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Opinião

UNE: A resistência indígena contra o apagamento da história

Estudantes relatam as lutas, na vida e na universidade, dos povos originários

Tel Guajajara e Victor Pataxó
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Por Tel Guajajara e Victor Pataxó

Pindorama era o nome do Brasil antes da invasão portuguesa. Os povos que aqui viviam tinham a terra como sagrada, longe de doenças e de todos os males, um lugar onde o sagrado e todos os rituais eram feitos.

 

Todos andavam pelo centro da mata e iam até a praia para se utilizar da pesca e bacunhar (pegar) mariscos e frutas. Era uma terra de muitas riquezas e farturas, cuidada por todos que aqui viviam.

Mas o território cheio de riquezas e belezas foi invadido e, com isso, passou a perder a história e o seu povo.

O dia 22 de abril de 1500, que para alguns é a comemoração do “descobrimento do País”, para nós, povos originários, é só mais uma data de “descomemoração” do massacre e da escravização. É, também, o início da grande destruição da nossa mãe natureza, que é o grande elo que temos com nosso Encantado.

Eis a primeira inversão da história contada nas escola: a Pindorama foi criada em cima do sangue de centenas de povos e raízes arrancadas dessas terras.

A Pindorama não era só a terra de Palmeiras, era também o elo que tínhamos com a mata e com toda a terra sagrada que hoje sofre ataques dos descendentes dos mesmos europeus que invadiram nossas terras, nos matando em busca de poder.

Nós, povos originários, viajávamos por todo o País, cuidando das terras, das matas, e sendo guardiões da imensidão verde que aqui existia, esses diversos povos, com diversas culturas, e, que, atualmente, só podem ter como seus 11,6% de 8.514.876 km² do território nacional.

O apagamento da cultura indígena acontece hoje não apenas limitando a terra, mas com o descaso da inserção dos indígenas ao emprego e à educação.

Com a política de cotas, incluindo a reserva de vagas para indígenas, o acesso ao Ensino Superior cresceu mais de 50%. As propostas de orçamento para o 2021 – que se aprovadas vão cortar mais de 180 milhões de reais da assistência estudantil – tendem novamente a criar um abismo na universidade a estudantes que precisam de políticas de permanência para concluir a graduação.

Por isso, alertamos que o processo de colonização acontece até os dias de hoje.

Seguimos como resistência para demarcar, além dos nossos territórios, nossa história, cultura.

Aqui, propomos uma reflexão: qual Brasil você conhece? Como a história dos povos originários é retratada nos seus livros escolares?

Para analisar esse apagamento histórico, basta olhar para como fomos ‘ensinados’. É válido lembrar que os colonizadores usam todas as ferramentas para apagar a nossa história. Por isso, precisamos estar sempre alinhados a uma educação diferenciada para que possamos desconstruir e garantir uma atenção especial, que historicamente nos foi negada.

Sofremos ainda com essa cicatriz infligida, de povos bárbaros, sem almas e selvagens. O chão que o Brasil foi construído debaixo de sangue e dores é indígena.

Pautar as nossas lutas observando o que foi esse território é o mais importante.

Nesta terra, travamos muitas conquistas e derrotas, mas nenhuma delas fará esquecer de que precisamos estar em todos os espaços possíveis de ocupação, para que consigamos mostrar, de fato, quem somos e como chegamos vivos até aqui.

A luta é urgente, seguiremos (r)existindo aos mais diversos ataques contra nosso povo.

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Tel Guajajara é estudante de Direito da UFPA (Universidade Federal do Pará)

Victor Pataxó é estudante de Produção em Comunicação e Cultura da UFBA (Universidade Federal da Bahia)

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