Esporte
Vida de ciganos
A ida de Messi para o Internacional de Miami, último colocado do campeonato americano, faz lembrar as aventuras de Pelé e de Zico


A semana que se encerra foi pródiga em acontecimentos no esporte. A começar pela espetacular campanha da tenista Bia Haddad, que encerrou sua passagem por Roland Garros enfrentando, nas semifinais, a número 1 do mundo, a polonesa Iga Swiatek.
O brilhante desempenho de Bia no torneio nos fez rememorar a grande Maria Esther Bueno (1939-2018) responsável, no tênis feminino, pelo ciclo dourado nas décadas de 1950, 1960 e 1970.
Chegando ao fim a temporada do futebol europeu, vem a anunciada “janela”, que deixa um fôlego para que a gente consiga absorver as tantas novidades em curso.
No que diz respeito ao troca-troca entre os mais valiosos jogadores do mundo, Lionel Messi surpreende e assina com o último colocado do campeonato americano, o Internacional de Miami.
O craque argentino aproveitou ainda para avisar que a Copa do Catar deve ter sido a sua derradeira.
Messi faz recordar as aventuras corajosas do rei Pelé, que foi desbravar o território norte-americano, e também de Zico, quando deixou o Flamengo para ir jogar no Udinese, clube do norte da Itália que tinha investimentos menores que o time brasileiro.
Cabe lembrar que, no passado, os norte-americanos levaram outros jogadores destacados para compor a corte do Pelé. Ou seja, logo devem vir mais novidades de Miami.
Guardadas as devidas proporções, eu mesmo tive de me reerguer no querido Olaria para, então, voltar aos clubes maiores. Nós, jogadores, sempre tivemos uma vida de ciganos.
Ainda no Paris Saint-Germain, Kylian Mbappé comunicou à direção que não vai renovar seu contrato com o clube.
Dentro do PSG, por outro lado, o que se ouve dizer é que o clube estaria disposto a negociar o brasileiro Neymar. Estariam os árabes desistindo da vencer uma Champions League? Pouco provável. Ou seja, vem coisa por aí.
Toda essa extraordinária movimentação dá a dimensão do quanto o esporte se valorizou no mundo dos negócios.
Temos árabes, americanos e chineses, ou seja, as maiores potências econômicas do mundo, disputando passo a passo os grandes clubes mundo afora. E não nos esqueçamos de que, em 2017, o agora falecido Berlusconi vendeu o Milan para a China.
No principal torneio de futebol do mundo, a Champions, a vitória do Manchester City, apesar da exigência a que foi submetido na decisão contra a Inter de Milão, acabou confirmando o favoritismo do time inglês.
O resultado reflete o trabalho criterioso e longo orientado, em campo, pelo excepcional técnico Pep Guardiola – que bem poderia passar uns tempos entre nós.
Falando nisso, o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, acompanha o fim da temporada europeia sondando de perto os melhores técnicos para dar início a um novo ciclo do nosso futebol.
Enquanto ele vai marcando conversas e avançando em negociações, a ansiedade toma conta de todos, principalmente dos interessados diretos, em particular, os técnicos.
Mas, ao que tudo indica, dificilmente o escolhido será um treinador “caboclo”. A preferência pelos estrangeiros fica explícita na quantidade incrível dos portugueses que, de novo, descobriram o Brasil.
Não é só a facilidade da língua que proporciona a invasão lusitana. Há muito tempo Portugal tem uma escola de treinadores respeitados pela qualidade de sua formação.
Resta saber como ficam os brasileiros que estão curtindo uma “bronca” gigante. O que salva nossa reputação é a declaração do agitado treinador palmeirense Abel Ferreira, que disse ter Telê Santana como inspiração.
Ao que a insistência indica, a preferência do presidente Ednaldo Rodrigues é pelo técnico italiano Carlo Ancelotti, de comprovada capacidade.
Embora ele, pelo seu nível de amadurecimento, soe mesmo como o nome mais indicado, me parece que, dificilmente, em sua posição privilegiada, Ancelotti aceitaria trocar o maior clube de futebol do mundo, o Real Madrid, por uma “aventura” tropical. Mas, obviamente, tudo é possível. E o Real não ganhou o campeonato espanhol.
No meio dessa discussão, sou levado a lembrar a firmeza da Asociación del Fútbol Argentino (AFA) ao formar a comissão técnica da seleção que, com todos os méritos, levantou a taça do mundial do Catar no ano passado.
Ressalto aqui que o treinador do grupo, Lionel Scaloni, estava há tempos orientando a base de onde saiu boa parte do time campeão. •
Publicado na edição n° 1264 de CartaCapital, em 21 de junho de 2023.
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