Alguns editoriais dos jornais brasileiros insistem em rotular qualquer proposta de desenvolvimento que postule algum papel ativo do Estado de “atrasada” e “ultrapassada”, superada no debate econômico e na prática dos principais países do mundo. O “moderno” seria uma visão neoliberal de Estado meramente regulador, com uma política macroeconômica somente voltada para a estabilidade de preços e promotor de políticas sociais bastante focalizadas. A adoção de políticas de reestruturação produtiva ou o financiamento público ao investimento são itens proibidos no linguajar dos editorialistas.
O maior inimigo desse discurso é a realidade. Quem acompanha o debate sobre desenvolvimento econômico e as políticas públicas mundo afora sabe que essa visão “moderna” saiu de moda por volta de 2008. Até ensaiou-se um comeback no início da década de 2010, mas logo se tornou démodé novamente, em particular após a pandemia. Nos mais diferentes países do mundo, o que assistimos é um retorno do Estado planejador, indutor e até mesmo investidor. Seja como resposta ao agressivo modelo chinês, onde empresas estatais e bancos públicos jogam um papel-chave, seja como constatação do fracasso do modelo neoliberal em gerar crescimento, promover distribuição de renda e sustentabilidade ambiental, o debate sobre o papel do Estado e da política fiscal passou por uma profunda transformação na última década.
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