uma estratégia adotada no mundo visa detectar o tumor em fase precoce, quando ainda ele é pequeno e totalmente curável. É a chamada detecção precoce. Os cientistas confirmam que sempre será mais eficaz e mais barato prevenir o aparecimento de tumores do que tratá-los.

Nesse sentido, acaba de ser publicado na revista Cancer Epidemiology um estudo realizado pelo doutor José Eluf Neto, liderando um time de pesquisadores da USP e de Harvard, que demonstrou que, de todas as mortes causadas por câncer, pelo menos 34% poderiam ser evitadas. As incidências de câncer de pulmão, de laringe, de orofaringe, de esôfago, de cólon e de reto poderiam ser reduzidas pela metade, caso os cinco fatores de risco – tabagismo, álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física – fossem eliminados.

Ao mesmo tempo, dois estudos tentaram identificar ações que poderiam reduzir as chances de pacientes com diagnóstico de câncer, depois do tratamento, apresentarem novos tumores e recidiva do câncer. Avaliaram o uso de vitamina D.  A doutora Renata D’Alpino, coordenadora da Oncologia Clínica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, fala sobre o papel da vitamina D no combate ao câncer gastrointestinal.

CartaCapital: Já se sabia que a vitamina D pode ter efeito anticâncer?
Renata D’Alpino: Há evidências de que a vitamina D, quando se liga ao seu receptor, pode levar à inativação de alguns genes que estimulam o crescimento e a multiplicação das células tumorais, além de promover a apoptose (morte programada) dessas células. Além disso, um estudo feito com o propósito de avaliar diferentes esquemas de tratamento em câncer de cólon metastático (que já se espalhou para outros locais) mostrou que pacientes que tinham níveis de vitamina D maiores apresentavam melhor evolução. O que a comunidade científica ainda não sabia é se realmente é a vitamina D que importa no controle do câncer ou se níveis mais altos de vitamina D na verdade refletem pacientes que estão mais bem de saúde por serem mais fisicamente ativos (tomam mais sol) ou por se preocuparem mais com a saúde (tomam suplementação de vitamina D) e, por isso, tinham resultados oncológicos melhores.

CC: Os especialistas passaram a prescrever a vitamina D em casos de câncer?
RDA: A maioria dos oncologistas tem incorporado a dosagem da vitamina D no sangue nos exames de rotina dos pacientes, e, caso esteja baixa, têm prescrito a reposição dessa vitamina, embora a dose ideal seja ainda desconhecida.

CC: Um estudo japonês foi publicado na revista Jama, avaliando o papel da vitamina D em câncer gastrointestinal. Quais são os resultados encontrados?
RDA: É um estudo com mais de 400 pacientes japoneses operados de câncer de cólon (intestino grosso), estômago ou esôfago, que foram comparados em dois grupos: um que suplementava vitamina D, 2 mil unidades/dia, e outro que apenas tomava placebo. Apesar de não significativo estatisticamente, os autores notaram que o grupo de pacientes que usou suplementação de vitamina D apresentou menor risco de o tumor voltar (77% livres de câncer em cinco anos, ante 69%).

CC: Um segundo trabalho desenvolvido nos EUA também estudou a vitamina D em pacientes com câncer colorretal. Quais são os resultados?
RDA: Trata-se de um pequeno estudo com 129 participantes que procurou avaliar se suplementar vitamina D em doses altas (4.000 unidades/dia, sendo que no primeiro ciclo era 8.000/dia) era melhor do que em doses baixas (400 unidades/dia) nos pacientes com câncer colorretal metastático. O grupo de pacientes que usou a dose maior de vitamina D demorou mais tempo para que o tumor aumentasse (média de dois meses mais), quando comparado ao grupo de menor dose.

 CC: Tendo em vista o conhecimento científico, existe hoje um papel da vitamina D no cuidado de paciente com câncer gastrointestinal?
RDA: Apesar de o papel real da vitamina D ainda ser desconhecido, devido à facilidade de uso e baixo risco de efeitos colaterais, tenho recomendado a suplementação de vitamina D para quem tem níveis baixos dessa vitamina no sangue, ou seja, abaixo de 30 ng/ml.

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